Perigo

Comporta da Barragem do Bacanga desaba e Defesa Civil monitora área

Rompimento ocorreu na quinta-feira, mas ainda não foram registrados alagamentos em áreas de risco próximo à barragem; até ontem a maré só havia se aproximado um pouco de moradias construídas em meio ao mangue

Atualizada em 11/10/2022 às 12h54

A comporta da Barragem do Bacanga se rompeu na última quinta-feira, dia 17, deixando a água entrar e sair no Rio das Bicas, sem nehum controle. Desde então, Defesa Civil Estadual, Corpo de Bombeiros e Exército fazem vistorias em locais de risco de alagamento na região e articulam um plano de ação para retirada de famílias, se necessário. Na área do Sá Viana, a água ainda não atingiu casas.

Desde o rompimento da comporta, a água do mar está entrando e saindo do rio sem nenhum controle e, como há várias áreas consideradas de risco, com a possibilidade de alagamentos, foi criado inicialmente um clima de preocupação, principalmente entre as comunidades da região. Mas ainda não foram registradas ocorrências com a maré alta desde o ocorrido.

Segundo o coronel Izac Matos, coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil, parte dos bairros Sá Viana, Piancó e Jambeiro são as áreas mais vulneráveis para alagamentos. Mas ele garantiu que não há o risco. “Se houvesse chuvas e a comporta estivesse fechada, haveria um risco de alagamento. Como a comporta está aberta, há um fluxo normal de entrada e saída de água”, destacou.

Ainda de acordo com o coronel, o Governo do Estado está providenciando um dique para evitar que a água entre sem controle, diminuindo assim o volume de água da lagoa. “Com a construção do dique, esse trabalho vem para evitar que se acumule muita água e por consequência ocorra um alagamento. O dique é essencial para o serviço de recuperação da comporta. Sem ele, vai ficar inviável realizar a obra”, explicou.

Precaução
Enquanto as providências são adotadas, a Defesa Civil Estadual está monitorando a região e articulando um plano de ação para o caso de uma possível retirada de cerca de 400 famílias que moram nas áreas de risco. “Se houver qualquer ocorrência, estamos preparados para uma ação de remoção dessas pessoas. A logística já está preparada. No momento, não exis­te esse risco. Por isso, estamos ava­liando constantemente e principalmente nos pontos máximos da maré. A Defesa Civil Municipal já mapeou essa área e mobilizamos o Exército Brasileiro para em alguma eventualidade podermos acioná-lo e fazer a remoção das pessoas”, ressaltou.

No Sá Viana, são poucas as casas e casebres das quais a água se aproxima quando a maré atinge seu ponto mais alto.

Na 3ª Travessa Professor Nascimento de Moraes, os moradores já enfrentaram alagamentos. O último aconteceu em 2014. Depois do rompimento, o clima de medo já passou entre os moradores como Silmara Cruz. “Estamos mais tranquilos, porque pelo menos não está chovendo. A água não sobe tanto”, afirmou.

Para Eliosmar Moura Pinto, moradora da Avenida Thomas de Aqui­no Andrade, no Sá Viana, a preocupação é com o serviço que está sendo realizado na barragem. “Aque­las pedras que estão colocando não vão resolver. Vai represar a água e se isso acontecer fica um mau cheiro para a comunidade, porque a água não corre”, disse.

Histórico
No fim da década de 1960, com o surgimento do Porto do Itaqui, houve a necessidade de diminuir a distância entre o porto e o centro da capital maranhense, de 50 km para 8 km. Entre 1966 e 1967, o projeto de criação da Barragem do Bacanga foi feito pelo governador José Sarney e iniciado em 1969 e finalizado em 1970.

Vários pontos foram levados em consideração durante processo de construção da barragem. Foi necessário fechar o rio em sua foz. Inicialmente, a barragem tinha 10 comportas, seis pequenas, três médias e uma grande. Posteriormente, algumas delas fo­ram fechadas. As portas funcionam para fazer o manejo do rio para o mar e vice-versa. A falta de manutenção constante na barragem e suas comportas e o intenso fluxo de veículos sobre ela todos os dias prejudicam a estrutura.

A Defesa Civil Municipal já mapeou essa área, e mobilizamos o Exército Brasileiro para, em alguma eventualidade, podermos acioná-lo e fazer a remoção das pessoas” coronel Izac Matos Coordenador estadual de Proteção e Defesa Civil
Crea já havia constatado comprometimento

O rompimento da comporta da Barragem do Bacanga confirmou a constatação feita pelo Con­selho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MA), quan­do da vistoria realizada por órgãos de engenharia e meio ambiente e profissionais do setor no dia 28 de agosto. O conjunto está comprometido pela falta de manutenção periódica ao longo dos anos de existência da obra.

O rompimento foi constatado pela equipe de técnicos do Crea-MA e alertado por líderes comunitários de bairros ameaçados de alagamento. A superintendente do conselho, engenheira agrônoma Rita de Cássia Neiva Cunha, e os engenheiros Wesley Assis (me­cânico), Geraldo Lago Filho e César Rafael (civil) avaliaram os riscos de um rompimento maior.

Os profissionais foram surpreendidos em meio à elaboração de laudo da visita, na parte que coube ao conselho. A situação crítica das comportas – narrada com rigor técnico –, segundo o Crea, pode alagar os bairros Vila Embratel, Coroadinho e Sá Viana, podendo estender-se a outras áreas densamente habitadas da região.

As constatações e os dados constantes do laudo da vistoria e da visita técnica quando do rompimento integrarão documentos que serão apresentados e analisados em reunião de profissionais e órgãos públicos e privados comprometidos com a obra. O encontro reunirá membros de conselhos públicos e comunitários envolvidos com infraestrutura e meio ambiente. Esperam todos fixar um plano de metas para prevenir uma grande tragédia urbana.

Ao observar o quadro, um engenheiro, que preferiu não se identificar, comentou a situação. “Uma edificação é planejada e construída para aten­der seus usuários por muito tempo. Para garantir este uso, necessária se torna a prática constante da manutenção. Se assim não for procedido, a longevidade útil do conjunto estará comprometida”.

Ele complementou seu raciocínio alertando que, com o passar dos anos, registra-se o envelhecimento da estrutura - ins­talações e equipamentos -,
obrigando a procedimentos de manutenção e prevenção do bem. Ele conclui que essa providência é que garantirá a segurança, o conforto e o respeito ao investimento do empreendimento. “Es­ses serviços exigem empresa e profissionais habilitados para lidar com esse tipo de estrutura”, finalizou.

DIQUE: O QUE É
Como as represas e as barragens, o dique tem uma função simples, mas muito importante: conter a água. As represas e as barragens são construídas para evitar que rios e lagos inundem terras baixas durante as chuvas fortes. Os diques são geralmente construídos para recuperar terras que ficariam alagadas em condições normais.

Estrutura - Os diques podem ser feitos com terra, concreto ou pedras empilhadas ao longo das margens da massa de água que será contida. Eles devem ser resistentes o suficiente para não ruir nem se desgastar sob a pressão da água. A crista de diques e represas feitos com terra normalmente é coberta com grama, para que a terra não desmorone.

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