Série Becos

Beco marca início do crescimento econômico da cidade de São Luís

Construção de casarões coloniais que simbolizaram o passado de opulência começou pelo Beco da Prensa, batizado com esse nome por ter sido instalada naquela via a primeira prensa de algodão da capital, do empresário João Gualberto

Jock Dean/ Da equipe de O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h57

O bairro da Praia Grande e a área ao redor, conhecida como Centro Histórico de São Luís, guardam os primórdios da construção da cidade e um passado de opulência. Mas toda essa herança arquitetônica não veio com a chegada europeia a São Luís. Somente a partir da segunda metade do século XVIII, mais de cem anos depois da fundação da cidade, é que os grandes casarões coloniais azulejados que caracterizam a paisagem patrimônio mundial da humanidade começaram a ser erguidos, graças ao desenvolvimento da exportação algodoeira na capital maranhense que teve início no Beco da Prensa, espaço que hoje em nada lembra esse passado de opulência.
É Luiz Phelipe Andrès, autor do Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico de São Luís, quem chama atenção para o fato de que até o fim da primeira metade do século XVIII o atual Centro Histórico de São Luís não se assemelhava ao que conhecemos hoje, o que pode ser verificado em outro dos becos mais conhecidos de São Luís, o da Pacotilha. “Na lateral do casarão que dá nome ao beco, tem uma placa que marca o ano de 1756. Este foi um dos primeiros casarões construídos em São Luís”, disse. O casarão a que ele se refere é o imóvel conhecido como Solar dos Belfort, na Avenida Magalhães de Almeida, e que abrigou a sede do jornal A Pacotilha, que deu nome ao beco.

Começo - O Beco da Prensa foi aberto por João Gualberto da Costa, a quem se deve a inauguração da primeira prensa de algodão de São Luís, a Prensa da Costa. O beco foi aberto justamente para a instalação da primeira prensa de algodão que se instalou no Maranhão. Como todos os outros, tinha a função de encurtar caminhos entre as principais vias da Praia Grande. Iniciando-se na Rua de Estrela, ele é uma continuação da Rua 14 de Julho, que também recebeu o nome de Rua da Relação e hoje segue até a Avenida Beira-Mar, no trecho que margeia o Rio Bacanga.
Grande centro polarizador do comércio maranhense, a Praia Grande foi, nos séculos XVIII e XIX, a sede das primeiras atividades econômicas de médio e grande porte do estado. Ali se instalaram grandes firmas comerciais, que abasteciam São Luís e o interior do Maranhão. Era também um dos maiores pontos de recepção de escravos para as fazendas de algodão ou para trabalharem em benefício da aristocracia rural, que passou a habitar os grandes sobrados daquele espaço de opulência e riqueza.

Crescimento - As exportações do algodão em maior volume, a partir da segunda metade do século XVIII, tiveram relação direta com a crescente demanda industrial europeia. A primeira remessa deu-se em 1760, totalizando 651 arrobas de plumas de algodão arbóreo, perene, de fibras mais longas. Em 1778, outras colônias, como Piauí e Ceará, se tornaram importantes produtoras. Com a morte de dom José e o banimento da corte do Marquês de Pombal, Dona Maria I, que substituiu o pai no trono lusitano, mandou publicar um alvará extinguindo todas as indústrias manufatureiras do Brasil que competiam, com vantagem, com as de Portugal.

Importância - Após a liberação, o Maranhão voltou a ser um grande produtor-exportador, entre 1796 e 1806, ganhando ainda mais importância econômica em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil e a abertura dos portos brasileiros às nações estrangeiras. Nessa época, a capital maranhense tinha grande importância econômica no Brasil. “São Luís chegou a ser a quarta cidade mais importante do Brasil, ficando atrás apenas de Rio de Janeiro, capital do país a partir da chegada da família real portuguesa, Salvador e Recife. Esse passado de riqueza reflete-se nos grandes casarões coloniais e armazéns de ruas como a Portugal, e nas escadarias em pedra de lioz como a do Beco Catarina Mina”, explicou Luiz Phelipe Andrès.
No início da década de 60, com o surgimento da política do Governo Federal de interligar as capitais brasileiras por meio de rodovias, a estrutura comercial da Praia Grande declinou. Hoje, o Beco da Prensa é nada mais que uma viela sem grande destaque na paisagem urbana da área. Estreito e de forte declive, ele tem seus momentos de maior movimento nas noites de sexta-feira e sábado, quando uma das mais populares boates LGBTs da cidade, que funciona em um casarão situado no local, abre suas portas.

Mais

João Gualberto da Costa não foi apenas o empresário a instalar a primeira prensa de algodão de São Luís. Lisboeta, ele foi ainda o primeiro presidente da Associação Comercial do Maranhão (ACM), fundada em 21 de agosto de 1854. João Gualberto foi homem instruído e de intensa atividade empresarial no ramo algodoeiro. A ele deve-se ainda a primeira fábrica a vapor para pilar arroz, que se chamava Feliz Empresa. Aos 60 anos, João Gualberto também atuou na área de abastecimento de água da cidade, atividade monopolizada por Ana Joaquina Jansen Pereira (Ana Jansen), uma das mais importantes comerciantes da província, então conhecida como “Rainha do Maranhão”.

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