10 anos da explosão do CLA

Centro de Lançamento de Alcântara: 10 anos depois

CLA busca retomar os projetos de grande porte no Brasil e planeja o desenvolvimento da evolução do VLS.

Bruna Castelo Branco / O Estado

Atualizada em 27/03/2022 às 12h04

SÃO LUÍS - Eram 13h26 do dia 22 de agosto de 2003. Nesse dia, um incêndio mudou de forma drástica os rumos do Programa Espacial Brasileira, com 21 mortes de técnicos do Comando Técnico Aeroespacial e uma longa pausa nas atividades aeroespaciais de grande porte desenvolvidas pelo país. Naquela tarde de 2003, no Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), os profissionais trabalhavam dentro da Torre Móvel de Integração (TMI), a plataforma de lançamento do Veículo Lançador de Satélites (VLS) da qual o foguete deveria fazer seu primeiro voo marcado para três dias depois da tragédia. A atividade representaria uma tentativa do país de qualificar um lançador de grande porte capaz de colocar satélites em órbitas geoestacionárias.

Dez anos depois da tragédia, o Brasil se prepara para retomar as atividades com o VLS, a partir do ano que vem. A previsão é que em 2014 aconteçam dois lançamentos do veículo. O voo completo deve ser realizado em 2015. Depois desse processo, o foguete seria considerado qualificado para outras atividades, inclusive, lançamentos comerciais. Paralelamente às atividades do VLS, o Brasil já planeja a evolução do foguete, com desenvolvimento de novos modelos.

Calendário

De acordo com o cronograma do Programa Nacional de Atividades Espaciais, divulgado pela Agência Espacial Brasileira (AEB), as atividades de grande porte retomam definitivamente a partir do ano que vem, não só com o VLS, mas com a preparação desses outros foguetes.

Em 2015, ocorrerá o voo completo que deve levar a bordo uma carga útil (experimentos científicos a serem testados no espaço). Entre 2016 e 2017, se todas as atividades programadas forem bem-sucedidas, o foguete receberá a qualificação, o que dará ao Programa Espacial Brasileiro o aval para a fabricação da sequência da família do VLS, com os modelos VLS-Alfa e VLS-Beta.

Esses novos modelos já se encontram em fase de desenvolvimento de projeto, e a previsão de lançamento é 2018 e 2020, respectivamente. Durante as etapas de fabricação, é de interesse do Brasil estabelecer parcerias com outros países em atividades de consultoria tecnológica. “Os projetos desses lançadores já estão concebidos, mas é claro que uma tecnologia complexa não demora menos de 10 anos para a concepção, pois não se trata apenas de desenvolver o foguete, temos que dominar todos os estágios. Nós estamos estudando os países estratégicos para uma parceria em consultoria. Lógico que escolheremos o melhor para a gente. A nossa intenção mesmo é desenvolver em conjunto, ter esse intercâmbio de conhecimento”, define o presidente da AEB, José Raimundo Coelho, em entrevista exclusiva a O Estado.

Em 2015, além das atividades com o VLS, a AEB planeja, ainda, atividades com o Veículo Lançador de Microssatélite (VLM), um lançador que tem a parceria com o Programa Espacial da Alemanha. O objetivo desse programa é dotar o país de capacidade de acesso ao espaço, com meios e recursos próprios, além de explorar o nicho de mercado para lançamentos comerciais de microssatélites. Em sua primeira versão, o foguete de três estágios movido a combustível sólido tem capacidade prevista de lançar 150 kg de carga útil em órbita baixa.

No entanto, aquele dia de agosto que resultou na morte dos técnicos ainda é uma ferida aberta para quem trabalha nas atividades espaciais. “É muito difícil falar que o Programa Espacial está totalmente recuperado quando perdemos 21 profissionais. Todos eles eram nossos colegas. Reafirmo o nosso sentimento de perda e sempre fico emocionado toda vez que falo sobre esse assunto. Foi uma lição muito dura que tivemos e nos trouxe aprendizados. A nossa nova torre é o que se pode chamar de mais moderna em termos de segurança e tecnologia para lançamentos e que pode se adaptar a outros tipos de lançadores, não só a família VLS, mas o que chama atenção são os cuidados com a segurança” declarou o presidente da AEB.

Correlata

Acidente aconteceu na montagem do foguete.

No momento do acidente, os técnicos faziam procedimentos para preparar o lançamento do foguete - que precisa ser montado dentro da plataforma - quando, inesperadamente, o foguete foi acionado, e começou o incêndio. Não houve tempo para fuga, e o modelo da plataforma na época não possuía alternativas de um sistema de escape, e os profissionais ficaram presos. O incêndio demorou cerca de três minutos e, depois, o cenário era de destruição e desespero.

“Ouvimos uma ignição. Aí, eu olhei para trás, falei ‘caramba...’ Aí, foi o desespero, só vi queimando lá aquele foguete lá, pensei, puxa vida, minha equipe lá. Três estão lá dentro. E a torre queimando”, disse José dos Santos Ferreira, sobrevivente do acidente, em entrevista ao programa "Fantástico" da Rede Globo, exibido no dia 4 deste mês.

Os laudos oficiais, divulgados pelo Instituto da Aeronáutica sobre o acidente, atestam que uma pane no sistema elétrico provocou o acionamento dos motores. Essa seria a terceira tentativa de o Brasil tentar realizar o experimento com um veículo lançador de satélites, a primeira ocorreu em 1997, quando o foguete chegou a ser lançado na operação denominada "Brasil". Na operação, o protótipo transportava um Satélite de Coleta de Dados (SCD- 2 A), mas, durante os primeiros segundos de voo, devido a uma falha na ignição de um dos propulsores do 1º estágio e para evitar uma queda fora da trajetória, foi acionado o comando de autodestruição.

A segunda tentativa foi realizada dois anos depois. Em dezembro de 1999, durante a operação Almenara, foi realizado o segundo voo. Naquela ocasião, o VLS levaria a bordo um satélite científico desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas por causa de outra falha no sistema pirotécnico, dessa vez no segundo estágio, também houve a necessidade da autodestruição.

Em 2003, ocorreria a terceira tentativa de lançamento na missão denominada "Operação São Luís", que tinha como objetivo colocar dois satélites em órbita a 750 km de atitude. Os satélites eram do Inpe e da Universidade do Norte do Paraná.

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