Análise

Crítica: "Ghost Stories", a nova fase do Coldplay

Disco mais recente do grupo é mais eletrônico e foca nas dores do fim de um relacionamento.

Gustavo Sampaio/Na Mira

Atualizada em 27/03/2022 às 11h53

SÃO LUÍS - “Bones sinking like stones/ All that we fought for/ Homes, places we've grown/ All of us are done for/ And we live in a beautiful world/ Yeah we do, yeah we do" (Ossos afundando como pedra/ Tudo por aquilo que lutamos/ Lares, lugares que criamos/ Todos nós estamos acabados/ E nós vivemos num belo mundo/ É, vivemos, é vivemos). Era assim como o vocalista do Coldplay expressava a sua concepção de amor na faixa "Don't Panic", na estreia do grupo, em 2000, com "Parachutes". O espetacular mundo de Chris Martin deu uma reviravolta. E a história não é recente. Existem capítulos extensos, tal qual um filme da Sessão da Tarde, recheados de "confusão e emoção", que só o vocalista do Coldplay pode contar. Em "Ghost Stories", o novo disco da banda, Chris encarna um personagem mais sombrio, mas com pitadas de esperança.

O fim do casamento com a atriz Gwyneth Paltrow e as exaustivas turnês dos últimos anos tirou a paz de Chris Martin. O resultado, segundo o músico, foram as composições do que viria a ser este novo álbum. A espacial e emotiva "Always In My Head" nos remete ao já citado "Parachutes": simples, com bons arranjos e emocionante sem a necessidade de ser um hit radiofônico ou emendando com repetições silábicas.

"Magic", primeiro single deste novo registro, também economiza nos arranjos, e nos apresenta um Coldplay mais eletrônico, menos catártico e, entretanto, mais eficiente que em várias canções dos discos anteriores "Viva La Vida", de 2008, e "Mylo Xyloto", de 2011. A canção lembra um pouco a estreia recente de Lorde em "Pure Heroine", na mescla de pop e Hip-Hop, com pitadas de rock. O que se torna recorrente na melosa "Ink" e na romântica "True Love".

Gêneros

Apesar do flerte com gêneros antes não tão recorrentes nos discos do Coldplay, a banda não tenta soar grandiosa em quase nenhuma parte de "Ghost Stories", com exceção da parceria com o DJ Avicii em "A Sky Full Of Stars". No restante do álbum, não existem espaços para hinos, como "Viva La Vida"; hits de autoajuda como "Paradise"; ou arranjos mais roqueiros, bem mais presentes nos dois primeiros discos, como na faixa "Politik".

O atual Coldplay é um "novo Coldplay". Apesar de soar como "o velho Coldplay de sempre" em "Midnight", a clássica faixa que só encorpa o restante do CD, e em "O", que lembra bastante a fase "X&Y", a banda estabelece um lugar comum entre as faixas, sem espaço para inovações que não tenham marcado o ouvinte desde os segundos iniciais de "Always In My Head". Logo, "Another's Arms", "Oceans" e "All Your Friends" acabam preenchendo o mesmo pacote.

O folk inesperado de "Ghost Story", antes da desnecessária segunda parte de "O", encerra em grande estilo este disco. É rock? Não. Eles fogem um pouco do estilo dos últimos registros? Sim. E isso é ruim? Também não. "Ghost Stories" acabou pegando de surpresa os fãs mais relapsos da banda, que não notaram algumas mudanças nos últimos discos. Não é o melhor álbum deles, mas a mudança de rumos não compromete nenhuma parte da trajetória do grupo até então.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.