SÃO LUÍS - Na mesa, a torta maranhense ocupa o centro, dourada e recheada com camarão seco, enquanto o arroz de cuxá espalha pelo ar o cheiro da vinagreira fresca. Ao lado, uma cuia de juçara divide espaço com farinha d’água e peixe frito. A cena poderia ser de uma festa de família, mas também está nos cardápios de restaurantes históricos, nas bancas do Mercado das Tulhas e na memória de quem cresceu em São Luís.
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Entre azulejos coloniais, o som do reggae que ecoa nas ruas e as cores do Bumba-Meu-Boi, a culinária ludovicense é um dos principais símbolos de memória e identidade da Ilha do Amor. Feita a muitas mãos, carrega séculos de história. Dos povos indígenas que batizaram o beiju e ensinaram o uso da mandioca, às cozinheiras negras que venderam peixe com arroz de vinagreira como forma de sustento no pós-abolição. Dos portugueses que introduziram a tradição das tortas aos sírios e libaneses que ajudaram a popularizar o arroz.
A pesquisadora Ana Letícia Burity, autora da pesquisa “CULINÁRIA MARANHENSE: a Identidade Alimentar na capital do Maranhão sob o olhar dos frequentadores das áreas turísticas” (2014), iniciou o estudo após observar situações curiosas durante visitas a restaurantes e feiras: pratos típicos eram frequentemente substituídos por preparações fora do repertório local ou combinados com outros ingredientes para turistas.
Segundo ela, a gastronomia local sempre esteve ligada ao sentimento de pertencimento: “O maranhense tem orgulho de ser quem é. Isso se reflete no comer, no dançar, nas referências religiosas e nos sabores que se repetem de geração em geração”, diz. Para ela, pratos típicos não são apenas receitas, são histórias contadas em cada panela, heranças familiares que resistem mesmo quando se modernizam os modos de preparo ou se trocam as travessas de alumínio por peças de vidro.
Afinal, o que faz um prato ser típico?
Um prato típico não é apenas uma receita tradicional. Ele representa uma cultura, uma região e uma história, com ingredientes locais e técnicas passadas de geração em geração. A singularidade de cada receita também se revela na forma de preparo, nos temperos e na maneira de servir, elementos que tornam cada prato reconhecível e parte de uma identidade.
Ao longo dos 413 anos de São Luís, pratos como o arroz de cuxá, a torta de camarão, a peixada, o sururu ao leite de coco e o beiju se firmaram como símbolos da cidade. Cada um deles é uma narrativa: a vinagreira trazida pelos africanos, a mandioca cultivada pelos povos originários, e o uso criativo do camarão seco pelos portugueses com suas técnicas de assar e refogar. Comer em São Luís é também visitar a história da cidade, uma história que se sente no paladar.
Patrimônio cultural
Cada aniversário de São Luís reforça não apenas a trajetória da cidade, mas também de seus sabores. A culinária ludovicense é considerada patrimônio cultural, guardando memórias e práticas que atravessam o tempo. Como lembra Ana Letícia Burity: “Um povo que não tem tradição, não tem história. Um povo que não tem história, não existe mais.” Pratos como o arroz de cuxá e a torta de camarão mantêm vivas as contribuições de indígenas, africanos, portugueses e imigrantes que formaram a identidade da capital maranhense. Comer em São Luís é, em muitos aspectos, revisitar sua história.
Faça uma visita aos sabores que marcaram os 413 anos de história de São Luís do Maranhão:
Torta de camarão típica maranhense
Saiba como preparar arroz de cuxá maranhense
Aprenda a preparar um delicioso beiju de coco
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