Flanelinhas

Flanelinhas mais antigos do "Reviver" falam sobre a profissão

José Raimundo e José Reinaldo são flanelinhas há mais de trinta anos.

Daniel Moraes / Imirante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h52

SÃO LUÍS - Em toda a região metropolitana de São Luís, numa área de aproximadamente 3.578 quilômetros quadrados, apenas 600 guardadores de carro possuem registro profissional. O restante desses trabalhadores atua na ilegalidade, e corre o risco de ser detido por exercício ilegal da profissão.

Mas esse não é o caso de José Raimundo Nunes e José Reinaldo Diniz. Os dois possuem registro e trabalham, há mais de trinta anos, na área onde, hoje, está localizado o Projeto Reviver. Quando lá chegaram, ainda não existiam as casas de venda de artesanato, bares ou restaurantes. Todo o fluxo de pessoas do local era centralizado na Feira da Praia Grande, que, na época, ainda era conhecida como “Casa das Tulhas”.

 José Reinaldo mostra seu antigo crachá de flanelinha, o novo ainda está sendo confeccionado. Foto: Daniel Moraes
José Reinaldo mostra seu antigo crachá de flanelinha, o novo ainda está sendo confeccionado. Foto: Daniel Moraes

“Nós chegamos aqui antes do governo Cafeteira. Tá vendo esse prédio azul aí do lado [prédio do Viva Cidadão], o Banco do Brasil, a Casa do Maranhão? Nada disso existia quando a gente chegou”, conta José Raimundo.

Os dois “Josés” começaram a trabalhar como flanelinhas no distante ano de 1982, quando ainda eram dois garotos de 14 anos. Hoje, com 46, ao contrário do que muitos possam imaginar, os mais antigos flanelinhas da região parecem satisfeitos com a vida que levam.

José Reinaldo Diniz é o atual presidente de uma associação de sigla quase impronunciável: a ALGCER, que, por extenso, fica Associação dos Lavadores, Guardadores e Manobristas do Projeto Reviver. Segundo ele, o flanelinha é essencial para a cidade e contribui com o turismo local.

“Olha o tamanho desse estacionamento. Não é muito grande e nunca tem lugar pra todo mundo. O turista vem aqui, dá três voltas, não encontra nenhuma vaga, fica frustrado e vai embora. Mas a gente aqui sempre dá um jeito de encaixar todo mundo. As autoridades e o povo têm que ver que o flanelinha não quer ser dono da rua. O que a gente faz é ajudar a população e o turismo”, diz José Reinaldo.

Pergunto sua opinião sobre o motivo de tantos flanelinhas ainda trabalharem de forma irregular.

“O que acontece é que, como em todas as profissões, existe gente que não presta. Esses que dão papelzinho com preço da vaga, que brigam com o motorista quando ele não quer pagar, que riscam os carros das pessoas, não são trabalhadores de verdade. Esses nunca vão querer ter nome e endereço no Sindicato dos Flanelinhas, porque sabem que o Sindicato trabalha em conjunto com a polícia, e muitos deles têm ficha na polícia. Hoje, só não tem registro quem não quer ter”, afirma.

 José Reinaldo mostra o certificado que recebeu ao participar de curso para especialização dos flanelinhas. Foto: Daniel Moraes
José Reinaldo mostra o certificado que recebeu ao participar de curso para especialização dos flanelinhas. Foto: Daniel Moraes

Ele também conta que muitos guardadores não estavam levando a sério a operação da Polícia Civil contra flanelinhas irregulares. “Depois que eles viram que a polícia não tava de brincadeira é que começaram a se mexer. Agora quase todo dia aparece um aqui me perguntando como fazer pra se regularizar”.

O movimento de automóveis na área é intenso. Enquanto converso com José Reinaldo, o outro José [o Raimundo] cuida dos carros que vêm e vão a todo o momento. Paro um minuto para observá-lo. Antes de sair em direção a qualquer automóvel, ele sempre faz a mesma pergunta ao outro José: “esse é meu ou teu?”. Dessa vez, era “seu”. Ele ajuda uma mulher numa caminhonete a sair de uma vaga apertada. Quando finalmente consegue sair, ela o chama e explica constrangida que não vai poder pagar nada naquele momento. Ele, então, responde sorridente: “Sem problemas. Pode ir”. Ela vai, prometendo dar algum trocado da próxima vez.

Foto: Daniel Moraes
Foto: Daniel Moraes

Os dois dizem que o tratamento é o mesmo para todos os motoristas. “Não importa se a pessoa dá algum dinheiro ou não, o respeito é o mesmo. Ninguém é obrigado a pagar nada. É assim que um profissional de verdade faz”, conclui José Raimundo.

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