Flanelinhas

Flanelinhas: a corrida diária por uns "trocados"

Guardador de carros revela que consegue em média R$ 30 por dia.

Neto Cordeiro/Imiriante.com

Atualizada em 27/03/2022 às 11h52
 Carros estacionados na Rua do Egito, no Centro. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Carros estacionados na Rua do Egito, no Centro. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.

SÃO LUÍS - Situações como na imagem acima são um prato cheio para eles. A flanela indica quem são. Os guardadores e/ou lavadores de carros, mais conhecidos como flanelinhas, se multiplicam pela Região Metropolitana. A concentração destes indivíduos, num mesmo espaço, pode ser ainda maior em dias de show ou de jogo de futebol. Por isso, a disputa por uns "trocados" é implacável.

Para José Reinaldo Diniz, de 46 anos, que atua no estacionamento do Projeto Reviver, no centro da capital, é necessário conquistar a confiança do motorista. "Às vezes, a pessoa confia em mim, e mesmo sabendo que todo mundo é credenciado, não quer receber a chave da mão do outro colega", conta o flanelinha já regulamentado.

Há 32 anos vigiando carros, José Reinaldo saiu da cidade natal, Palmeirândia, no interior do Maranhão, aos 7 anos, em busca de uma vida melhor. Em São Luís, o filho de lavradores estudou até a 8ª série e trabalhou como feirante e carregador. Com um casamento que não deu certo e pai de três filho, o flanelinha tenta, agora, construir a prórpria casa e deixar a casa da irmã, no Anjo da Guarda, onde vive.

Mas, o sonho vem se tecendo aos poucos porque há dias em que a atividade de flanelinha garante apenas a comida na mesa. Sem salário fixo, José Reinaldo chega no Centro por volta das 7h e revela que consegue, diariamente, o valor médio de 30 reais. "Nem todos dão dinheiro. Às vezes, a pessoa sai e não tem. Não é por isso que a gente vai xingar. Pelo menos a gente respeita", afirma o flanelinha que compete com mais outros 26 na região.

O guardador relata que já sofreu até acusações de roubo. Em meio à dura realidade, tem planos de buscar uma qualificação profissional. "Quero fazer um curso de operador de telemarketing", acrescenta.

 Filas de carros estacionados em rua, no Centro de São Luís. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Filas de carros estacionados em rua, no Centro de São Luís. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.

Fora do mercado

O professor Paulo Keller, do Departamento de de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), explica que este é um tipo de ocupação imposto ao indíviduo sem lugar no mercado formal. "A dinâmica da sociedade é baseada na indústria. Não dá para absorver todos. O setor industrial vai, então, excluindo aqueles sem qualificação, que não encontram trabalho. Essa ocupação é imposta ao cidadão", argumenta.

Assim como José Reinaldo, outros 600 flanelinhas, aproximadamente, atuam, regularmente, em São Luís, segundo a Supervisão de Áreas Integradas de Segurança Pública (Saisp). Aqueles que pretendem realizar o registro devem procurar o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

 Alguns guardadores, também, lavam o carro. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.
Alguns guardadores, também, lavam o carro. Foto: Neto Cordeiro/Imirante.com.

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