Homenagem

Longa vida à Arlete Nogueira da Cruz

Escritora celebra 85 anos cheios de momentos como o convívio criativo com artistas de São Luís

Murilo Santos* / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h16

São Luís - Na primeira metade dos anos 70, quando me inseri no mundo das artes local, passei a perceber a escritora e também poeta Arlete Nogueira da Cruz como uma referência no mundo da arte cultura. Nesse momento, eu integrava o grupo de artista que fundou o Laboratório de Expressões Artísticas – Laboarte. Embora a minha área desde então tenha sido o cinema e a fotografia, transitei também pelo teatro nessa época.

Nesse período, Arlete era diretora do teatro Arthur Azevedo, portanto, naturalmente, nós do grupo Laboarte interagíamos frequentes com Arlete Nogueira da Cruz. Mas foi durante a montagem do espetáculo “Agonia de Um Homem” (1974), genialmente dirigido por Tácito Borralho, que o meu contato com Arlete se tornou bem mais estreito. O espetáculo tinha como texto uma seleção de poemas do Nauro Machado. Antes de iniciarmos de fato os ensaios e o processo de decorar os textos, naquele velho casarão da Jansen Miller, tivemos vários encontros com Arlete que, diante de um grupo bastante jovem, fez uma espécie de laboratório nos conduzindo a penetrar no universo da poesia do Nauro Machado. Ela, ciente de que trabalhava com atores e não com nativos na literatura, foi didaticamente deslizando questões que possibilitaram a nós, nos apropriarmos do sentido dos poemas selecionados. Após essa fase, nos sentindo mais seguros para tomarmos os poemas como textos teatrais nos ensaios que se seguiram. A mim coube o fortíssimo poema “Soco de Homem” que, na época, me parecia intenso demais para a fragilidade de um ator como eu, circunstancial e iniciante. Arlete me propiciou sentir e me emocionar com tal poema de uma forma que eu jamais conseguiria naquele momento apenas pela sua leitura. Isto me fez gravá-lo na minha memória até hoje.

Neste pequeno texto de homenagem, resolvi falar mais da minha relação com Arlete do que de sua importantíssima obra literária. Por certo outros o farão com mais propriedade. Do conjunto de sua obra, ressalto seu livro “O Rio”. Uma história ficcional que conheci nos anos 70, sobre a qual sempre pensei numa adaptação para cinema. Trata-se da história de um homem, um ribeirinho do interior maranhense que sai do seu lugar de origem em direção à São Luís. O enredo poderia parecer banal não fosse o fato de que este homem faz a sua jornada cheia de surpresas, não por meio de embarcações, mas viajando pelas próprias águas do rio, nadando e mergulhando, como se fosse um animal aquático. Me impressionei com a imagem das luzes da cidade avistadas à noite por esse personagem. Os elementos dessa história que de uma forma poética e fantástica aludem ao êxodo rural, me encantou naquele momento dos anos 70, período em que o Maranhão passava por profundas e conflitivas transformações sociais.

Já no final dos anos 70, início dos anos 80, trabalhei na Secretaria de Estado da Cultura, sobre a chefia de Arlete Nogueira da Cruz. Uma Secretária de Estado que tão bem administrou a instituição, com seu jeito humano, sensível e culto. Foi um período de muitas realizações em diversas áreas artística, destacando aqui a criação do Cine Praia Grande. Um outro momento de convívio e parceria de trabalho foi o período da produção do curta-metragem “Litania da Velha”, baseado em seu poema homônimo e dirigido pelo seu filho, o cineasta Frederico Machado. Arlete acompanhou todo o processo da filmagem, empenhando-se na atividade de produção. Os 85 anos da Arlete Nogueira da Cruz Machado me fizeram relembrar esses momentos, dentre tantos, de convívio criativo, artístico e de muito aprendizado com esta grande escritora e poeta.

Longa vida à Arlete Nogueira da Cruz!
*Murilo Santos é cineasta e fotógrafo. l

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