Chuvas e Áreas de Risco

Para evitar tragédias, Defesa Civil monitora áreas de risco

Objetivo do trabalho é evitar episódios como o que ocorreu em 2009, quando duas pessoas morreram soterradas no bairro Salinas do Sacavém, em São Luís; trabalho é diário

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h17
Muro de casa em área de risco, na Vila Embratel, cedeu e imóvel teve de ser isolado, assim como residências vizinhas; Defesa Civil monitora área
Muro de casa em área de risco, na Vila Embratel, cedeu e imóvel teve de ser isolado, assim como residências vizinhas; Defesa Civil monitora área

São Luís - O mês era abril e o ano 2009. Após uma forte chuva em São Luís e o registro de um deslizamento de terra no bairro Salina do Sacavém, duas pessoas morreram depois de horas de trabalho de busca pelas vítimas. Dentre os óbitos, estava uma mulher identificada como Maria da Glória. Segundo testemunhas, à época, outras pessoas por pouco não perderam a vida.

Este é apenas o relato de um fato trágico registrado na cidade há quase 12 anos - que se une a outra morte registrada em maio de 2014, de forma semelhante no Coroadinho - e que faz parte da memória de quem reside no bairro ou em outras áreas da cidade. Para evitar novos casos dessa natureza, a Defesa Civil Municipal intensificou o trabalho de verificação dos locais da cidade que estejam sob ameaças semelhantes.

Segundo o órgão, com base em estatística repassada a O Estado, atualmente 60 pontos no território ludovicense são considerados de maior risco a moradores, por causa da fragilidade dos locais em que os imóveis estão fixados. No entanto, novos locais em diferentes eixos da cidade devem ser acrescentados nas próximas semanas à lista. Um deles é no bairro João de Deus.

As condições topográficas, ou seja, o desenho irregular do terreno em determinados bairros da cidade escolhidos por cidadãos para construção de moradias e as chuvas que umedecem o terreno, fragilizando a resistência do solo, são analisadas para se determinar a condição de risco ou não de um ponto.

Entre os bairros com maior incidência de áreas de risco e que são conhecidos pelos órgãos de controle, estão Vila Embratel, Piancó (ambos na área Itaqui-Bacanga), além de Vila Isabel Cafeteira (Anil) e o Salina do Sacavém. Este último, apesar de registro de fato trágico envolvendo soterramento de pessoas, está em gradação inferior à necessidade de controle e preocupação das autoridades, em comparação a bairros do eixo Itaqui-Bacanga.

Para facilitar o trabalho de mapeamento e controle das áreas, técnicos da Defesa Civil visitam diariamente bairros cujas origens remetem a desenvolvimentos irregulares e sem planejamento urbano, o que favorece o aparecimento de imóveis em terrenos menos resistentes. O Estado acompanhou o trabalho da Defesa Civil do Município na Vila Embratel.

Somente em três dias de fevereiro de 2021 (terça-feira, dia 23, quarta-feira, dia 24 e quinta-feira, dia 25) pelo menos dez ruas da Vila Embratel, Piancó e adjacências foram visitadas. Todas as casas destes locais, em especial na Rua Tancredo Neves, receberam os agentes que, além de registrarem as visitas por fotografias, anotaram os nomes dos moradores em fichas com informações (quantos residentes, quantos cômodos, qual a idade média do imóvel, dentre outras informações).

No bairro, na quinta-feira, 26, um muro de uma residência caiu por causa de uma obra efetuada por uma empresa que atua na região Itaqui-Bacanga e devido a fragilidade do terreno, de acordo com a Defesa Civil. Com a ocorrência, além da residência do muro que caiu, outras duas casas próximas foram isoladas.

Com fitas de identificação, os residentes foram orientados a deixar os imóveis. “Não tenho onde dormir, vou ter que dormir com vizinhos”, disse Cláudio Isael, um dos envolvidos no fato e que teve a residência afetada.

O morador do imóvel com o muro que cedeu foi Mozaniel Silva. Residente no bairro há uma década, ele disse que a construção – feita por ele, que é pedreiro – não registrava sinais de desgaste. “Para mim, esse muro estava bem, sem problema”, disse.

Mesmo assim, a Defesa Civil preferiu efetuar o isolamento. “Nosso trabalho é basicamente identificar os locais de maior risco, alertar os moradores e ao mesmo tempo dar segurança a quem, por condições financeiras, reside em áreas não consideradas seguras”, disse o superintendente da Defesa Civil do Município de São Luís, Alexssandro Nogueira.

O gestor informou ainda que, para auxiliar o trabalho em campo, além das visitas nas residências, também são instalados os pluviômetros para o controle do quantitativo de chuvas por bairro. No dia 16 de fevereiro deste ano, por exemplo, o nível de chuvas chegou a aproximadamente 102 milímetros na Vila Embratel, índice considerado alto e que não se refletiu em outros pontos da cidade.

“Nossos registros, em determinados dias e no período em que as chuvas costumam ser maiores, contabilizam volumes de precipitações desiguais por bairro. No caso do dia 16 por exemplo, enquanto que na Vila Embratel houve um índice alto de chuvas, em outros bairros, os registros foram menores. A média registrada pela meteorologia se baseia no todo da cidade, mas precisamos ter os índices por bairro”, afirmou o superintendente da Defesa Civil de São Luís.

Equipes do órgão atuam diariamente monitorando áreas e podem ser acionados pelo telefone (98) 3212-8474. O endereço da Defesa Civil é Avenida dos Franceses, Caratatiua.

Outros bairros
No Piancó, por exemplo, recentemente a Defesa Civil identificou possibilidades de deslizamento em via na Segunda Travessa do bairro, em São Luís. No local, pelo menos duas casas foram identificadas como as de maior risco. Por isso, foram colocadas lonas cobrindo o terreno mais propício para queda de terra.

A colocação de lonas, além de proteger o terreno, também evita infiltrações e deixa o solo menos vulnerável à água pluvial.

O Estado esteve na via e moradores não quiseram conceder entrevista. Pessoas que residem nas proximidades afirmam que os residentes nos imóveis, em um primeiro momento, não querem deixar o local, alegando falta de condições financeiras. Além do Piancó e Vila Embratel, o bairro do Sá Viana também registra locais de risco de deslizamento.

Jovina mostra rachaduras do muro da sua casa ao técnico da Defesa Civil
Jovina mostra rachaduras do muro da sua casa ao técnico da Defesa Civil

As histórias de quem mora à beira do perigo por falta de opção

“Eu só moro aqui, pois não tenho mesmo condições de morar em outro lugar”. O depoimento da aposentada Jovina Paixão, de 73 anos, representa bem o que é viver em área de risco na capital. Ela – e outras moradoras da Vila Embratel (Itaqui-Bacanga) - explicitam a ausência de política efetiva de distribuição de moradias e de planejamento urbano. Jovina mora na mesma casa há quase 10 anos. Antes, estava em outra residência no bairro. A sua casa fica próxima a uma área de precipício e um dos muros ameaça cair. Por isso, a Defesa Civil verificou a condição da estrutura e calculou os impactos do deslizamento no alicerce da residência, com quatro cômodos, em que residem ela e outras três pessoas.

Ela conta a O Estado, de um jeito sorridente e sincero, que sonha com uma casa melhor. “Ah, eu queria muito morar em um lugar em que tudo fosse de primeira, que a casa tivesse tudo novo, mas é a que tenho condição de morar e é aqui que vou ficar por enquanto!”, disse.

A aposentada, que tem dois filhos, um deles em condições especiais (com dificuldades de locomoção), se apega à religião. “Quem tem Deus, está protegido de qualquer coisa”, afirmou.

Outra residência alvo de fiscalização da Defesa Civil foi a de Carmem da Silva. Feirante e com 43 anos, esbanjando desenvoltura, a dona do imóvel disse que “estar debaixo de um teto”, para ela, é motivo de orgulho. “Tem gente que está aí morando na rua, e eu estou aqui, ainda que com minha casa com risco de cair”, disse.

O também morador José Castro, de 57 anos, residente na Vila Embratel, tem casa em área de risco. Segundo ele, pai de três filhos e desempregado, qualquer ajuda é bem-vinda. “Na situação em que a gente está, sem ter como trabalhar e também nesta situação, torcendo para não chover, qualquer visita de um órgão público é boa para gente”, afirmou emocionado.

Segundo a Defesa Civil, somente por medida judicial é possível retirar de forma compulsória qualquer morador de sua casa. “O que fazemos é orientar, neste caso, o morador para deixar o imóvel, mostrando os riscos. Mas por limitações sociais, infelizmente a maior parte das pessoas alega que não pode deixar as casas”, disse o superintendente da Defesa Civil de São Luís, Alexssandro Nogueira.

Sacavém também foi alvo
Outro ponto monitorado na cidade foi o Sacavém com ação prática. No dia 18 de fevereiro deste ano, agentes da Defesa Civil de São Luís retiraram lixo que havia em encostas localizadas no bairro e ainda removeram “árvores de grande porte”. Segundo o órgão, grandes espécies vegetais, por exemplo, deixam o terreno ainda mais frágil, dependendo do porte e de suas raízes. De acordo com o órgão, no período chuvoso, a intervenção é considerada fundamental para evitar instabilidades no solo que, com chuvas, torna-se vulnerável à água.

SAIBA MAIS

Locais com maior incidência de áreas de risco na cidade

Vila Embratel
Piancó
Vila Isabel Cafeteira (Anil)
Salina do Sacavém
Túnel do Sacavém

Fonte: Defesa Civil do Município

Prestação de serviço
DEFESA CIVIL DO MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS
Telefone: (98) 3212-8474.
Endereço: Avenida dos Franceses, Caratatiua.

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