Imunização

Ministério da Saúde vai incorporar vacina chinesa em calendário nacional

O ministro Eduardo Pazuello, em reunião com governadores, disse que espera poder começar a vacinação em janeiro do próximo ano; os secretários estaduais de Saúde manifestaram preocupação com uma possível falta de participação do governo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Ministro Pazuello informou que espera poder começar a vacinação em janeiro de 2021
Ministro Pazuello informou que espera poder começar a vacinação em janeiro de 2021 (Pazuello)

BRASÍLIA - Em reunião com governadores ontem, 20, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que vai incorporar a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, no Programa Nacional de Imunizações, colocando-a assim no cronograma do governo federal. Baseado em informações que disse terem vindo do próprio instituto, Pazuello informou que espera poder começar a vacinação em janeiro.

Os secretários estaduais de Saúde vinham manifestando preocupação com uma possível falta de participação do governo Jair Bolsonaro (sem partido) na definição das estratégias de produção e de distribuição da vacina desenvolvida em São Paulo a partir de parceria com a empresa chinesa Sinovac.

Eles enviaram uma carta a Pazuello solicitando a inclusão no cronograma nacional da vacina do Butantan ou de qualquer outro imunizante que se mostre eficiente no combate ao coronavírus. O atual calendário do ministério conta apenas com a chamada vacina de Oxford, prevista para abril.

A briga pela inclusão da vacina no calendário nacional foi uma iniciativa do governador João Doria (PSDB-SP). Bolsonaro e Doria vivem antagonismo desde o começo da pandemia. Enquanto o presidente defendia o afrouxamento da quarentena e o uso de medicamentos como a cloroquina (que, segundo estudos, não tem eficácia contra o coronavírus), o governador paulista promovia controle rigoroso em São Paulo.

Na segunda,19, Bolsonaro disse a apoiadores que a vacina contra Covid-19 não será obrigatória, em reação a declaração de Doria de que a vacina será obrigatória em São Paulo, exceto para pessoas que apresentem alguma restrição avalizada por um médico.

"O meu ministro da Saúde já disse claramente que não será obrigatória esta vacina e ponto final", disse Bolsonaro. No final da tarde, em evento no Palácio do Planalto, o presidente fez críticas indiretas a Doria. Segundo ele, o tucano está "levando terror perante a opinião pública".

Vacinas

Seis vacinas contra a Ccovid-19 estão em fase final de desenvolvimento no mundo todo. Quatro estão em testes no Brasil, com autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Sem informações completas divulgadas ao público, o que há no momento são prazos ou projeções, sem data definida para o começo da imunização.

O governo do estado de São Paulo anunciou que deve receber 46 milhões de doses no último mês do ano. Há ainda uma previsão de outras 15 milhões em fevereiro, caso seja necessário. Os primeiros resultados dos testes da Coronavac, com 9.000 voluntários no país, foram divulgados na segunda-feira,19.

Segundo o Instituto Butatan, 35% dos voluntários tiveram algum tipo de efeito colateral, —o mais comum foi dor no local de aplicação. Não houve reações de grau 3, que são mais graves. Os testes continuam. No quesito prazo, a Coronavac larga na frente, mas faltam informações concretas. Único a cravar o início da vacinação em dezembro, começando pelos profissionais da saúde, o governador João Doria (PSDB) mudou de estratégia e disse que ainda não é possível precisar quando as doses estarão disponíveis.

O governo federal disse que contará com 100 milhões de doses no primeiro semestre de 2021 e mais 110 milhões na segunda metade do ano, mas sem se comprometer com uma data para início da imunização.

O que foi anunciado na semana passada foi apenas que o Brasil receberia mensalmente, a partir de janeiro, 15 milhões de doses da "vacina de Oxford".

Janssen-Cilag

Em fase de testes clínicos, o imunizante da Janssen-Cilag sofreu um revés no começo da semana passada devido ao aparecimento de uma doença inexplicada em um participante da pesquisa. A farmacêutica anunciou uma pausa nos estudos. Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, avalia que todas as vacinas em teste no Brasil são promissoras.

"Todas tiveram bons resultados nas primeiras fases, geraram resposta imune e tiveram poucos efeitos colaterais." Agora, os fabricantes competem para ver quem irá comunicar primeiro os resultados preliminares dos testes clínicos da fase 3. Com os resultados, começa a corrida para aprovar o uso da vacina com os órgãos sanitários dos países.

No aspecto insegurança das informações, entre os imunizantes cotados para uso no Brasil, ninguém vence a Sputnik V, criada por centros de pesquisas russos. O acordo realizado entre o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF) e a farmacêutica União Química pode permitir que a empresa produza a vacina no Brasil em dezembro. A produção da vacina russa também deve ocorrer na Coreia do Sul, na China e na Índia, país em que os lotes também devem começar a ficar prontos neste ano.

O diretor executivo do fundo russo, Kirill Dmitriev, afirmou que o Brasil é um parceiro confiável. Na segunda-feira,19, Dmitriev afirmou que 230 milhões de doses da Sputnik V começam a ser despachadas para a América Latina, a partir de janeiro. O governo da Bahia disse que comprou 50 milhões de doses do imunizante. Previstos para o início de outubro, os testes da fase 3 da vacina russa com voluntários brasileiros ainda não saiu do papel.

Em nota, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) afirma que estão na fase final da elaboração do protocolo de validação dos testes clínicos da Sputnik V no país.

Desafio logístico

A disputa pela primeira dose de vacina acaba por tirar o foco para outro problema que tem sido pouco detalhado pelas autoridades de Saúde: como dar conta de levar a vacina para toda a população brasileira. O desafio logístico inclui a preocupação com a refrigeração.

A maioria das vacinas em estudo no Brasil exige temperatura de 2ºC a 8ºC e pode ser armazenadas em geladeiras. O governo federal afirma que todos os postos de saúde estão equipados e já está acostumado com a distribuição de medicamentos nessa condição. Mas o imunizante da Pfizer-BioNTech, que tem a tecnologia mais moderna —usa mRNA, o RNA mensageiro do vírus—, exige temperaturas entre -20ºC e -70ºC, encontrada apenas em freezers de laboratório.

"Ela pode ser uma supervacina, só que a gente não consegue botá-la em todo o Brasil", comenta Pasternak. Outro aspecto carente de definição é o dos grupos com prioridade (idosos, pessoas com comorbidades, profissionais de saúde, entre outros) para receber os imunizantes. O Ministério da Saúde não nega que esses pontos ainda carecem de definição. Mas promete apontar toda a estratégia de imunização contra a covid-19 quando apresentar o Plano de Nacional Imunização (PNI), entre novembro e dezembro.

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