Reconhecimento

Brasileiros do programa da ONU que ganhou Nobel da Paz comemoram

Atuando em diferentes áreas do Programa Mundial de Alimentos, cinco brasileiros estão atualmente em Moçambique; eles esperam que o reconhecimento traga mais atenção ao problema enfrentado por 690 milhões de pessoas no mundo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h18
Imagem aérea de arquivo mostra áreas alegadas em Beira, em Moçambique, após a passagem do ciclone Idai
Imagem aérea de arquivo mostra áreas alegadas em Beira, em Moçambique, após a passagem do ciclone Idai (Moçambique)

MOÇAMBIQUE - Cinco brasileiros que trabalham em diferentes áreas do Programa Mundial de Alimentos da ONU, vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 2020, anunciado na sexta-feira,9, falaram ao G1 sobre suas experiências. Todos atuam em Moçambique, no continente africano, mas em diversas regiões do país.

Flávia Lorenzon atua na área de Proteção Social e está no PMA desde 2012. Após anos trabalhando no Brasil, ela está no país africano desde janeiro.

“Conheço o PMA já há bastante tempo e mesmo com a pandemia, com todos os cuidados, estou em uma província, fazendo trabalho de campo, porque não podemos esquecer que tudo isso é pelos nossos beneficiários. Ficamos muito felizes hoje, no meio do trabalho, ao saber da notícia do prêmio Nobel. Mas, apesar da notícia feliz, não podemos nos esquecer de quantas pessoas ainda passam fome no mundo”, alertou, em uma mensagem de vídeo.

“Estamos fazendo esse trabalho longe de todos, longe da família, amigos, e às vezes até em lugares mais remotos, como é meu caso hoje. Que esse prêmio sirva para alertar a todos que a fome ainda é um problema muito real e que organizações como o PMA fazem de tudo, dia e noite, para assistir aqueles que precisam”.

Alegria enorme

Rafael Campos é oficial de Gestão de Informação e Ponto Focal de Comunicação e está em missão em Beira. Ele chegou a Moçambique em setembro de 2019, vindo de Paris, para trabalhar na emergência após o Ciclone Idai.

“O trabalho do PMA é fundamental, e de extrema importância. Sabemos que atualmente, no mundo, 690 milhões de pessoas vão dormir com fome todos os dias, e infelizmente esse número tende a crescer. A notícia do Nobel trouxe uma alegria enorme, tanto para mim, quanto para todos os meus colegas que estão aqui em Beira. Nós que estamos na linha de frente, assim como outros milhares de colegas em outros países do mundo, nos sentimos extremamente honrados", aponta Campos.

"A sensação é de que fazemos parte de uma organização que tem um papel importante, e que hoje é reconhecida por isso. Sentimos que o prêmio Nobel pertence um pouco a cada um de nós, e isso nos motiva a continuar trabalhando duro, pois muito há de ser feito ainda", comemora.

"A pandemia trouxe enormes desafios para nossas operações. Tivemos que nos adaptar rapidamente, introduzindo medidas preventivas durante nossas distribuições e atividades, para que pudéssemos continuar ajudando as pessoas durante a pandemia, e ao mesmo tempo nos protegendo e protegendo os beneficiários", ressalta o brasileiro.

"Tivemos que expandir nossas operações, pois a necessidade de ajuda humanitária tem crescido, somada ao impacto socioeconômico da crise na segurança alimentar. Tem sido um esforço coletivo necessário, mas temos orgulho de termos um papel importante durante esta crise, e podermos ajudar as pessoas que mais necessitam", acrescenta.

Trabalho do PMA

Mariana Machado Rocha atua na área de Alimentação Escolar e ressalta que o trabalho do PMA é essencial para chegar às comunidades que estão em situação de insegurança alimentar mais sérias no mundo, expostas por conta de conflitos, ou desastres naturais, e não tem como garantia sua subexistência.

“O PMA faz esforço pra chegar até as zonas mais remotas, de perigo, de conflito, justamente pra que aqueles que mais precisam tenham acesso a alimento. É uma honra muito grande para nós receber o Prêmio Nobel da Paz, em um momento em que a organização não mede esforços pra apoiar todos os seus beneficiários e chegar a mais pessoas diante de muitos desafios que o mundo enfrenta", relata.

"Sabemos que a fome já vinha aumentando há alguns anos por conta do aumento dos conflitos e da insegurança pelo mundo, e essa situação se agravou com o Covid. E a estimativa do PMA é de que no próximo ano o número de pessoas em insegurança alimentar aguda aumente em 80%", diz Rocha.

Então estamos trabalhando para reforçar as nossas parcerias no trabalho com os governos, para que todas essas pessoas recebam alimentos e possam ter uma vida digna”, afirma.

Salvando vidas

Pedro Mortara também é oficial de programas de Alimentação Escolar, mas atuou em diferentes posições desde que começou a trabalhar no PMA, em 2015, incluindo proteção social e resposta a emergências. Antes de chegar a Moçambique, ele já passou por Zimbábue, Sudão do Sul, Etiópia e pela sede em Roma.

“O PMA chega a pessoas em extrema vulnerabilidade a que muitas vezes nenhuma outra organização chega, salvando suas vidas, e trabalha com pessoas, organizações e governos para mudar as vidas de pessoas vulneráveis. Quando trabalhei na resposta ao ciclone Idai no Zimbábue, fazia viagens de helicóptero diárias para as regiões afetadas, que tinham uma quantidade enorme de deslizamentos de terra com muitos mortos e milhares de pessoas isoladas e sem acesso à comida, água e abrigo”, exemplifica.

"É com muita humildade e orgulho que recebi a notícia desse prêmio, que espero aumente o conhecimento do trabalho fundamental que faz não só o PMA como todo o sistema humanitário e de desenvolvimento, ainda muito pouco conhecido no Brasil. É um chamado para ação e atenção de todos para a situação que vivem milhões de pessoas que servimos ao redor do mundo", ressalta Mortara.

O brasileiro conta que a "pandemia aumentou muito não só os desafios em chegar nas pessoas mais vulneráveis como o número de pessoas vulneráveis e o grau de vulnerabilidade em que elas se encontram". "Têm exigido trabalho redobrado para, junto com nossos parceiros e doadores, tentar evitar que tantas pessoas passem fome todos os dias", acrescenta.

"Em relação ao meu trabalho atual, posso dizer que as escolas primárias estão fechadas desde março, o que impede a distribuição da alimentação escolar na modalidade tradicional cozinhada na escola", aponta.

"Desde então temos trabalhado com o governo de Moçambique para preparar uma mudança de modalidade e uso das distribuições de lanches secos (pequenas cestas básicas para cada família de aluno) para apoiar estas famílias que sofrem com o impacto socioeconômico do Covid e criar um incentivo para que as crianças voltem à escola quando estas reabrirem", diz Mortara.

Temos também apoiado o governo no processo de reabertura segura de escolas, que é fundamental para a continuação dos estudos das crianças não só de Moçambique como do Brasil e de todo o mundo", conclui.

Relação com doadores

Yuri Andrade está desde janeiro no PMA e em agosto foi para Moçambique, onde trabalha no departamento de Relações Exteriores, onde cuida da parte da relação com doadores, relatórios e comunicação.

“Somente em 2019, entregamos ajuda a quase 100 milhões de pessoas, em mais de 80 países. Sobre o Premio Nobel da Paz que recebemos hoje, estou profundamente orgulhoso de fazer parte dessa organização. Este prêmio não é só um reconhecimento do trabalho do PMA, e sim de todos os nossos parceiros, como governos, indivíduos, empresas e organizações que nos ajudam a levar ajuda humanitária aos que mais precisam. O Covid-19 trouxe sérios desafios ao nosso trabalho. Além de mais pessoas estarem precisando da nossa ajuda, o acesso a elas ficou extremamente mais difícil", diz.

"Entretanto, independente do obstáculo, seja ele uma pandemia, conflito ou desastre natural, o PMA sempre achará um jeito de chegar e servir aos que mais precisam", resume.

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