Editorial

Pastas sem comando

Atualizada em 11/10/2022 às 12h19

Quando se pensava que o Brasil começaria a semana com ministro da Educação, o indicado Renato Feder desistiu de comandar a pasta em comunicado feito no último domingo, 5, para a felicidade da chamada “ala ideológica” ou “olavista”, o grupo dos militares e a pressão do centrão para os cargos no ministério - ou seja, já vinha sendo “fritado” antes mesmo de assumir o cargo. Um verdadeiro cabo de guerra dentro do governo Bolsonaro.

Feder tinha demonstrado interesse em assumir o ministério, que é dor de cabeça para o governo diante de muitas polêmicas. Só para lembrar, o ex-ministro Ricardo Velez Rodriguez ficou três meses na pasta e teve uma atuação constrangedora. Já seu sucessor, Abraham Weintraub, teve uma atuação desastrada em favor da educação em um ano e três meses comandando o ministério. E quando o governo achava que tinha encontrado a pessoa com perfil ideal para o ministério, o senhor Carlos Alberto Decotelli - durante alguns dias - inflou e desmantelou o seu currículo.

Vale lembrar que o presidente Bolsonaro chegou a destacar a formação de Decotelli: “É bacharel em Ciências Econômicas pela UERJ, mestre pela Fundação FGV, doutor pela Universidade de Rosário, Argentina, e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha". As inconsistências começaram a aparecer depois que o próprio reitor da Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, Franco Bartolacci, afirmou que o novo nome anunciado para o MEC nunca concluiu o doutorado e que a tese dele foi reprovada, justamente o contrário do registrado no currículo do professor.

Bem avaliado pelo trabalho realizado à frente da Secretaria de Educação do Paraná, Feder parecia ser a aposta certa do governo para dinamizar a educação, mas não resistiu aos bombardeios. Ele chegou a publicar vários posts em uma rede social para renegar as ideias que tinha quando escreveu um livro, aos 26 anos, favorável à privatização da educação e ao fim do MEC. Fez o mesmo para garantir que não havia “ideologia de gênero” no Paraná. A princípio, reagiu aos ataques, mas acabou jogando a toalha. O jogo é pesado e mostra que o governo Bolsonaro não tem uma proposta para a educação, o que é lamentável.

Mas a postura do governo não ocorre somente com o Ministério da Educação. A pasta da Saúde está sem ministro titular há mais de 50 dias, isto em plena pandemia da Covid-19 com um número crescente de vítimas no país, principalmente depois da retomada de diversas atividades comerciais - como a reabertura de bares e restaurantes.

A vaga é ocupada interinamente pelo general Eduardo Pazuello e Bolsonaro não tem dado nenhuma sinalização de que está em busca de um nome para a pasta que tem entre suas missões enfrentar a pandemia do novo coronavírus. O governo continua omitindo, desde a saída de Nelson Teich, os números totais de mortos por coronavírus em redes sociais. As publicações do governo no Twitter e Facebook favorecem a divulgação de "brasileiros salvos", "em recuperação" e indica o número total de casos, com rankings comparativos com outros países. Já o indicativo de mortes apresenta o número de óbitos por milhão, e não os dados totais.

Chega informação do Relatório Contábil do Tesouro Nacional referente a 2019, de que a União precisaria desembolsar R$ 729,3 bilhões caso tivesse de pagar hoje todos os benefícios futuros dos militares inativos das Forças Armadas e seus pensionistas. O custo, chamado de déficit atuarial, foi calculado após mais de três anos de pressão da equipe econômica e do Tribunal de Contas da União (TCU) para que os militares abrissem os dados de seu sistema de proteção social.

Alegando que a reserva e a reforma não constituíam benefício previdenciário, as Forças Armadas se recusavam a calcular o custo futuro desses pagamentos, o que vinha sendo exigido pela corte de contas diante do valor significativo envolvido. Traduzindo: o país gasta 17 vezes mais com militares na reserva do que com aposentados pelo INSS.



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