Editorial

A pressão para uso da droga

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

Após a saída de Nelson Teich do Ministério da Saúde, na última sexta-feira, 15, que se posicionou contra a prescrição da cloroquina para pacientes infectados pela Covid-19, médicos da rede pública revelam que estão sendo pressionados para que prescrevam o medicamento. Há informações de que na rede privada, a indicação pelo uso da droga também aumenta e já faz parte de protocolos de alguns planos de saúde.

Diante dessa situação, considerando que muitos médicos concordam com o posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, que defende o uso do medicamento, a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, a exemplo de conceituadas entidades médicas do Brasil e do exterior, divulgou documento afirmando que a cloroquina não tem eficácia comprovada contra o coronavírus e os médicos não são obrigados a prescrever a droga.

Fundada em 1981, a SBMFC é a entidade nacional que representa os médicos que atuam em 47,7 mil equipes de atenção básica no Brasil, 80% delas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). O conflito entre médicos pró e contra o uso da cloroquina se acirrou principalmente nos estados onde os leitos de UTIs na rede pública estão chegando ao fim, deixando a utilização do medicamento como uma das poucas opções. A recomendação para a utilização da cloroquina cresce apesar da falta de estudos completos que corroborem sua eficácia e minimizem os efeitos colaterais, como arritmias que já levaram pacientes à morte.

Ontem, foi concluída a primeira etapa do levantamento Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil: Estudo de Base Populacional. Mais de 15 mil pessoas em todo o país fizeram o teste para saber se tiveram contato com o novo coronavírus. Segundo estimativa, a meta é testar 100 mil pessoas para saber com que velocidade a população está criando anticorpos para o vírus. As regiões Norte de Nordeste foram as que mais aplicaram testes até o momento, somando mais de 8 mil testes, segundo o Ministério da Saúde. As próximas etapas de coletas estão previstas para 28 e 29 deste mês e 11 e 12 de junho.

O Conselho Federal de Medicina revelou que médicos de 546 municípios brasileiros apresentaram relatos a entidade sobre falhas na infraestrutura necessária ao adequado acolhimento dos pacientes contaminados pela Covid-19. Ainda segundo o levantamento, existe uma forte correlação entre o volume de queixas e a quantidade de casos confirmados e óbitos em decorrência da pandemia no país.

O CFM aponta ainda que os resultados permitem inferir uma associação estatística entre a quantidade de denúncias apresentadas pelos médicos e o número de óbitos e de novos casos da Covid-19 notificados em cada estado. Isto é, onde há mais médicos atuando contra a epidemia, é naturalmente maior o número de denúncias que também acompanham o volume de casos existentes e, consequentemente, de óbitos.

Médicos que atuam em unidades de saúde que prestam assistência a casos confirmados e suspeitos da Covid-19 denunciaram cerca de 17 mil inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) de todo o país. Entre as principais ‘faltas’ identificadas em 2.166 serviços de saúde, estão a falta de máscaras N95 (ou equivalente), assim como de outros equipamentos de proteção individual (EPIs); a insuficiência ou completa ausência de kits de álcool gel ou 70%, de exames para Covid-19; e a carência de equipes de enfermagem (enfermeiros e técnicos).

Outro ponto preocupante para os médicos é a dificuldade no acesso a leitos de UTI e de internação. Os dados fazem parte do primeiro levantamento feito pelo CFM após o lançamento de plataforma online exclusiva aos médicos com inscrição nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Desde o lançamento da ferramenta, entre 30 de março e 6 de maio, um total de 1.563 profissionais acessaram a base.


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