História da "CO"

C.O. dos mais de 3 mil empreendimentos e da gente simples

Localidade, por sua configuração desenfreada e sem referência urbanística, registra problemas estruturais e ausência de serviços mais robustos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Dados não-oficiais apontam que, atualmente, a Cidade Operária – conhecida popularmente e entre os moradores mais antigos como “C.O.” [em referência à abreviação do próprio nome] – registra aproximadamente 50 mil habitantes, sendo um dos bairros de maior concentração populacional da capital maranhense. No entanto, a localidade – por sua configuração desenfreada e sem referência urbanística no que diz respeito à ocupação por moradores – registra problemas estruturais e ausência de serviços mais robustos nas áreas de saúde e educação, por exemplo.

Com o surgimento do bairro, moradores viram nascer outros conjuntos habitacionais de menor porte, como Santa Clara, Janaína, Recanto dos Pássaros, Vila Flamengo, Jardim América, Jota Lima, Jardim Tropical, Geniparana e outros que circundam o bairro. Antes deste desenvolvimento, é preciso entender que, para os moradores mais tradicionais da localidade, o surgimento da Cidade Operária também remonta à prática de culturas que, com o passar dos anos, tornaram-se inviáveis.
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O presidente da Associação de Moradores da Cidade Operária, Manoel Maciel, informou a O Estado que, antes mesmo da construção e constituição oficial de um dos maiores conjuntos habitacionais da capital maranhense, no terreno onde foram fixadas as residências e nos arredores, enormes plantações de arroz, feijão e milho eram registradas.
Ainda de acordo com o antigo morador e dirigente, dentre os responsáveis pelas culturas, estavam residentes nas áreas da Maiobinha, Mata e Santa Bárbara. “Aqui, eles faziam roça em uma área boa de terra, cercada por rios que davam sustentação à toda a produção”, disse Manoel Maciel.

Ele cita, como referências hidrográficas, os rios Paciência e da Mata, cujos volumes diminuíram, ao longo dos anos, devido ao desenvolvimento fora do controle do bairro e construções que aterraram as reservas de água e seus afluentes. “Com isso e com a construção dos imóveis, estas plantações foram se perdendo e a população passou a buscar outras fontes de renda”, afirmou Manoel Maciel.

Uma das primeiras moradoras do bairro é dona Doraci Sousa. Moradora do bairro desde a fundação, com uma residência na Unidade 105, Rua 6, Casa 02, a agora dona-de-casa e aposentada foi uma das primeiras sorteadas com um imóvel. “Aqui era tudo só mato, não tinha nada mesmo. As casas eram simples, mas depois tudo foi se arrumando”, disse.

O autônomo e auxiliar de serviços gerais, Lucivaldo Miranda dos Santos, possui uma pequena casa há mais de 30 anos na Unidade 105 do bairro. Ele contou a O Estado que a precariedade do local, por pouco, não o fez se mudar. “Era realmente muito complicado viver aqui. Hoje estamos no paraíso perto de como era”, afirmou.
Especulação imobiliária e a

[e-s001]interferência do poder público
Em janeiro de 1987, com parte dos imóveis do projeto original consolidado e financiado pelo Banco Nacional de Habitação (BNH), o governo local à época passou a organizar o sorteio e, em consequência, a entrega dos imóveis (alguns com dois quartos, outros com apenas um e menores) para os contemplados. Foi aí que os sorteados se depararam com a especulação imobiliária e com acordos informais registrados ao longo da entrega dos imóveis.

O aposentado Pedro Câmara, um dos moradores mais antigos do bairro, descreveu que a sua chegada ao bairro se deu no dia 27 de janeiro de 1987. “Quando me dirigi à minha casa, já havia uma pessoa residindo. Fiquei surpreso e, quando fui checar, não havia o que fazer”, disse.

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A situação ocorreu com outros sorteados. O diretor do Centro de Ensino Maria Aragão (situada na Cidade Operária), Wilson Chagas, se lembra do fato. Ele – acompanhado por familiares – chegaram ao bairro e se depararam com um morador no imóvel. “Viemos repletos de fortes expectativas e, infelizmente, isso ocorreu”, afirmou.

Neste momento, os moradores perceberam a necessidade de formação de um grupo, uma espécie de associação informal, para – em comum acordo com as autoridades públicas da época – negociar uma “saída amigável” dos invasores. Na maior parte dos casos, a solução mediada deu certo. “No meu caso, por exemplo, tive que dizer para a senhora sair de casa. Afinal de contas, não era justo para a gente perder algo que era nosso por direito”, afirmou Wilson Chagas.

Moradores mais antigos também relatam um episódio envolvendo o então governador do Maranhão, Epitácio Cafeteira. Segundo Pedro Câmara, morador da Cidade Operária e pesquisador da história do bairro, o gestor chegou ao local no dia 8 de março de 1987 e foi protagonista do fato mais importante e histórico do bairro. “Ele [Cafeteira] foi claro. Quando ele chegou, num dia chuvoso, e olhou aquela situação, ele disse que quem estava na casa já era dono”, disse. Relatos oficiais e registros em jornais não descrevem o fato e a família do ex-governador também não confirma a informação, que possui apenas chancela popular.

Informalmente, a comunidade da C.O. reconhece que o projeto de ocupação do bairro não foi feito de forma integral. Com isso, elevou-se o nível de especulação imobiliária e o índice de usuários que lucraram irregularmente, com a vinda de novos moradores. “Havia gente que, por exemplo, ocupava indevidamente o imóvel, saía mas tirava uma porta e depois revendia para outro morador e, assim, lucrava com aquele movimento de ocupação”, disse Manoel Maciel, presidente da Associação de Moradores da Cidade Operária, uma das marcas da formalização de entidades e empreendimentos que sucedeu ao tumultuado processo de ocupação dos imóveis.

Após os primeiros 10 anos de existência, a Cidade Operária dava sinais de expansão. Surgiram ruas, novas vias de acesso e, principalmente, empreendimentos que – de diferentes gêneros, ou seja, desde negócios que oferecem produtos alimentícios à artigos naturais, de construção civil e disponibilizando serviços especializados voltados à saúde e educação.
Além dos movimentos de negócios, moradores de outras partes da capital maranhense também passaram a voltar os seus “olhos” para o bairro que, de forma clara, se transformaria a partir da segunda metade da década de 1990, um dos pontos de maior concentração econômica e populacional da cidade.

[e-s001]C.O. e os problemas de bairro grande
Como a maior parte dos bairros de grande concentração populacional e, principalmente, devido ao preenhcimento de forma desordenada, a Cidade Operária acumulou, ao longo dos anos, problemas sociais e de infraestrutura. A começar pela ausência de pavimentação em algumas ruas. Na Unidade 105, por exemplo, algumas das vias estão com crateras em boa parte dos trechos.

Na avenida principal do bairro, é possível ainda observar problemas na camada asfáltica, agravadas com a intensifiação do período chuvoso na cidade. Procurada, a Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp) informou que estas e outras vias serão contempladas no cronograma oficial de asfaltamento.
Na educação, o bairro registra algumas escolas, dentre elas, destaca-se o Centro de Ensino Maria Aragão, do Governo do Maranhão. Apesar disso, moradores ainda precisam matricular seus alunos em bairros distantes. É o caso de Maria do Rosário, dona de casa e residente na Rua 4, Unidade 105 do bairro. “Meus dois filhos estudam no Anil. É um pouco distante daqui e o ideal é que tivesse vaga na escola local”, afirmou.

No quesito segurança, de acordo com os residentes, o bairro registra melhoras. No entanto, apesar da fixação da Delegacia da Cidade Operária, é comum ver estabelecimentos com sistemas de monitoramento de câmeras e residências com cercas elétricas. A Polícia Militar informa que rondas são feitas diariamente nas vias do bairro e que contribuem com a diminuição gradativa das ocorrências.

No setor da saúde, o Hospital Clementino Moura (Socorrão II), da rede pública municipal, é a unidade referência no bairro. Além da demanda local, o hospital – por receber grande parcela de pacientes do interior maranhense – enfrenta dificuldades para atender a todo o público. Por causa disso, é comum ver pacientes em corredores da unidade.

Em nota, a Secretaria Muncipal de Saúde (Semus) informa que, com a execução do programa “Lean nas Emergências”, do Ministério da Saúde em parceria com o Sírio Libanês, o Socorrão II não registra corredores com excesso de pacientes, pelos avanços – em especial – no fluxo das rotinas internas.

A Cidade Operária e seus 3.657 estabelecimentos comerciais

O bairro da Cidade Operária é considerado um dos pólos de concentração comercial mais importantes da capital maranhense. Em tempos de descentralização dos negócios das regiões mais centrais, a concentração de negócios na Cidade Operária representa o contraponto e, nos últimos anos, registra grande quantitativo de empreendimentos.
Dados da Junta Comercial do Maranhão (Jucema) apontam que até 2015, eram 3.523 negócios formalizados na localidade. Atualmente, são 3.657 empresas, o que aponta – em cinco anos – um crescimento de 3,6%, em um intervalo de recessão financeira no país e com alto índice de negócios “fechando as portas”.

Em síntese, a Cidade Operária – apesar de um cenário econômico desfavorável à perspectiva brasileira quanto aos investimentos em novas modalidades de negócios – registrou crescimento quanto ao número de empreendimentos. A tendência é de expansão das atuais lojas e outras formatações de negócio existentes.

Para o presidente da Jucema, Sérgio Sombra, o bairro é o sinal de que as pessoas vislumbram o empreendedorismo. “Hoje, podemos considerar a Cidade Operária um dos bairros mais independentes da nossa capital em que a instalação de novas empresas só tem crescido a cada ano. O número de empresas cresceu e isso é um sinal promissor de que as pessoas estão vislumbrando no empreendedorismo uma possibilidade de um novo caminho profissional e de realização de sonhos”, afirmou.

Negócios conhecidos e antigos estabelecimentos
O aumento populacional progressivo e a expansão em outras partes da cidade de São Luís gerou uma súbita e consolidada elevação dos empreendimentos no bairro. Dentre supermercados, bancos e outros negócios, o bairro tem como fonte principal de renda e oferta de serviço os empreendimentos ligados à oferta de refeições, produtos de casa e voltados ao segmento estético.

Estes negócios se concentram por ruas e, principalmente, ao longo dos mais de 4 quilômetros da avenida principal do bairro. São lojas com consolidados nichos de consumidores que mantêm os modelos de arrecadação de renda ativos.
O Estado circulou pela avenida principal da Cidade Operária e constatou grande movimento de usuários. À noite, vários trailers e barracas com lanches e outros produtos se concentram no canteiro central da via.

A atual eferverscência comercial contrasta com os primeiros anos do bairro, cujos primeiros comércios marcaram época.

Os antigos estabelecimentos da C.O.
Nos primeiros anos de fundação da Cidade Operária, ainda não era registrada a pujança de estabelecimentos observada atualmente. Segundo os primeiros moradores, no fim da década de 1980, praticamente não havia comércio e as mercadorias de primeira necessidade eram trazidas de outros bairros.

No espaço em que abriga a Feira da Cidade Operária (ao lado da Unidade de Pronto Atendimento do bairro), somente havia alguns vendedores ambulantes. De acordo com a pesquisa de Wilson Chagas, o primeiro “sacolão”, ou seja, forma de comércio com frutas, verduras e itens de cozinha em geral (alimentação e limpeza) foi o de seu Rodrigues.
Outros relatos descrevem o Galeto do Seu Ceará. Localizado próximo à antiga feira da “CO”, o local com o melhor frango assado da região era frequentado somente pelos moradores mais abnegados.

Para quem desejava comer aquele pãozinho quentinho, bastava ir na Padaria Paladar, próximo à delegacia do bairro. Atualmente, funciona um restaurante famoso no conjunto habitacional. O estabelecimento de pães e massas em geral foi desativado após um incêndio famoso no local, em meados da década de 1990.

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