História da "CO"

Cidade Operária: a história de um dos maiores conjuntos habitacionais de SL

Conjunto, cujo nome nasce da sua essência, ou seja, dar sustentação à classe operária, é cercado de histórias e abriga gente que está ali desde a fundação

Thiago Bastos / O Estado

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
Construção das casas da Cidade Operária
Construção das casas da Cidade Operária (CO)

Com o desenvolvimento da zona industrial e principalmente portuária, São Luís, além do processo migratório, passou a receber milhares de pessoas que vieram para as terras locais em prol de sobrevivência e outras condições sociais. Nas décadas de 1960 e 1970, bairros como o Anjo da Guarda, por exemplo, e adjacências impulsionaram a área Itaqui-Bacanga que, com o erguimento da barragem de mesmo nome, expandiu a cidade para uma região até então desconhecida.

Desta forma, a Ilha foi se expandido. Se anteriormente bairros como o São Francisco e adjacências nasceram na década de 1970, sob a égide de construções, como a Ponte José Sarney, projetos de incentivo habitacionais estimularam a ocupação urbana em regiões que, até ali, registravam baixa concentração populacional.

Às margens da saída e entrada da cidade (considerando a malha rodoviária e, em especial, a BR-135), alguns bairros passaram a surgir inicialmente com a caracterização de “localidades no estilo dormitório”). Um deles foi a Cidade Operária, cujo nome nasceu de sua essência, dar sustentação à classe trabalhadora que impulsionava um dos setores importantes da economia maranhense.

De acordo com a direção da Associação de Moradores da Cidade Operária, a data prevista de fundação e considerada oficial pela maior parte dos moradores é 8 de março de 1987. A nomenclatura legítima do bairro foi Conjunto Habitacional Cidade Operária. Nos seus 33 anos de fundação, antigos residentes ainda guardam lembranças da formação de uma localidade que, de caráter planejado, virou habitável após uma “invasão” de boa parte dos ocupantes das atuais casas.

Segundo o pesquisador urbano e morador da Cidade Operária, Pedro Câmara, o conjunto foi financiado com recursos do Banco Nacional de Habitação (BNH) – instituição criada à época da Ditadura Militar para o fomento de imóveis em tese às famílias de baixa renda. O financiamento da Cidade Operária via BNH ocorre anos antes de sua extinção, em meados de 1987, com o advento do período democrático no país.

Inicialmente, o conjunto – pensado para ofertar até 15 mil casas e com a configuração do maior projeto habitacional da América Latina – foi aberto com apenas metade dos imóveis previstos (cerca de 7,5 mil ao todo). Além de unidades, o projeto inaugural também contemplava prédios públicos, escolas, unidades de saúde e áreas verdes.

O Estado acompanhou à época a construção das primeiras casas na localidade. Em reportagem publicada em 1984, o periódico relatou o trabalho de operários que, com tratores, executaram a terraplanagem dos imóveis e compactação dos terrenos onde circulariam os veículos por acessos implantados na localidade.

Segundo a matéria, o Núcleo “Habitacional Cidade Operária”, assim que finalizado, seria composto por 15 mil casas. A expectativa era que a primeira parte das obras fosse entregue ainda em 1984. De acordo com a reportagem, “uma empresa de construção civil realiza as obras finais dos serviços de infraestrutura, avaliadas em Cr$ 11 bilhões”.

Os imóveis, segundo os arquivos de O Estado, apresentavam configuração popular, com apenas uma sala, um quarto, área para cozinha e espaço para lavanderia externa. Nos registros, é possível ver que outros serviços, como iluminação pública e pavimentação, vieram anos mais tarde.

Ainda de acordo com a Associação de Moradores da Cidade Operária, a partir de 1986 – ainda sob o governo de Luiz Rocha – há o surgimento na capital de um movimento “em defesa da moradia”. A estratégia do grupo era realizar uma espécie de “invasão” ao Conjunto Habitacional Cidade Operária. Um dos eixos de articulação do grupo era composto por pessoas “sem teto” e que seguiam uma espécie de “política nacional” de movimentos populares.

Ou seja, enquanto o poder público tentava conduzir o processo de ocupação de forma “ordeira” e determinando – a partir de sorteio – outros nichos sociais buscavam tumultuar o processo.

A extinção do BNH e a derrocada na distribuição de imóveis na “CO”
Com o fim do período da Ditadura Militar, tornou-se inviável a manutenção do Banco Nacional de Habitação. Em 1987, é confirmado o desfecho das atividades da instituição de fomento social e, com isso, o projeto de formação do Conjunto Habitacional Cidade Operária é interrompido. Nem mesmo a intervenção estadual (durante a gestão do governo Luiz Rocha) é suficiente e as obras são suspensas por tempo indeterminado.

Após este período, a CO (como é conhecida popularmente, a partir da abreviação de seus nomes) se transforma em um grande “palanque” e um espaço para o chamado “banquete eleitoral”. Eram representantes de diferentes classes sociais, como advogados, jornalistas, sindicalistas, e políticos tradicionais que passaram, por exemplo, a literalmente estimular “atos de invasão”.

Com isso, as 7.500 casas construídas foram “ocupadas” por quem previamente não havia sido indicado. A O Estado, o historiador e pesquisador urbano Antônio Guimarães, explicou que, preliminarmente, a Cidade Operária receberia trabalhadores do segmento metalúrgico e de áreas da periferia. “Iriam trabalhadores da Vale e pessoas que residiam em áreas como, por exemplo, no Promorar, próximo à Ilhinha, e na Liberdade. No entanto, com as invasões, esta distribuição foi prejudicada”, afirmou.

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Pessoas que, em outras partes da cidade, acompanharam a tentativa de desenvolvimento e consolidação do conjunto habitacional apontam que, mesmo com a “fundação”, em 1987, foi registrado dano à parte menos privilegiada da sociedade, já que, na listagem dos contemplados com imóveis, havia trabalhadores e pessoas simples, ou seja, sem vínculos com políticos ou empresários.

Para moradores, como Wilson Chagas, o então gestor à época – o ex-governador Epitácio Cafeteira – determinou “em declaração verbal que, quem estivesse nas casas, se tornaria o legítimo dono dos imóveis”. No campo das lutas sociais, a Cidade Operária, apesar da formação despersonalizada e sem planejamento em parte do processo de ocupação, alcançou benefícios e conquistas importantes, ao longo dos anos.

Além dos imóveis, uma das primeiras conquistas foi a Associação dos Moradores do bairro – que contou com o apoio dos padres e irmãos da Congregação João Calábria, em 1988, um ano após a abertura do bairro.
Serviços básicos, como água e esgoto também configuraram problemas. Inclusive, parte do processo de “invasão” anterior da Cidade Operária foi freado, na primeira fase, pois as pessoas temiam se mudar “para o meio do nada”, já que se tratava de uma região ainda pouco habitada na cidade.
A “Cidade-Dormitório” de antigamente cresceu, compensou a falta de planejamento e, atualmente, é uma das localidades mais populares e conhecidas da capital.

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