Dívida

Crise leva Maternidade Maria do Amparo a suspender internações

No início do ano passado, o atendimento na maternidade também foi suspenso, mas foi retomado em março; desta vez, a situação se agravou

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
No oitavo mês de gravidez, Jeane Cleisse foi à Maternidade Maria do Amparo, de ônibus, com sangramento, mas encontrou portões trancados
No oitavo mês de gravidez, Jeane Cleisse foi à Maternidade Maria do Amparo, de ônibus, com sangramento, mas encontrou portões trancados (maternidade maria do amparo)

Devido a uma crise financeira, que parece ser constante, a Maternidade Maria do Amparo, localizada no bairro Anil, em São Luís, fechou as portas temporariamente, fato que ocorreu na segunda-feira, 2. A situação pegou as pessoas de surpresa e foi lamentada pelos moradores da região, tendo em vista que a entidade realiza, anualmente, mais de 2 mil partos. Mensalmente, são cerca de 200. Gestantes que chegavam ao local tiveram de voltar, contando não terem sido avisadas sobre a interrupção das atividades.

O Estado esteve na maternidade, para averiguar a situação. O portão principal estava trancado com cadeado. Ninguém atendeu ao interfone. Na entrada, foi colocado um aviso: “As internações estão suspensas”. O recado foi assinado pela direção da maternidade. O caso foi lamentado por pessoas que residem no Anil. De acordo com João Batista Assunção, que mora no local há quatro décadas, a notícia do fechamento foi recebida com tristeza pela comunidade, que utilizou muito a Maria do Amparo por ser a mais próxima.

“Nós ficamos muito tristes. Uma filha minha teve minha neta aqui. Eu acho que os órgãos deveriam se sensibilizar e ajudar a maternidade. E olha que não foi a primeira vez que fecham as portas”, declarou o aposentado. Vendedores ambulantes que trabalham em frente a Maria do Amparo disseram que, quando chegaram na segunda-feira ao local, como de costume, encontraram já a placa no portão sobre a suspensão das atividades.

Para Júlio Silva, que vende bombons na rua onde fica a maternidade há mais de 10 anos, a situação poderia ter sido resolvida caso convênios fossem firmados para garantir a prestação dos serviços. “É o tempo todo isso. Eles fecham e, depois, reabrem. Tudo isso por causa de dificuldades financeiras. Eu já acompanhei muito isso. É uma pena, porque é um local que faz um grande serviço à sociedade”, pontuou o vendedor ambulante.

Para compensar a falta de recursos, a direção da maternidade realizou outras ações, como bingos e feijoada. O objetivo era arrecadar dinheiro para manter a instituição filantrópica. A entidade também recebe doações, para pagar os débitos, mas não foram suficientes para evitar a suspensão das internações.

Gestantes sem atendimento
A notícia do fechamento da Maria do Amparo gerou preocupação. Gestantes que, sem saber sobre a suspensão das internações, chegavam ao local, ficaram sem entender o por quê. A jovem Jeane Cleisse, de 20 anos, saiu do Alto do Turu, no município de São José de Ribamar, para ser atendida na maternidade. Ela ainda esperou alguns minutos na porta, na esperança de que alguém aparecesse do lado de dentro, mas tudo indicava que o prédio estava desocupado.

A jovem, que estava acompanhada de duas pessoas, se deslocou até o local de ônibus, pois estava sangrando desde o dia anterior. “Eu estava com alguns sangramentos devido à gravidez. Por isso vim até aqui. É o meu primeiro filho. Agora, não sei para onde irei nessa situação”, desabafou Jeane Cleisse, que está no oitavo mês de gestação. Ela disse que tentaria atendimento na Maternidade Marly Sarney, na Cohab-Anil. Ou seja, gastaria mais passagens para seguir no coletivo.

O Estado manteve contato com a Secretaria de Estado da Saúde (SES), para saber se algo poderia ser feito para que a maternidade retomasse o atendimento, mas foi informado que a instituição é filantrópica, credenciada pelo Ministério da Saúde.

Sobre a situação da maternidade,a Secretaria Municipal de Saúde (Semus) informou em nota que aquela instituição filantrópica, com administração própria, sempre teve apoio do Município. Em 2019, somente de recursos próprios, foi destinado mais de R$ 1,6 milhão para a maternidade. A Semus frisou, ainda, que está em negociação o arrendamento do prédio bem como a sua administração.

Crise financeira
A situação da maternidade se agravou porque depende do Sistema Único de Saúde (SUS), cuja tabela não é atualizada, para sobreviver. No segundo semestre do ano passado, essa crise já estava afetando o funcionamento da entidade. Na ocasião, os médicos da instituição filantrópica estavam com salários atrasados. Alguns deles deixaram de trabalhar porque não estavam recebendo. Na ocasião, Egídio Ribeiro, voluntário e colaborador da Maria do Amparo, disse que os repasses referentes à produção estavam em dia, mas aquele que é utilizado para pagamento dos médicos estava atrasado.

No fim de outubro, o dinheiro relativo a dois meses foi repassado, mas ficou faltando o de novembro. Devido a isso, os débitos se acumularam, o que colocou em risco a realização de uma média de 200 partos por mês. O déficit girava em torno de R$ 60 mil por mês. Ele comentou que o valor que o SUS paga pelos procedimentos era pequeno. “Por mais que a gente trabalhe e produza, os recursos são insuficientes”, declarou. Segundo ele, que já foi diretor da Maternidade Maria do Amparo, a instituição tem uma despesa grande, incluindo os fornecedores e material. Com a crise, a situação se agrava.

Ele comentou que, como a entidade gasta mais do que recebe, ocorre um desequilíbrio financeiro. Então, a maternidade fica devendo. Isso se transforma em uma situação que parece não ter solução. “A tabela do SUS não aumenta. O momento é difícil. Além de maternidade, também há o ambulatório. Temos que pagar fornecedores e adquirir medicamentos e insumos. Esses procedimentos são tabelados nacionalmente pelo SUS. O Ministério da Saúde tem uma tabela, que contém o valor de cada parto”, explicou o colaborador.

Sobre as demissões, ocorridas naquela ocasião, ele explicou que os médicos trabalham em empresas, que prestam serviços na maternidade. Com salário atrasado, muitos deles se negavam a trabalhar, enquanto a situação não é resolvida.

Reabertura da maternidade
Em março de 2019, a Maria do Amparo foi reaberta após o atendimento ter sido suspenso provocado pelo término do convênio com o Governo do Estado. A retomada aconteceu depois que a instituição celebrou novo convênio, que foi firmado com a Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Semus). Durante o tempo em que a maternidade ficou fechada, as gestantes tiveram de buscar assistência em outras maternidades da capital, como Marly Sarney e Benedito Leite.

No local, trabalham profissionais como ginecologistas, obstetras, anestesistas e pediatras. A maternidade realiza, anualmente, mais de 2 mil partos. Mensalmente, são cerca de 200. Essa quantidade representa 11% dos partos realizados em São Luís.

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