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Após anúncio de ''acordo do século'', Casa Branca pede moderação a Israel

Conselheiro do presidente e figura central no plano, Jared Kushner defende que ações para assentamentos na Cisjordânia só sejam adotadas após eleições israelenses

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Mesquita de Al-Aqsa vista da vila palestina de Abu Dis, local apontado como a futura capital de um Estado palestino
Mesquita de Al-Aqsa vista da vila palestina de Abu Dis, local apontado como a futura capital de um Estado palestino (Reuters)

JERUSALÉM — Dois dias após o anúncio de um plano de paz para Israel e Palestina, chamado por Donald Trump de "acordo do século", um dos principais conselheiros do presidente para a região pediu calma ao governo israelense. Em entrevista a um canal ligado à consultoria de risco Eurasia, Jared Kushner defendeu que qualquer plano relacionado à anexação de assentamentos judaicos na Cisjordânia deve ser adiado pelo menos até depois das eleições gerais, marcadas para o dia 2 de março.

A declaração vem pouco depois de o premier israelense, Benjamin Netanyahu, um dos maiores entusiastas do plano, anunciar que pode submeter ao Parlamento já nos próximos dias um projeto de lei para permitir a aplicação da Lei de Israel nos assentamentos. Na prática, isso corresponderia a uma anexação destas áreas, consideradas ilegais perante as leis internacionais.

" A esperança é de que eles esperem até depois da eleição e aí vamos trabalhar com eles para chegar a algum acerto", afirmou Kushner na entrevista.

Ele ainda deixou claro que os EUA não vão apoiar ações unilaterais de anexações na Cisjordânia, como defendem alguns integrantes do governo israelense, como o ministro da Defesa, Naftali Bennett.

" O que o governo está fazendo é o que concordamos com eles (Israel) na formação de uma equipe técnica para começar os estudos, formar um mapa conceitual", disse Kushner, se referindo ao modelo do que seriam os futuros Estados de Israel e da Palestina.

Ao comentarem as declarações de Kushner, funcionários do governo israelense disseram que "vão discutir o assunto" nos próximos dias. Segundo eles, a visão de Israel era de que a soberania em partes da Cisjordânia ocorreria em duas etapas, sendo que a primeira, relacionada à aplicação da lei do país nos assentamentos já existentes, poderia ser colocada em prática "imediatamente".

Nos últimos dias, Jared Kushner vem sendo alvo de críticas pela falta de equilíbrio do plano, que não contou com a participação de representantes palestinos, nem mesmo na apresentação oficial, na terça-feira. Kusnher, que é genro de Trump, defende a proposta, dizendo que ela é inovadora e rejeitando comentários sobre sua falta de capacidade para liderar o processo. Em uma entrevista à Sky News Arabia, na quarta-feira, disse que "leu 25 livros sobre o conflito entre israelenses e palestinos" antes de elaborar o plano. Ele também não fala árabe.

'Lixeira da História'

Anunciado na terça-feira,28, como a grande ideia para pôr fim a mais de sete décadas de um processo que deveria ter como objetivo a convivência pacífica entre palestinos e israelenses, o plano elaborado pelos EUA traz medidas que são vistas como favoráveis a Israel. Entre os pontos está a questão da capital: Jerusalém seria a "capital indivisível" dos israelenses, enquanto os palestinos ficariam relegados a "áreas" do setor Oriental da cidade.

Outro item sensível trata dos assentamentos judaicos na Cisjordânia — pela proposta, nenhum deles será desocupado, e Israel terá soberania sobre eles. Por outro lado, a expansão dessas áreas seria suspensa por quatro anos. Também foi rejeitado o conceito de "direito de retorno", aplicado a palestinos e seus descendentes que deixaram ou foram expulsos das áreas onde moravam após a criação do Estado de Israel, em 1948 ou após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Eles perderiam o status de refugiados, tendo que optar entre viver no novo Estado palestino, optar pela cidadania do país onde moram ou por realocar-se em uma terceira nação.

Novo país

Sobre o novo Estado palestino, sua área seria consideravelmente menor que as linhas anteriores a 1967, perdendo o acesso à fronteira com a Jordânia. O novo país não teria Forças Armadas, deve reconhecer o Estado de Israel e se comprometer com o desarmamento de grupos armados, como o Hamas, que controla a Faixa de Gaza. Só assim poderia, após quatro anos, ter o reconhecimento de EUA e Israel.

Apesar da oferta de um investimento de até US$ 50 bilhões nos próximos anos, as lideranças palestinas, que não participaram de qualquer etapa da elaboração do plano, rejeitaram a ideia, a comparando inclusive à política de apartheid adotada na África do Sul entre 1948 e 1991.

" Eles continuaram nos pedindo para esperar até que o plano fosse anunciado. Agora vemos que estávamos certos quando o rejeitamos ainda no início. Jerusalém não está à venda. Nossos direitos não estão à venda. A conspiração do século não vai passar, vai acabar na lixeira da História", afirmou o presidente palestino, Mahmoud Abbas.

Ao falar sobre a rejeição dos palestinos, Kushner disse que a oferta é do tipo "pegar ou largar".

" Se você quer mesmo fazer a diferença, se você se preocupa em ajudar o povo, tem uma oportunidade de ouro para fazer isso".

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