Queda de aeronave

Irã diz ter certeza de que avião ucraniano não foi atingido por míssil

Chefe da aviação civil diz que avião ficou no ar por um minuto e meio apesar do incêndio a bordo; França confirma que vai participar das investigações

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Caixa contendo as duas caixas-pretas do 737-800 da Ukraine Airlines são mostrados pela mídia iraniana
Caixa contendo as duas caixas-pretas do 737-800 da Ukraine Airlines são mostrados pela mídia iraniana (Reuters)

TEERÃ — O chefe da Organização de Aviação Civil (OAC) do Irã disse ter a certeza de que o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines, que caiu perto de Teerã na quarta-feira,8, com 176 pessoas a bordo, não foi atingido por um míssil, como alegam os governos de EUA, Canadá e Reino Unido.

"Podemos dizer com clareza que nenhum míssil atingiu a aeronave. Ela permaneceu no ar por um minuto e meio ainda em chamas, e os indícios no local da queda mostram que o piloto decidiu retornar ao aeroporto", declarou Ali Abizadeh.

Ele ainda confirmou que as caixas-pretas vão permanecer no Irã, pelo menos por enquanto. A expectativa é de que elas começariam a ser analisadas na sexta-feira,10.

" Nós precisamos de programas e equipamentos que já estão disponíveis em nosso país. Mas se não conseguirmos extrair os dados por causa dos danos às caixas-pretas, aí vamos pedir ajuda a outros países".

Imagens mostradas pela mídia estatal iraniana mostraram, mais cedo, imagens dos equipamentos amassados, mas ainda não se sabe a extensão dos danos. Mesmo assim, Abizadeh disse que vai compartilhar os dados obtidos com os países envolvidos no inquérito, e pediu que eles também ajudem nas investigações, que podem durar até dois anos, segundo estimativas do governo local.

Representantes de agências de segurança aérea dos EUA, Canadá e França devem chegar a Teerã nos próximos dias, e uma equipe vinda da Ucrânia já está no país. Depois de uma relutância inicial, Abizadeh defendeu a participação da Boeing, fabricante da aeronave, nas investigações.

"Pedimos à Boeing que envie seu representante para participar do processo de leitura da caixa-preta", afirmou. De acordo com as regras internacionais, representantes da agência de aviação civil do país onde ocorreu a queda, do país que emitiu o certificado à aeronave (Ucrânia), do fabricante (Boeing), e do fabricante das turbinas (França e EUA) podem participar da investigação.

Nos primeiros momentos após o desastre com o voo 752 da Ukraine International, o Irã afirmou de maneira categórica que não iria compartilhar os dados com a Boeing ou com autoridades americanas. No entanto, mudou de opinião nesta quinta-feira, passando a defender a participação da empresa e convidando um representante da Junta de Segurança dos Transportes dos EUA.

Suspeitas sobre míssil

O Boeing 737-800 da empresa ucraniana deixou o aeroporto de Teerã-Imam Khomeini às 6h12 de quarta-feira,8, pelo horário local, 23h42 de terça-feira no Brasil, com 176 pessoas a bordo. Pouco mais de dois minutos depois a aeronave desapareceu dos radares, e caiu às 6h18 em um terreno nos arredores da capital iraniana. Ninguém sobreviveu.

As autoridades locais foram rápidas em afirmar que o desastre havia sido causado por uma falha mecânica, mas horas depois uma segunda hipótese começou a ganhar força: a de que a aeronave tinha sido atingida por um míssil terra-ar. Na madrugada de quarta-feira, cinco horas antes da queda do avião, o Irã lançou uma série de mísseis contra posições americanas no Iraque, uma retaliação ao assasinato do general Qassem Soleimani, morto por um drone dos EUA no dia 2 de janeiro.

Segundo fontes da inteligência americana, teriam sido disparados dois foguetes do sistema de defesa SA-15, de fabricação russa e que estariam posicionados perto do aeroporto internacional. Um argumento a favor dessa hipótese é o fato do Irã não saber se seria alvo de uma retaliação dos EUA naquela mesma noite, o que teria colocado seus sistemas de defesa em alerta máximo.

As suspeitas foram reforçadas pelo premier canadense Justin Trudeau na quinta-feira: ele disse que os indícios apontam que o avião foi abatido por um míssil iraniano terra-ar. Das 176 pessoas a bordo, 63 eram cidadãos canadenses, naquela que já é uma das maiores tragédias aéreas da história do país. As suspeitas foram corroboradas pelo premier britânico Boris Johnson. Nesta sexta-feira, o governo da Ucrânia confirmou ter recebido informações relacionadas ao acidente, mas não revelou de que tipo elas seriam.

As autoridades iranianas rejeitam essa hipótese, dizendo que seria "cientificamente impossível". Um porta-voz do governo diz que a ideia faz parte de uma "guerra psicológica" contra o Irã. Por outro lado, começa a aparecer uma pressão sobre as autoridades vinda de dentro do país. Muitos questionam o porquê das operações aéreas terem sido mantidas em meio aos lançamentos de mísseis contra o Iraque. Das 176 vítimas, a maior parte, ou 146, tinha nacionalidade iraniana ou dupla nacionalidade.

Também surgiram internamente acusações de que as autoridades iranianas teriam alterado o local do acidente usando tratores, o que dificultaria o trabalho de análise dos destroços. Para o embaixador iraniano no Reino Unido, as alegações são "absolutamente absurdas".

Mudanças nos voos

A suspeita de que um avião de transportes de passageiros teria sido abatido em um aeroporto que recebe cerca de 9 milhões de passageiros por ano e está localizado em um movimentado corredor aéreo levou a ações imediatas de várias companhias internacionais. A Lufthansa e a Austrian Airlines cancelaram todos os seus voos para a capital iraniana até o dia 20 de janeiro. A Air France, KLM, Singapore Airlines, Qantas, China Airlines, Vietnam Airlines, Norwegian Air Shuttle e Malaysia Airlines disseram que vão evitar o espaço aéreo iraniano. A Suécia anunciou que irá suspender todos os voos para o Irã, inclusive de empresas iranianas, por conta de "incertezas sobre o acidente e sobre a segurança da aviação civil local". Sete cidadãos suecos estavam a bordo do voo 752.

Por outro lado, empresas como a Turkish Airlines, a Aeroflot e a Emirates não apresentaram mudanças em suas escalas de operação, muito embora as agências de segurança da aviação destes países tenham emitido alertas sobre a região do Golfo Pérsico. As empresas locais, como Iran Air, Mahan Air e Qeshm Air, mantiveram todos seus voos regulares.

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