Saída de militares

EUA rechaçam pedido do Iraque para retirar militares americanos

Em resposta, Washington diz que qualquer delegação enviada à Bagdá não discutirá a saída dos militares; os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele detinha armas de destruição em massa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Manifestantes ocupam as ruas de Bagdá em protestos contra o governo que pedem a saída dos EUA e do Irã
Manifestantes ocupam as ruas de Bagdá em protestos contra o governo que pedem a saída dos EUA e do Irã (Reuters)

BEIRUTE — O primeiro-ministro iraquiano, AdelAbdul Mahdi pediu ao secretário de Estado Mike Pompeo que os Estados Unidos enviem uma delegação para o Iraque com o objetivo de formular um mecanismo para a saída dos cerca de 5.200 soldados americanos do país. Em resposta, o governo americano rechaçou a demanda de Bagdá, afirmando que qualquer missão enviada ao Iraque discutirá apenas a "parceria estratégica" dos dois países no combate ao Estado Islâmico.

"O primeiro-ministro disse que forças americanas entraram no Iraque e drones estão voando em seu espaço aéreo sem autorização das autoridades iraquianas. Isto foi uma violação de acordos bilaterais", disse um comunicado emitido por Mahdi, que não estabelece um prazo para que a saída americana seja implementada.

Também em comunicado, o Departamento de Estado dos EUA respondeu ao governo iraquiano, afirmando que qualquer delegação enviada ao Iraque não discutirá a retirada dos militares americanos, tratando apenas de como retomar a "parceria estratégica" entre os dois países. Segundo a declaração, Washingon e Teerã precisam discutir não só sobre a segurança regional, mas suas relações "financeiras, econômicas e diplomáticas".

"Os EUA são uma força positiva no Oriente Médio. Nossa presença militar no Iraque é para continuar o combate ao Estado Islâmico", diz a nota assinada pela porta-voz Morgan Ortagus.

O pedido de Mahdi condiz com uma decisão não vinculante aprovada pelo Parlamento iraquiano no dia 5. O ato é uma retaliação ao ataque aéreo ordenado pelo presidente americano Donald Trump contra o comboio que buscava o general iraniano Qassem Soleimani no aeroporto internacional de Bagdá.

A operação, que o Iraque afirma ter violado sua soberania nacional, também matou Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP) que havia ido receber Soleimani. As FMP são uma coalizão de milícias xiitas iraquianas pró-Irã formadas em 2014 para combater o Estado Islâmico e depois incorporadas às forças de segurança do Iraque.

A operação americana elevou as tensões entre os EUA e Irã para níveis raramente vistos desde a Revolução Iraniana de 1979 e a crise que a sucedeu, quando 52 americanos foram mantidos reféns na embaixada americana em Teerã por 444 dias, entre 1979 e 1980. Em retaliação, a Guarda Revolucionária do Irã atacou duas bases americanas no Iraque, não causando mortes. Desde então, ambos os lados deram sinais de que não pretendem realizar novas ações militares diretas.

Ameaça de sanções

Quando o Parlamento iraquiano aprovou a retirada dos militares americanos, o presidente Donald Trump respondeu com raiva, ameaçando sancionar Bagdá e demandando reembolso pelos investimentos feitos no país ao longo das últimas duas décadas caso o Iraque insista na saída das tropas. O secretário de Defesa, Mark Esper, por sua vez, disse acreditar que o povo iraquiano e seus parlamentares ainda querem a presença americana no país, há duas décadas.

Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele detinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Durante o auge do conflito, havia 150 mil soldados americanos no país. Em 2014, no entanto, as tropas americanas retornaram ao Iraque após o Estado Islâmico tomar a cidade de Mossul e avançar em direção a Bagdá. Em outubro de 2019, havia cerca de 6 mil soldados americanos no país.

Hoje, a função dos militares americanos no Iraque é, basicamente, fornecer logística, inteligência e auxiliar na organização de apoio aéreo para os soldados iraquianos e milícias vinculadas ao Irã que encabeçavam o combate ao EI.

Apesar da decisão do governo iraquiano, a continuidade da presença não é alvo de consenso no país. As minorias sunita e curda, por exemplo, boicotaram o voto no Parlamento que aprovou a retirada dos soldados de Trump e teve apoio dos grupos políticos representativos da maioria xiita, entre eles as facções pró-Irã.

Parte dos muçulmanos xiitas, no entanto, procura se manter equidistante entre Washington e Teerã. O grande aiatolá Ali al-Sistani, principal líder religioso dos xiitas iraquianos, condenou o ataque americano e a retaliação iraniana, ambos em solo iraquiano, denunciando “violações repetidas” da soberania do Iraque. Segundo Al-Sistani, nenhuma força externa deveria decidir o futuro do Iraque.

" A utilização de métodos extremos por ambos os lados que possuem poder e influência apenas aumentará a crise e impedirá uma solução"— disse um de seus porta-vozes durante a oração de sexta-feira,10, na cidade sagrada de Kerbala.

Milhares de pessoas voltaram a tomar as ruas de Bagdá nesta sexta-feira pedindo a saída dos EUA e do Irã do país. As manifestações dão continuidade ao movimento violentamente reprimido que começou no dia 1º de outubro, pedindo reformas políticas e econômicas. A pressão fez com que Mahdi apresentasse sua renúncia, mas até o momento não há acordo sobre quem será seu sucessor.

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