União Europeia

Reino Unido abre caminho para saída da UE em 31 de janeiro

Parlamento aprova acordo do Brexit, e ampla maioria conservadora recém-conquistada permitiu a Boris aprovar o pacto de saída; texto endurece regras e descarta que transição vá além de dezembro de 2020

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Premier Boris Johnson, ao lado do líder trabalhista Jeremy Corbyn, no Parlamento britânico
Premier Boris Johnson, ao lado do líder trabalhista Jeremy Corbyn, no Parlamento britânico (AFP)

LONDRES — Com uma folga de 124 votos, o Parlamento do Reino Unido aprovou, na sexta-feira, 20, o acordo para a saída da União Europeia, abrindo caminho para que o Brexit se concretize no dia 31 de janeiro. A passagem do pacto negociado pelo premier Boris Johnson é uma grande vitória para os conservadores, que conquistaram uma maioria de 80 assentos no Legislativo na semana passada, em pleito que teve o divórcio da UE como tema prioritário.

O acordo de saída foi aprovado por 358 votos a 234, um dia após a rainha dar início à nova sessão parlamentar. Ele, na prática, aumenta a probabilidade de um Brexit duro, pois exclui a possibilidade de estender o período de transição para além de dezembro de 2020. Com isso, Londres terá apenas 11 meses para ratificar um novo acordo comercial com a UE — algo que parece improvável de ocorrer.

Em seu discurso de abertura da sessão, o premier disse que a decisão do eleitorado de seguir em frente com o divórcio da UE “não deve ser vista como a vitória de um partido sobre o outro”. Segundo Boris, os termos “leave” (saída) e “remain” (permanência) — slogans da campanha a favor e contra o Brexit, respectivamente, no referendo de 2016 — são "tão defuntos como os Montéquios e os Capuletos no final da peça [Romeu e Julieta]" e devem ser deixados para trás.

"Agora é o momento para nos unirmos e escrever um novo e animador capítulo na nossa História nacional, de formar uma nova parceria com os nossos amigos europeus, de nos mantermos de cabeça erguida no mundo", disse o premier.

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Próximos passos

Os próximos debates deverão começar já no dia 7, quando os parlamentares retornarão do recesso iniciado na sexta-feira,20. O projeto seguirá, então, para as comissões da Casa, que analisarão detalhadamente cada cláusula e possíveis emendas antes de retorná-lo ao plenário. Dada a ampla maioria conservadora, é quase certo que a legislação seja aprovada. Sendo aprovada em uma nova votação, a legislação será encaminhada para a Câmara dos Lordes, onde passará por um processo parecido, mas protocolar. Em seguida, a medida será sancionada pela rainha Elizabeth II, transformando-se em lei.

O documento aprovado na sexta-feira,20, teve o apoio de seis trabalhistas que desafiaram a diretriz do líder do partido, Jeremy Corbyn, de votar contra o acordo — outros 32 parlamentares optaram por se abster. O texto engloba questões como os direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e dos britânicos na UE, as 39 bilhões de libras esterlinas que deverão ser pagas pelo Reino Unido ao sair do bloco e a fronteira irlandesa. Algumas concessões feitas em outubro para atender à oposição, como leis trabalhistas mais abrangentes, foram revogadas.

A saída da UE, no entanto, não será imediata. O acordo prevê um período de transição de um ano, no qual o Reino Unido continuará a seguir as regras europeias sobre tarifas e produtos e se manterá dentro do mercado único europeu. Havia a possibilidade de estender este prazo por um ou dois anos, mas os conservadores o descartaram, argumentando que o prazo inflexível “fortalece a posição de negociação” de um novo acordo comercial com a UE.

Impasses

Além das prováveis dificuldades para a negociação de um novo acordo comercial com a UE, Boris também deverá enfrentar dificuldades em questões internas: especialmente no que diz respeito à Escócia e à Irlanda do Norte. Os escoceses votaram contra a saída da UE no referendo de 2016, e Partido Nacional Escocês, que ganhou 13 assentos nas eleições do último dia 12, jamais escondeu a vontade de realizar um segundo referendo sobre a independência escocesa — algo que os conservadores se recusam a fazer.

A questão irlandesa, por sua vez, é um dos pontos centrais para as negociações do Brexit. A fronteira entre a Irlanda do Norte, parte do Reino Unido, e a República da Irlanda, integrante da UE, será a única ligação terrestre entre o território britânico e o bloco europeu. Os norte-irlandeses não só votaram a favor da permanência em 2016, mas temem os possíveis efeitos econômicos e mesmo um isolamento da região, que apesar de se juntar à união aduaneira britânica, continuará seguindo do mercado comum europeu.

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