Política dos EUA

Pelosi pode adiar julgamento do impeachment de Trump

Presidente da Câmara dos Deputados pode adiar indefinidamente o envio dos artigos de impeachment do presidente Donald Trump ao Senado para pressionar republicanos; ela que testemunhas sejam convocadas a depor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, durante votação
Presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, durante votação (Reuters)

WASHINGTON - A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, a democrata Nancy Pelosi, indicou na noite de quarta-feira,18, que a Casa pode adiar indefinidamente o envio dos artigos de impeachment do presidente Donald Trump ao Senado, colocando um novo elemento de incerteza em um processo que pode gerar profundas implicações políticas.

Segundo Pelosi, os artigos serão retidos até que fique claro que o Senado fará um julgamento bipartidário. A estratégia sugere que ela usará as acusações como peça de barganha em uma negociação sobre os termos do julgamento. Os democratas querem pressionar o Senado a convocar testemunhas que a Casa Branca impediu de participar das audiências de inquérito durante os três meses de investigação na Câmara. No entanto, a ação pode criar um limbo até o início de janeiro, atrasando o começo do julgamento por um período indeterminado de tempo.

"Tomaremos nossa decisão sobre quando iremos enviá-los quando virmos o que eles estão fazendo no Senado", disse Pelosi. "Até agora, não vimos nada que pareça justo para nós".

Trump e seus aliados disseram ter interesse em um julgamento e absolvição rápidos, e Pelosi acredita que desacelerar o processo pode fazer com que os republicanos do Senado criem procedimentos que os democratas veem como mais favoráveis, de acordo com membros do partido que falaram em condição de anonimato.

No entanto, não está claro se Pelosi conseguirá pressionar o senador republicano Mitch McConnell, que como líder da maioria no Senado tem um amplo poder de determinar os termos do julgamento. Um assessor do senador, Josh Holmes, destacou que o líder não tinha pressa para julgar as acusações envolvendo o presidente.

Absolvição

Os senadores democratas já se queixaram de que McConnell estava tentando forçar a absolvição do presidente ao se negar a convocar testemunhas ou a obter novas provas. Eles também criticaram as afirmações do republicano de que seu papel não era agir como um "juiz imparcial" durante um julgamento, e que ele iria coordenar de perto qualquer julgamento com a Casa Branca.

No Senado, o plenário age como um júri, incluída a obrigação legal de imparcialidade, o que normalmente não é cumprido. Os representantes da Câmara são a acusação e o presidente terá direito à defesa. As sessões são presididas pelo chefe da Suprema Corte, John Roberts, mas sua autoridade não é total: se os congressistas decidirem, por maioria simples, derrubar ou adotar alguma decisão, esta passará a valer. Os senadores também terão o poder de convocar testemunhas e aceitar ou derrubar provas.

Giuliani, Pompeo e Bolton

O líder da Comissão de Justiça do Senado, Lindsey Graham, um firme aliado de Trump, já disse que o julgamento deve ser "o mais rápido possível", pontuando que não apoia a convocação de testemunhas de acusação ou de defesa. O próprio Graham, porém, convidou, na semana passada, o advogado de Trump, Rudolph Giuliani, a comparecer à comissão. Giuliani é apontado como um dos principais personagens do impeachment, sendo um dos responsáveis pela diplomacia "informal" com a Ucrânia.

" Isso é o que eu não considero um julgamento justo", disse Pelosi na quarta-feira,18.

Os democratas pressionam McConnell a convocar os testemunhos de funcionários da Casa Branca que não participaram das audiências na Câmara e que poderiam reforçar as acusações contra Trump. Além de Giuliani, estão na lista o secretário de Estado, Mike Pompeo; o chefe de Gabinete interino, Mick Mulvaney; e John Bolton, ex-conselheiro de Segurança Nacional.

Embora o foco no Senado esteja nas possíveis defecções republicanas, os democratas também enfrentam desafios. Alguns membros do partido mais ao centro podem se sentir tentados a inocentar Trump, como aconteceu na votação na Câmara em que três deputados democratas votaram contra as acusações. Entre eles estariam Joe Manchin, de Virgínia Ocidental; Kyrsten Sinema, do Arizona; e Doug Jones, do Alabama.

Na noite de quarta, a Câmara considerou o presidente culpado de abuso de poder e obstrução do Congresso, em um processo de impeachment que tem poucas chances de removê-lo do cargo, dada a maioria governista no Senado, onde Trump será julgado. Eram necessários 216 votos, maioria simples, para aprovar as duas acusações.

Na primeira acusação, de abuso de poder, 230 deputados votaram a favor e 197 votaram contra, com duas dissidências entre os democratas, que têm maioria na Câmara. A segunda acusação, de obstrução, recebeu 229 votos a favor e 198 contra, com três dissidências democratas. Os deputados republicanos votaram em bloco contra as duas acusações, em mais uma evidência da polarização extrema que marcou o processo.

Denúncias

As acusações estão relacionadas às denúncias de que Trump teria pressionado o governo da Ucrânia para que investigasse o ex-vice-presidente Joe Biden, seu potencial rival nas eleições de 2020.

O presidente, que continua no cargo pelo menos até o resultado do julgamento no Senado, estava em um comício de campanha no estado de Michigan durante a votação. Ele chamou todo o processo de "motim", dizendo que os democratas estão "consumidos pelo ódio" e que o único objetivo deles é "anular sua vitória nas urnas", referindo-se às eleições de 2016. Ele também celebrou o fato de todos os republicanos terem votado a seu favor.

"Este impeachment partidário e desordenado é uma marcha de suicídio político para o Partido Democrata", disse Trump aos apoiadores presentes. Segundo ele, os democratas, da "louca Nancy Pelosi se marcaram com uma eterna marca de vergonha".

Ontem, 19, o presidente usou sua conta oficial no Twitter para criticar o processo de impeachment, dizendo ser "a maior caça às bruxas na história americana". Em uma das publicações ele comemorou a união dos republicanos. Em outra, ele disse, escrevendo apenas com letras maiúsculas, que o processo seria um "Assédio presidencial !"

"100% dos Votos Republicanos. É disso que as pessoas estão falando. Os republicanos estão mais unidos que nunca!", tuitou.

Ele também publicou uma foto de si mesmo, apontando para a câmera, com a frase "na verdade eles não estão atrás de mim; eles estão atrás de você; eu sou apenas o caminho."

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