Editorial

Conflitos extremos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

No dia 1º de novembro, o assassinato do índio Paulo Paulino Guajajara no Maranhão ganhou repercussão internacional e evidenciou a fragilidade da proteção aos índios no Brasil, bem como a situação de conflito agrário no Maranhão que tem os índios como alvos de grileiros e madeireiros ilegais. O conflito também causou a morte do madeireiro Márcio Greykue Moreira Pereira e deixou ferido o primo de Paulo Guajajara, Laércio Guajajara.

Segundo declarações oficiais, Paulo Paulino foi morto em uma emboscada na Terra Indígena Araribóia, região do município de Bom Jesus das Selvas. Integrante do grupo Guardiões da Floresta, cuja missão é evitar o devastamento da Floresta Amazônica, a sua morte teve forte comoção e, na ocasião, além de notas no âmbito estadual, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, anunciou em redes sociais que a Polícia Federal iria acompanhar os motivos dos conflitos, classificando o assassinato como “crime grave à Justiça”.

A morte ocupou bom destaque do noticiário nacional, no entanto, um mês depois, além de ninguém ter sido preso pelo crime, o Maranhão voltou a ter destaque por novo ataque que teve indígenas como vítimas. No último sábado, 7, dois caciques Guajajara foram mortos e outros dois índios ficaram feridos em mais um ataque. Firmino Silvino Guajajara e Raimundo Bernice Guajajara e os outros dois índios feridos foram atacados a tiros na Aldeia El Betel, perto do município de Jenipapo dos Vieiras, no centro-sul do estado. Os disparos teriam sido feitos por homens que estavam em um carro branco.

Novamente, o ministro da Justiça, Sergio Moro, se manifestou sobre o fato por meio de suas redes sociais e a Secretária Estadual de Direitos Humanos repudiou os ataques. No entanto, bem mais que notas oficiais, o que a sociedade necessita é de respostas práticas, soluções e transparências nas investigações nos conflitos que estão ocorrendo. Paulino Guajajara foi morto em novembro, bem mais que tornar-se um símbolo de resistência e sua imagem ser amplamente divulgada pelo mundo, é urgente que o caso seja esclarecido. O que foi feito? Não há ainda nenhum suspeito do crime? A falta de resolução desse crime reforça a impunidade?

O Poder Público, principalmente no âmbito estadual, não pode agir como se estivesse sendo pego de surpresa para a situação conflituosa que existe no Maranhão, pois ela não é silenciosa. Em 2017, um conflito entre proprietários de terras e indígenas da etnia Akroá- Gamella, no município de Viana, culminou com cenas de violência brutal, um dos indígenas teve as mãos decepadas pelo grupo que o atacou. Segundo as investigações da época, os índios foram cercados por um grupo de, em média 200 pessoas, capitaneados por madeireiros e donos de propriedades instaladas na área indígena.

Após o novo atentado, ocorrido no sábado, a situação ficou mais tensa, o trecho da BR-226 na altura das aldeias indígenas Boa Vista e El Betel, localizado entre os municípios de Barra do Corda e Grajaú, foi interditada por índios da etnia Guajajara, em busca de ações para um conflito que a cada dia fica mais complexo. Até quando, essa tensão vai ficar sem resposta?


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