Em Auschwitz

''Memória dos crimes do nazismo é inseparável", diz Angela Merkel

Chanceler visita antigo campo de concentração na Polônia pela primeira vez, em meio ao crescimento do antissemitismo e da extrema direita na Alemanha; ela anunciou a doação de 60 milhões de euros para auxiliar na conservação da área

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Merkel coloca uma coroa de flores no Muro da Morte, durante sua visita à Auschwitz
Merkel coloca uma coroa de flores no Muro da Morte, durante sua visita à Auschwitz (AFP)

VARSÓVIA — A chanceler federal Angela Merkel realiza, na sexta-feira, 6, uma visita histórica a Auschwitz , na Polônia, maior campo de extermínio do regime nazista. Primeira líder alemã a visitar o local desde 1995, Merkel anunciará a doação de 60 milhões de euros para auxiliar na conservação da área, transformada em um museu e memorial. Sua visita coincide com o aumento do antissemitismo e com o avanço da extrema direita na Europa e, em particular, na Alemanha.

Ao lado do primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki, do sobrevivente de Auscwitz Stanislaw Bartnikowski e de representantes da comunidade judaica, Merkel cruzou no início da manhã o portão do campo, no qual se lê o slogan nazista “O trabalho liberta”. Ela visitou também o Muro da Morte, onde dezenas de milhares de detidos foram executados, a maior parte deles prisioneiros políticos poloneses.

No campo adjacente de Birkenau, a cerca de três quilômetros de Auschwitz, a chanceler federal disse que o horror causado pelo Holocausto é "incompreensível". Ela afirmou ainda que o Estado alemão tem uma obrigação com as vítimas e deve cumprir sua responsabilidade de "proteger os judeus", afirmando que "o antissemitismo não será tolerado".

"Recordar os crimes, nomear seus autores e realizar uma homenagem digna às vítimas é uma responsabilidade que não acaba nunca. Não é negociável. É inseparável de nosso país. Ter consciência desta responsabilidade é parte inseparável de nossa identidade nacional", disse a chanceler, que anunciou em 2018 que não concorrerá à reeleição.

A doação faz com que a Alemanha se torne o maior doador da fundação, que financia os esforços de conservação do local onde ao menos 1,1 milhão de pessoas morreram durante o a ocupação nazista da Polônia, entre 1940 e 1945. Metade dos 60 milhões de euros virá do governo federal da Alemanha e a outra metade, dos governos regionais do país.

O dinheiro garantirá a conservação de 30 prédios de tijolos no campo de Birkenau, incluindo uma cozinha antiga e uma latrina. Com a crise econômica de 2008, os fundos do Memorial, que dependem de ações, perderam parte de seu valor, gerando a necessidade de U$ 4,62 milhões a US$ 5,13 milhões ao ano para manter sua conservação. Há dois anos, o museu pede doações e, até o momento, o governo alemão foi o único a responder ao chamado. No passado, a Polônia e os Estados Unidos já foram doadores.

Crescimento do antissemitismo

A visita da chanceler, nascida nove anos após a Segunda Guerra Mundial, ocorre pouco antes da comemoração do 75º aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho soviético, em 27 de janeiro de 1945. Seu mandato é, desde o início, marcado por demonstrações de solidariedade com as vítimas do Holocausto, quando estima-se que cerca de 11 milhões de pessoas, das quais 6 milhões de judeus, tenham sido mortas por ordens do Reich.

Desde que chegou ao poder, Merkel já visitou o Yad Vashen — Centro de Memória do Holocausto localizado em Israel — cinco vezes. Em 2009, ela visitou o campo de concentração de Buchenwald ao lado do presidente americano Barack Obama (2009-2017). A chanceler federal também foi a Dachau em duas ocasiões, em 2013 e 2015.

Na Alemanha, a memória do Holocausto está no centro da reconstrução de sua identidade pós-guerra, mas o aumento do antissemitismo preocupa as autoridades. O Alternativa para a Alemanha (AfD), partido de extrema direita, chegou ao Parlamento há dois anos e se transformou rapidamente na terceira força política do país. A agremiação defende, entre outras políticas racistas, anti-imigratórias e antissemitas, o fim da "cultura do arrependimento" no que diz respeito ao nazismo.

Números oficiais mostram que ocorreram 1.646 crimes de ódio contra judeus na Alemanha em 2018, um aumento de 10% em relação ao ano anterior. Há menos de dois meses, uma mulher de 40 anos e um homem de 20 foram mortos do lado de fora de uma sinagoga no Leste do país. Preso, o responsável pelo ataque confessou motivações antissemitas. Mais de seis milhões de judeus foram mortos durante o Holocausto.

Merkel é a terceira chanceler federal a visitar o local. O primeiro foi Helmut Schmidt (1974-1982), em 1977, e o segundo, Helmut Kohl, que visitou Auschwitz em 1989 e 1995.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.