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Conheça Budapeste, a gema bruta do Leste Europeu

Faça um passeio pela deslumbrante joia da Hungria, sua história, arquitetura peculiar, pontes, gastronomia e muito mais.

Sheila Dureles

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Vista de Budapeste, cortada pelo Rio Danúbio
Vista de Budapeste, cortada pelo Rio Danúbio

A Hungria é como uma colcha de retalhos. Vários povos fizeram parte de sua fundação: os romanos, os lombardos, os magiares, os otomanos, os germânicos... Até 1873, Buda e Peste eram cidades separadas.

Com 2,5 milhões de habitantes na área metropolitana (contra 1,5 milhão da cidade tcheca), a capital da Hungria tem uma arquitetura histórica mais espalhada, 75% dela destruída na Segunda Guerra Mundial e reconstruída no estilo original. Algumas pérolas saltam à vista, como o magnífico prédio do Parlamento, mas muitas de suas joias precisam ser garimpadas na paisagem.

É um convite ao caminhar. Conforme se passeia pelo local, o visitante se depara com exemplos da escola art nouveau magiar, como o Banco Postal, o Museu de Artes Aplicadas e o Museu Geológico. Prepare-se para ficar de boca aberta ao admirar as três construções. Elas ostentam um rico mosaico de porcelana colorida no telhado, um símbolo de Budapeste produzido pela fábrica Zsolnay, fundada em 1853 na cidade de Pécs.

Estamos na margem Peste da cidade, separados de Buda pelo Rio Danúbio, o mesmo que, em Viena, inspirou Strauss a criar sua valsa famosa. De Buda a Peste e vice-versa, as quatro pontes centrais (Margareth, Elizabeth, da Liberdade e das Correntes) enfeitam com graça o cenário, como se o morro e o castelo que se agigantam em Buda não fossem beleza suficiente.

Instalação homenageia judeus mortos na Segunda Guerra
Instalação homenageia judeus mortos na Segunda Guerra

Estada

A cidade para ser devidamente explorada demanda no mínimo quatro dias e três noites, mas, para aproveitá-la ao máximo, aconselho a ficar seis dias e cinco noites. Só a pulsante Peste demanda três, quatro dias de passeios, já que é onde quase tudo acontece. De frente para a Ponte das Correntes, o Palácio Gresham, de 1906, um prédio art nouveau todo branquinho, é deslumbrante. Dá até para se hospedar nele – hoje, um luxuoso Hotel Four Seasons -, mas, se o orçamento não permitir, peça para conhecer a recepção e observe os gradis, os arcos e os vitrais.

De lá, você pode percorrer a margem Peste do Danúbio pelo tram número 2, ou, ainda melhor, a pé. À esquerda do hotel, o calçadão rente aos prédios espalha diversas esculturas. À direita, desça até a mureta banhada pelo rio e localize uma instalação com 60 pares de sapatos de ferro, homenagem aos judeus mortos na Segunda Guerra. Bem ali, eles eram subtraídos de seus calçados – itens valiosos à época – antes de serem assassinados e atirados ao rio.

Lembranças e gastronomia

Cerca de 450 mil judeus húngaros foram mortos no Holocausto, a maioria em Auschwitz, mas muitos em Budapeste. Hoje, o bairro judeu – a 20 minutos dos sapatos do Danúbio – combina as lembranças desse passado com a celebração do presente.

Transformado em gueto durante a guerra, o perímetro guarda testemunhos como a sinagoga da Rua Dohány, a maior da Europa e uma das mais lindas do mundo, erguida em 1859 com elementos neo-mouriscos. Em seu jardim, jazem 2 281 judeus mortos por inanição ou pelos fascistas húngaros na guerra, genocídio que um grande salgueiro de metal – mais conhecido como árvore da vida – relembra ao exibir os nomes das vítimas gravados nas folhas metálicas.

Mas o tempo passou, e o bairro judeu converteu-se em um reduto, vá lá, hipster, com direito ao food court Karavan, à viela etílica Gozsdu Udvar e aos ruin pubs, enormes bares com decoração de garagem que ocupam prédios decrépitos e labirínticos. Os dois mais famosos são o Szimpla e o Instant, ambos cheios.

É seguro caminhar à noite no bairro judeu e no Centro de Budapeste, por onde passam hordas de notívaga madrugada adentro. A principal artéria dos pedestres é o calçadão da Váci Utca, repleto de lojas de roupas e souvenirs, casas de câmbio e cafés. Dá para sentar por lá e ficar só observando o povo passar. Na extremidade da Váci próxima à Ponte das Correntes, a Praça Vörösmarty sedia o requintado café Gerbeaud, uma instituição húngara desde 1858, e o restaurante Onyx, um dos estrelados Michelin da cidade.

Por falar em comida, um dos endereços distintivos de Peste é o Mercado Central, poderoso prédio gótico com telhado da afamada porcelana Zsolnay. Nas barracas de seu interior amplo e asséptico, a páprica, condimento extraído do pimentão seco que tempera o goulash, é vendida com apelo de suvenir. Escada acima, no mezanino, você confere as preciosas rendas húngaras (até R$ 500 o caminho de mesa) e as concorridas barracas de comidas típicas – apesar do ótimo aspecto das linguiças, o balcão mais bombado prepara o lángos, espécie de pizza frita salgadinha e saborosa. Se quiser evitar o apertado corredor, o restaurante Fakanál, no mesmo piso, serve receitas húngaras legítimas.

A páprica é o produto típico mais popular do mercado, mas não o mais interessante. Produzido no nordeste do país, o vinho Tokaji (lê-se “tokai”) do tipo aszú é uma aclamada bebida dourada com notas de damasco e dulçor de mel. Dotado de acidez rara para um vinho doce, esse néctar é uma sobremesa líquida em complexidade, não raro avaliada acima dos 90 pontos pela crítica especializada.

Os vinhos são vendidos em toda a cidade. Se for em períodos mais frios aconselho a comprar e tomar o vinho quente que eles servem. Vendido também nas ruas. Custa em torno de 5 euros um copo. É um excelente elixir para um turista cansado de bater perna pela cidade e aquece até os corações mais gélidos.

O Tokaji vai bem com queijos, frutas, bolos e foie gras (libamáj, em húngaro), do qual o país é o segundo maior produtor mundial. O fígado gordo de ganso (pode ser de pato também, mas a Hungria produz mais o de ganso) é largamente vendido no mercado a preços não exatamente módicos, ainda assim a metade ou menos do que custa no Brasil. Se nunca provou esta será uma excelente oportunidade.

Quando o assunto é sobremesa não deixe de provar o famoso strudel no restaurante Rétesház, o mais famoso e o mix de sobremesas húngaras do Café New York.

Edificações históricas

Observe os casarões e prédios neoclássicos da Andrássy, misto de Champs-Élysées com Avenida Paulista do ciclo do café. As propriedades ocupadas por embaixadas, museus e lojas de grife têm seu ápice na Ópera de Budapeste, construção de 1884 que preserva belos afrescos neo-renascentistas. No fim da avenida, a Praça dos Heróis merece a visita por seu apoteótico monumento a 14 líderes húngaros, entre os quais o venerado rei Matias, dignitário da coroa entre 1458 e 1490.

Outros endereços para conhecer a história húngara em Peste são o Museu do Terror, que versa sobre os crimes políticos durante o regime comunista (1947-1989), e o Museu Nacional, cuja curadoria cobre desde achados pré-históricos até o fim da Cortina de Ferro, passando pela chegada dos magiares, a base étnica do país, no século 9.

Mas o foie gras da narrativa húngara em Peste é o seu Parlamento, um estupendo edifício neogótico de 1904 às margens do Danúbio. A visita revela escadarias ornamentais, tetos decorados e um plenário todo vazado de arcos góticos, além de um tesouro húngaro superlativo, a Santa Coroa da Hungria. Usada pelos reis entre os séculos 12 e 19, a peça de ouro é encimada por uma cruz torta, fruto de um acidente no século 17. Como ninguém ousou endireitá-la, ela se tornou sua marca registrada.

Inconfundíveis também são as termas de Budapeste. Széchenyi, complexo de banhos termais no Parque da Cidade, é um dos programas mais insólitos e obrigatórios da capital. Com traje de banho, toalha e chinelos na mochila, basta alugar uma cabine, se trocar e curtir a água quentinha, captada de nascentes subterrâneas.

Piscina de Budapeste atrai multidão de banhistas
Piscina de Budapeste atrai multidão de banhistas

Buda

Uma vez em Buda, começamos te apresentando as piscinas do Gellért Spa fazem sucesso semelhante ao Széchenyi só que em um cenário indoor, todo ornamentado de elementos art nouveau e cercado de colunas que remetem às casas de banho da antiguidade.

Para simplificar vale dizer que Buda se divide em Cidade Medieval e Castelo Real.

A cidade medieval é composta pela Igreja Matias, pelo Bastião dos Pescadores, pelas ruínas do Mosteiro Dominicano (foi dominado pelo Hotel Hilton, mas ainda dá para ver uma parte), pelo Museu da história Militar, pelas ruínas da Igreja Maria Magdalena e pelo Labirinto.

A igreja de Matias está localizada no centro da Praça da Santíssima Trindade (Szentháromság tér), na mesma praça que se encontra o bastião dos pescadores. Foi construída entre 1255 e 1269 e chegou inclusive a ser uma mesquita turca. Em 1873, ela foi restaurada e recebeu seu estilo neo-gótico.

O Bastião dos Pescadores é um bastião neo-gótico e neo-românico localizado na colina do Castelo de Budapeste, atrás da Igreja Matias. Seu curioso nome provém da corporação de pescadores que era responsável por defender esse trecho das muralhas da cidade durante a Idade Média. Suas setes torres representam as setes tribos húngara que se instalaram na Bacia dos Cárpatos em 896. O bastião oferece uma vista incrível da cidade, destacando o parlamento húngaro. Para quem ama fotografias, no corredor abaixo há diversos arco que emolduram a cidade.

* Porta de Viena (Bécsi kapu): Saindo do bastião, você poderá passar por uma porta chamado Porta de Viena, pois ela conectava o distrito do Castelo de Buda até a estrada que seguia para Viena. Curiosamente, na idade média, essa porta se chamava porta do sábado (Szombat-kapu), por causa da feira que ali ocorria todos os sábados. Depois se tornou a porta dos judeus (Zsidó-kapu). Foi demolida em 1896 e a que vemos hoje é uma reconstrução feita em 1936.

Vista do Castelo de Budapeste
Vista do Castelo de Budapeste

O complexo do castelo de Budapeste

Aquilo que se chama de castelo é a composição de vários prédios em um mesmo espaço. O complexo, chamado de Castelo Real contém os prédios da Galeria Nacional, a Biblioteca Nacional, o Museu Histórico, o Palácio Sándor e o Teatro de Dança Húngara.

* O Castelo Real

Boa parte do Castelo Real abriga a Galeria Nacional. A outra parte abriga a Biblioteca Nacional e tem cerca de dois milhões e meio de volumes e mais de cinco milhões de outros documentos.

* A Galeria Nacional Húngara (Magyar Nemzeti Galéria)

Fundada em 1975, o espaço guarda grande parte dos tesouros da cidade e apresenta a arte húngara da época medieval até os dias de hoje e também apresenta a maior e melhor coleção de pinturas e esculturas da Hungria. Sua entrada está localizada na parte da frente do palácio.

* Museu de História de Budapeste (Budapesti Történeti Múzeum)

O Museu de História de Budapeste está localizado na Ala Sul do Castelo e apresenta a história de Budapeste desde as suas origens até ao final da era comunista, incluindo a história do Castelo e do Palácio. Aqui também é possível visitar a Capela Real e a abobada da Galeria Gótica.

Curiosidades

- As escadas rolantes são mais velozes que o normal.

- Taxistas de rua estimam uma corrida curta em € 20 (use o app Uber ou recorra a um serviço de confiança do hotel ou do restaurante).

Alguém o ensinará que os húngaros inventaram…

– O palito de fósforo moderno (János Irinyi, em 1836)

– A caneta esferográfica (László Bíró, em 1931)

– O cubo mágico (Erno Rubik, em 1974)

…E descobriram a vitamina C (Albert Szent-Györgyi, em 1927, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel, em 1937).

Como chegar

Budapeste é o principal hub logístico da Hungria. Trens, barcos, aviões e estradas convergem para cá, portanto é tarefa razoavelmente simplesmente chegar até aqui a partir das grandes capitais europeias.

Quando ir

Escolha: no frio de inverno, com menos turistas (exceto no Natal), ou nos dias longos de verão, com muvuca e hotéis encarecidos. Abr/mai e set/out são um bom meio-termo.

Dinheiro: Florim

Línguas: O húngaro é incompreensível, mas vale aprender as saudações básicas, o que conquista a simpatia dos locais. O inglês é corrente em hotéis, menus, mapas, trams…

Fuso: +5 horas

Documentos: Passaporte válido por período mínimo de 6 meses. Não há a necessidade de visto.

Fale comigo: Sheila Dureles; sheila@dureles.com.br

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