Operação Faz de Conta

MP faz operação para apurar desvio de verba de emendas em SL

Operação Faz de Conta foi autorizada por decisão judicial da 1ª Vara Criminal da capital contra institutos

OEstadoMA

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Instituto Social Renascer recebeu emendas oriundas da Semdel
Instituto Social Renascer recebeu emendas oriundas da Semdel (Documento emenda)

O Ministério Público do Maranhão (MPMA) e a Polícia Civil cumpriram ontem dez mandados de busca e apreensão e a um mandado de prisão temporária, em São Luís, no bojo da “Operação Faz de Conta”, que investiga denúncias de desvios de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares da Câmara Municipal. A ação foi autorizada por decisão judicial da 1ª Vara Criminal da capital.

A operação teve como alvos as entidades Instituto Social Renascer e Instituto Periferia, e seus responsáveis legais, Izadora Pestana Rocha e Márcio Rogério Leonardi, respectivamente. Além deles, os investigadores cumpriram mandados contra os contadores Ney Almeida Duarte, Paulo Roberto Barros Gomes e Neuber Dias Ferreira Júnior e seus respectivos escritórios de contabilidade; além do despachante Márcio Jorge Berredo Barbosa.

“As medidas foram requeridas pelo MPMA para evitar a destruição ou ocultação de provas, e para instruir o Procedimento Investigatório Criminal instaurado pela 1ª Promotoria de Justiça Criminal do Termo Judiciário de São Luís, que apura a possível falsificação do Atestado de Existência e Regular Funcionamento, emitido pelas Promotorias de Justiça de Fundações e Entidades de Interesse Social da Capital”, diz comunicado emitido pelo Ministério Público nas primeiras horas da manhã de ontem.

Segundo as investigações, os dois institutos teriam utilizado o Atestado de Existência e Regular Funcionamento para se beneficiar da celebração de convênios com secretarias municipais de São Luís, com aplicação de recursos de emendas parlamentares da Câmara.
O contador Paulo Roberto Barros Gomes foi preso temporariamente. Também foram apreendidos computadores e diversos documentos, que serão periciados.

Coordenaram a operação as unidades do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), bem como a Superintendência de Prevenção e Combate à Corrupção (Seccor) e a Superintendência de Polícia Civil da Capital (SPCC).

Bate-boca

As suspeitas de corrupção envolvendo a liberação de emendas tiveram início em julho de 2017, após um bate-boca registrado em plenário entre os vereadores Honorato Fernandes (PT) e Beto Castro (Pros). Naquele dia, depois de ter sido chamado de “rato” e “fuxiqueiro” pelo petista, Castro chamou o petista para a briga.

“Em primeiro lugar, eu quero lhe dizer que eu sou homem em qualquer circunstância, aqui e lá fora. Do jeito que tu quiser. Eu sou homem pra ti aqui e lá fora, do jeito que tu quiser”, disse Beto Castro.
Honorato respondeu: “Eu sou um homem educado”. “Mas é um bandido”, retrucou Castro. “Bandido é Vossa Excelência, que tem três identidades”, emendou Honorato.

Foi quando Castro citou pela primeira vez supostas irregularidades com emendas e com um certo “instituto”. “Puxa as tuas contas. Mostra o teu patrimônio para comparar com o teu salário. Tu recebeu R$ 1 milhão e porrada aí, rapá. Passou perna em todo mundo com essas emendas aí. Tu sabe do que eu tô falando”, disse Beto Castro. “Prove”, desafiou Honorato.

O parlamentar do Pros completou, acusando o colega de “lavar dinheiro com emendas”. “Provo pelo teu instituto. Tu sobe naquela tribuna para dizer que é santo. E fale na minha frente, porque homem faz é assim. Olha no olho e fala. Tu é bandido, rapá. Lava dinheiro com emenda e vem com conversa pra cá rapá. Aqui não tem santo, não”, finalizou.

O caso foi parar no Ministério Público que, posteriormente, arquivou a denúncia contra o petista por não identificar as irregularidades no convênio citado por Beto Castro.

Início da investigação

Um dia depois do bate-boca, procurador-geral de Justiça do Maranhão, Luiz Gonzaga Martins Coelho, informo a O Estado que o Ministério Público iria investigar a denúncia de “venda” de emendas parlamentares na Câmara.
Na ocasião, Gonzaga disse que tomou conhecimento do caso pela imprensa e que despachou pela remessa do caso para distribuição na Diretoria das Promotorias da Capital.

8 vereadores direcionaram emendas a institutos

Pelo menos oito vereadores destinaram emendas parlamentares aos dois institutos investigados pela Polícia Civil e pelo Ministério Público no bojo da “Operação Faz de Conta”

Dados do Portal da Transparência da Prefeitura de São Luís acessados pela reportagem de O Estado indicam que o Instituto Renascer e o Instituo Periferia já receberam, juntos, R$ 1,9 milhão da Secretaria Municipal de Desportos e Lazer (Semdel) de São Luís entre 2018 e 2019.

Os recursos foram direcionados pelos vereadores Francisco Chaguinhas (PP), Raimundo Penha (PDT), Josué Pinheiro (PSDB), Paulo Victor (PTC), Joãozinho Freitas (PTB), Aldir Júnior (PL) e Ricardo Diniz (PRTB).

A vereadora Concita Pinto (Patriota) chegou a destinar emenda de R$ 100 mil ao Renascer, mas não há registro de pagamento. Em contato com O Estado, a assessoria da parlamentar negou irregularidades.

O vereador Raimundo Penha confirmou que indicou emenda ao Instituto Periferia, mas disse desconhecer “que a entidade não possuía a documentação necessária, vez a verificação de documentos é feita pela Prefeitura no momento da celebração do convênio, bem como é analisada pela Controladoria Geral do Município no momento da homologação”.

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