Aos libaneses

Líder do Hezbollah pede governo que ''dê confiança''

O líder Hassan Nasrallah foi contra a renúncia do premier Saad Hariri, mas sinalizou que pode concordar com nomeações menos políticas e mais técnicas para o novo gabinete

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Apoiadores acompanham discurso do líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah
Apoiadores acompanham discurso do líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah (AFP)

BEIRUTE - O líder de uma das maiores forças políticas do Líbano, o Hezbollah , defendeu que seja formado um governo “que conquiste a confiança do povo”, e que escute as demandas dos manifestantes que há mais de duas semanas ocupam as ruas do país.

"Os ministros devem ser ministros em tempo integral, dar provas de transparência, de sinceridade e coragem", afirmou o xeque Hassan Nasrallah, em discurso transmitido ao vivo pela TV. "Um novo governo deve ser formado o quanto antes".

Após a renúncia do premier Saad Hariri , na terça, o presidente Michel Aoun prometeu que o novo Gabinete, mesmo que comandado por Hariri, será formado com base nas competências dos seus ocupantes, deixando de lado os critérios políticos. Essa é uma das muitas bandeiras levantadas nos protestos, mas encontra resistência em boa parte dos grupos que comandam o país, inclusive o Hezbollah, que não concordou com a renúncia do governo do qual faz parte. O grupo considera que o movimento tem o potencial de gerar " caos e à guerra civil ".

"Somos contra a renúncia, mas o premier tomou sua decisão e deve ter suas razões, não nos cabe debatê-las aqui. Nossa preocupação é evitar o vazio de poder, o que é desejado por algumas forças", disse Nasrallah, antes de afirmar de um “golpe de Estado” foi evitado, sem fazer acusações.

Para analistas, a fala de Nasrallah foi mais amena do que os discursos anteriores, o que poderia indicar uma disposição maior para concessões nas conversas para formar o Gabinete e tentar colocar fim àquela que é uma das maiores crises desde o fim da guerra civil entre 1975 e 1990.

Incitados pelas condições econômicas mas tendo como estopim a proposta para cobrar um imposto sobre aplicativos de mensagem , como o WhatsApp, os protestos no Líbano colocaram todo o sistema político na parede ao cobrar melhores serviços públicos, medidas para resgatar a economia e para gerar emprego. Ruas e estradas ficaram bloqueadas por semanas, mesmo diante das promessas dos políticos de que as coisas iriam mudar.

As bandeiras dos manifestantes também colocam em xeque o complexo modelo político que rege o Líbano há décadas, baseado em um tênue arranjo sectário entre as muitas comunidades nesta nação de 6 milhões de habitantes. O presidente, por exemplo, é sempre um cristão maronita, assim como o primeiro-ministro é sempre um muçulmano sunita. Mas esse acerto de equilíbrio de poder também atrapalha conversas para formações de governo - o Gabinete de Saad Hariri , por exemplo, levou nove meses para ser fechado.

Em sua fala na quinta-feira, 31 de outubro, Michel Aoun disse que vai agir para tornar o sistema mais ágil .

"Prometo fazer todos os esforços para construir um Estado moderno, civil, e desenraizar o sectarismo, que é o elo mais fraco da nossa comunidade e nação", disse Aoun, sem detalhar os seus planos.

Bancos reabertos

Em um dos momentos mais aguardados dos últimos dias, os bancos libaneses foram reabertos, para alívio de centenas de pessoas que aguardavam do lado de fora das agências. Para evitar uma fuga de capitais para contas no exterior ou uma compra de dólares em larga escala, as próprias instituições estabeleceram controles informais, decidindo de maneira individual, enquanto o governo prometeu não agir de maneira oficial.

Para o presidente da Associação de Bancos do Líbano, não se tratam de restrições, mas sim “esforços para acomodar todos os consumidores, diante da pressão causada pelo fechamento das agências por duas semanas.”

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