Artigo

Pesquisa premiada

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

William Kaelin e Gregg Semenza, dos Estados Unidos, e Sir Peter Ratcliffe, do Reino Unido. Esses são os nomes dos renomados cientistas que lograram o Nobel de Medicina, neste ano, em decorrência do estudo que analisa a percepção e adaptação de nossas células aos níveis de oxigênio disponíveis no ambiente. O mérito do estudo leva em conta o início do caminho para a resolução de problemas como anemia, câncer e também para situações mais corriqueiras, como as vividas por aqueles que encaram altitudes, onde o ar é rarefeito. Juntos, eles receberão 9 milhões de coroas suecas (aproximadamente R$ 3,7 milhões).

Uma grande coincidência que me alegra é o fato de Sir Peter Ratcliffe também ser pesquisador na área de nefrologia. Em 1984, ele publicou um interessante estudo intitulado “Late referral for maintenance dialysis” (encaminhamento tardio para diálise de manutenção), abordando a creatinina, o principal indicador para diagnóstico da doença renal.

William Kaelin, professor da Universidade de Harvard, Peter Ratcliffe, da Universidade de Oxford e do Instituto Francis Crick, e Gregg Semenza, da Universidade John Hopkins, já haviam sido laureados com o Prêmio Albert Lasker de Pesquisa Médica Básica. No ano passado, o Nobel de Medicina foi para os imunologistas James P. Allison, do MD Anderson Cancer Center dos Estados Unidos e Tasuku Honjo, da Universidade de Kyoto, que descobriram novas formas de combate ao câncer.

Esses destaques ratificam o que todos os praticantes e apaixonados pela pesquisa já sabem: o avanço de uma sociedade passa, necessariamente, pelo investimento sério e dedicado na ciência. Em toda minha trajetória acadêmica, sempre fui um entusiasta e defensor da pesquisa. Destaco o reconhecimento da descoberta dos colegas médicos, mas de igual forma enalteço o desbravamento de todos aqueles que se dedicam a ampliar a capacidade produtiva, de elaborar novos métodos e condições de trabalho e, sobretudo, ofertar melhor e maior qualidade de vida às pessoas.

A pesquisa também apura o pensamento crítico, analítico e investigativo do profissional de todas as áreas e, em especial, daqueles que abraçam a senda hipocrática. A postura investigadora do profissional de medicina, independente da especialidade que abrace, é salutar para seu crescimento pessoal e profissional, em especial, para seus pacientes.

No Brasil, gratifica-me registrar um incontável número de médicos e médicas que trilharam caminhos até então desconhecidos para deixar um legado incalculável. Correndo o risco de ser reducionista, lembro Oswaldo Cruz e Carlos Chagas, cujo denodo os inscreveu na maior galeria dos médicos pesquisadores brasileiros de todos os tempos. Mais recentemente, quando o país assistiu pasmo ao nascimento crescente de crianças com microcefalia, coube à médica Celina Turchi, especialista em doenças infecciosas, liderar a pesquisa que descobriu a relação da doença com o vírus da zika.

Ao contrário do que defendem alguns, o assunto goza também de apoio popular. Em sua quinta edição, a Pesquisa Percepção Pública da Ciência & Tecnologia no Brasil, publicada neste ano, revelou um grande índice de confiança dos brasileiros no que diz respeito à ciência e tecnologia, com 90% da população dizendo-se favorável ao aumento de investimentos governamentais nesta área e 60% de jovens que se declararam confiantes na ciência.

Esta vida está cheia de ocultos caminhos, vaticina Guimarães Rosa, em Grandes Sertões Veredas. Para estradas a desbravar, o senso curioso do pesquisador faz toda a diferença.


Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, ex-reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA


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