Artigo

A Era da certeza

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Em sua primeira e histórica crônica sobre o Brasil, Pero Vaz de Caminha descreveu ao imperador: “nesta terra, em se plantando, tudo dá!”A impressão de riqueza e abundância foi confirmada pelos generosos ciclos econômicos e, mais recentemente, pelas reservas de petróleo do pré-Sal, na chamada Amazônia Azul, calculadas em 120 bilhões de barris - a maior descoberta dos últimos 10 anos - maiores que as reservas da Arábia Saudita. Ou seja: nesta terra, em se cavando, tudo dá! Mesmo assim, ainda ao longo deste ano, o Brasil deverá perder o posto de 8ª Economia do mundo para a Itália dado o fraco desempenho do PIB - Produto Interno Bruto, com índices alarmantes de desemprego a agravamento do abismo social. Apesar da exploração desenfreada dos últimos séculos, o Brasil ainda guarda bens preciosos em escala superlativa: a maior reserva de água doce do planeta e a maior floresta tropical do mundo.

Pelo tratado de Paris firmado em 2015, os 200 países signatários, incluindo o Brasil, assumiram o compromisso de proteger florestas e reduzir em 50% a emissão de gases poluentes, até o final deste ano. As medidas foram ignoradas pelos governantes do mundo ensejando o protesto da ativista teen sueca Greta Thumberg, que assumiu a imensa responsabilidade de salvar o mundo das garras de decisores gananciosos e ainda despreocupados com a crise do clima. Pouco importa se a atuação da jovem vem sendo financiada por algum multimilionário consciente da iminência do desastre ambiental. Sua geração é herdeira de um planeta prestes a ser assolado por ondas de calor, no qual 1 bilhão de pessoas serão afetadas pelo já irreversível aumento do nível do mar, devido ao derretimento das calotas polares. A acidificação das águas produzirá uma imensa mortandade de peixes. Países inteiros serão devastados pela seca, na Europa, na América do Sul e na África. Os cientistas garantem que haverá fome e desastres naturais globais jamais vistos: A mudança dos padrões de chuvas tornará o mundo mais quente. O calor provocará a proliferação de mosquitos e a ocorrência de doenças ainda desconhecidas “- Como ousam? Vocês só falam em dinheiro!” - Acusou Greta elevando o tom de voz diante das autoridades presentes. Segundo o mais recente relatório do IPCC (Painel de Mudanças Climáticas) um aquecimento de mais de 3 graus, que é para onde caminhamos, irá causar um forte impacto destruidor sobre a humanidade.

Dentre as medidas preventivas destacadas pelo secretário geral da ONU, Antônio Guterres, encontra-se o fim dos subsídios para a exploração de combustíveis fósseis. Com isso, os países detentores de reservas minerais, contrariam as necessidades emergenciais de sobrevivência da espécie ao darem continuidade à exploração do petróleo - o que atinge o Brasil diretamente. Outra medida urgente é a preservação da floresta amazônica, alvo de madeireiros, garimpeiros e pecuaristas. O presidente Bolsonaro já declarou sua intenção de se aliar aos Estados Unidos para explorar o solo amazônico, em plena crise do clima. Sem programa para redução de gases poluentes e afetado pela triste imagem das queimadas da Amazônia, ao longo do mês de agosto, o Brasil foi desconvidado a participar da cúpula do Clima. Governantes eleitos não ganham, nas urnas, carta branca para negociar os recursos naturais do país como se estivessem de volta à era pré colonial e nem para desprezar os alertas emitidos pela comunidade científica internacional a custa do futuro da humanidade. Outras matrizes energéticas são possíveis, Uma delas é o Metanol - uma invenção brasileira dos anos 70. Atualmente, o profundo corte dos gastos com a pesquisa do país, retira as universidades e os cientistas brasileiros da busca dessas soluções. Enquanto na França, em menos de 20 anos todos os veículos serão movidos a energia elétrica, os EUA permanecem fora do acordo de Paris, mesmo sendo um dos maiores emissores de poluentes do planeta.

Com esse “modus operandi” a única certeza que a Ciência nos dá é de que estamos marchando para uma extinção em massa. Um futuro sombrio onde não existirá lugar para o ser humano.

Isa Albuquerque

Cineasta

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