Artigo

O sonho acabou

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Foi na década de 80 que a mosca azul da política picou-me de forma irremediável, quando então fui eleito prefeito da minha querida Humberto de Campos, envolvido em sonhos e ilusões que naturalmente brotavam em profusão da cabeça de um jovem visionário. Pensava ser fácil administrar uma terra sem esperanças, onde não existiam estrada, hospital, tampouco serviços essenciais de saneamento segurança e urbanização. Nessa conjuntura triste o sonho de ser um excelente prefeito foi se transformando numa realidade cruel, que fez do jovem prefeito sonhador, um peregrino pedinte na busca de recursos estaduais e federais, que o forçava a percorrer exaustivamente a rota Humberto de Campos, São Luís Brasília e vice versa.

Era a incursão de um inocente prefeito no mundo podre da corrupção escancarada, que fazia parte da rotina e permeava todas as estruturas administrativas do Brasil ondo todo mundo queria tirar vantagem. Mesmo assim com toda essa sofreguidão conseguiu desempenhar a difícil missão com honradez e méritos tendo concluído o mandato de quatro anos sem nenhum processo inclusive fez o sucessor visto que na época não tinha reeleição. Movido por um restinho do micróbio oriundo da picada da mosca azul não resistiu à tentação e como ficha limpa concorreu e foi eleito vereador do município.

Essa eleição foi um passo muito pequeno na visão dos visionários políticos viciados na corrupção que perguntaram logo se o vereador ia ser presidente da Câmara, numa sugestão clara para praticar ilicitudes. Acostumado a ser sempre honesto, resultado das lições aprendidas tanto em casa como na empresa que trabalhou denominada de Banco do Brasil, habituou-se a cumprir horário, prestar contas das suas ações dentro e fora da empresa, cumprindo rigorosamente um código de honra e disciplina. Felizmente o país entrou num processo de mudança que serviu para expor a podridão endêmica que sempre dominou esta Nação.

Nessa onda investigativa ficou claro o envolvimento e comportamento corrupto de muitas pessoas que viviam na moita, fazendo de conta que eram honestas e cumpridoras das suas obrigações, que tinham toda nossa idolatria por transparecerem seriedade e bom comportamento como cidadãos e políticos. Ledo engano e estrondosa decepção para quem acreditava numa performance que remetia ao bom caráter e respeito do povo que tão bondosamente sempre os elegeu. Tudo isso desmoronou e desaguou num mar de lama formado pela ambição desmedida e dinheiro público fácil de rapinar, levando embora a boa imagem construída com apoio de todos.

Velho Brasil que muda de roupagem e reforça sua indumentária colorida de verde e amarelo sepultando aos poucos velhas práticas e velhos sonhos. O Maranhão como sempre presente nesses grandes eventos, participa de forma triste e melancólica dessa limpeza ética que foi deflagrada a partir da lava a jato, exibindo de forma escandalosas figuras proeminentes da sociedade que representam um bom contingente de corruptos. A história certamente será cruel na avaliação dos poderosos do Maranhão que não tiveram a dignidade de viver só as custas dos seus trabalhos, foram tentados e aceitaram tirar o dinheiro dos pobres necessitados, a merenda escolar das crianças, suprimir os leitos dos hospitais e destruírem sonhos sonhados.

Valdemir Verde

Vereador, ex-prefeito de Humberto de Campos, aposentado do Banco do Brasil

E-mail: valdemirverde@yahoo.com.br

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