Embarcação apreendida

Na véspera da Assembleia Geral, Irã anuncia liberação de navio apreendido

A embarcação havia sido detida em julho, em meio ao acirramento das tensões no Golfo Pérsico

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Navio britânico Stena Impero, confiscado pelo Irã
Navio britânico Stena Impero, confiscado pelo Irã (Reuters)

TEERÃ — O governo iraniano anunciou, ontem,23, que irá liberar um petroleiro britânico apreendido no Golfo Pérsico há dois meses. Na véspera da Assembleia Geral das Nações Unidas , a medida foi entendida como um aceno para o alívio das tensões no Oriente Médio. Segundo a República Islâmica, todos os procedimentos legais para a liberação do navio já foram finalizados, mas ainda não há data para que a embarcação zarpe da região.

A apreensão do Stena Impero, no dia 19 de julho, aconteceu em retaliação à detenção de uma embarcação iraniana, o Grace 1 (posteriormente renomeado de Adryan Darya) pela Marinha do Reino Unido, nas proximidades do Estreito de Gibraltar, cerca de duas semanas antes.

Na ocasião, a justificativa oficial de Londres para apreender o navio foi que ele transportaria petróleo para a Síria, violando sanções impostas pela União Europeia a Damasco — restrições que, no entanto, só seriam aplicáveis aos membros do bloco europeu, do qual o Irã não faz parte. O navio foi liberado no dia 15 de agosto e seguiu viagem em direção à Síria, desaparecendo dos radares dias antes de aportar.

A disputa naval aumentou a tensão no Estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo comercializado no mundo, com os EUA criando uma coalizão naval para a defesa de navios comerciais que trafegam pela região, com o apoio do Reino Unido, da Austrália, do Bahrein, da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.

A tensão cresceu no dia 7 de setembro, quando ataques com drones atingiram duas instalações sauditas de armazenamento e refino de petróleo. As explosões foram reivindicadas pelos rebeldes houthis do Iêmen, que enfrentam desde 2015 uma ofensiva militar liderada pela Arábia Saudita para desalojá-los do poder, mas os governos saudita e americano responsabilizaram o Irã.

Em resposta, o governo iraniano pretende apresentar, nos próximos dias, em Nova York, um plano para aliviar as tensões na região, ao qual "todos os Estados costeiros do Golfo Pérsico estão convidados para se juntar".

Assembleia Geral

A notícia da liberação do navio aconteceu na véspera da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, para onde o presidente iraniano Hassan Rouhani viajará nesta segunda-feira em busca de apoio contra a pressão "cruel" exercida por Washington em Teerã.

"As ações cruéis que foram tomadas contra o Irã e também os assuntos complicados e difíceis que a nossa região enfrenta precisam ser explicados para as pessoas e países do mundo", disse Rouhani, no aeroporto de Teerã. "É essencial para nós participar da Assembleia Geral da ONU e conversar nos mais diferentes níveis".

O acirramento das tensões entre Washington e Teerã começou em 2018, quando os Estados Unidos bandonaram unilateralmente o acordo nuclear de 2015 e voltaram a aplicar sanções econômicas contra o país persa.Essa política de "pressão máxima" busca cortar o acesso da República Islâmica a fontes de financiamento e reduzir a zero suas exportações de petróleo.

A viagem de Rouhani para Nova York por pouco não aconteceu, pois o governo americano demorou para emitir vistos para a delegação iraniana. Segundo a agência de notícias semioficial Isna, a permissão dada a Rouhani permite apenas que ele transite entre seu hotel, a sede da ONU e a missão iraniana em Manhattan. Diversos de seus conselheiros e assistentes não tiveram autorização para desembarcar nos EUA.

Johnson x Macron

Ontem, 23, também em viagem para a ONU, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson disse que Londres também atribui, "com alto grau de probabilidade", a culpa do ataque contra a Arábia Saudita ao Irã.

Por outro lado, o presidente francês Emmanuel Macron, que tenta salvar o acordo nuclear de 2015, disse que é necessário cautela em determinar a culpa pelo ataque, mas reconheceu que as chances de um encontro entre Trump e Rouhani se reduziram significativamente.

"É necessário ter muito cuidado em atribuir a responsabilidade. Há várias pistas, mas este bombardeio é um novo evento militar que muda o ecossistema da região", disse Macron, que teve uma reunião paralela com Rouhani ontem, 23, à margem da Assembleia Geral da ONU.

A divergência pode dificultar a articulação diplomática entre os três países europeus que fazem parte do acordo nuclear — França, Reino Unido e Alemanha —, que vinham permanecendo unidos em defesa do pacto apesar da política de Trump. Johnson, Macron e Angela Merkel participarão de uma reunião trilateral nesta segunda-feira para discutir o assunto.

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