Editorial

Hanseníase ainda é um problema

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

A doença ainda traz consigo um estigma e, por isso, o doente tem receio em ser identificado ou ser visto em locais onde é oferecido o tratamento. Por mais que se diga que não, que muita coisa mudou, o preconceito ainda existe e ser portador de hanseníase ainda é um tabu. No passado, quem tinha lepra, como foi chamada popularmente a doença por milhares de anos, era banido da convivência com a população, inclusive a família, e tinha consciência que acabaria seus dias sofrendo com as consequências da doença, dada como incurável.

A ciência, porém, trouxe consigo o tratamento e as campanhas educativas tentam deixar de lado a lepra e tratar a hanseníase como apenas mais uma doença, grave, mas que tem cura, se tratada no início. Para tanto, são feitas campanhas nacionais informando como as pessoas podem identificar os sintomas e, assim, procurar logo um médico e conseguir ficar curado.

O Maranhão sempre foi um estado com grande incidência de hanseníase e São Luís é considerada hiperendêmica da doença. Prova disso é a existência de um espaço especializado no cuidado com esse tipo de mal. A Colônia do Bonfim, na área Itaqui-Bacanga, já completou 82 anos e por mais de meio século, recebeu apenas os doentes de hanseníase, que na maioria das vezes mesmo curados permaneciam por lá, e faziam dali sua casa até o fim da vida, uma vez que o preconceito afastava familiares e amigos, deixando os acometidos à margem da sociedade. Formavam famílias e, tinham seus filhos tomados de si quando nasciam, em uma tentativa de evitar que também tivessem a doença. Sem os meios necessários para conter, na época, muitas voltavam aos braços dos pais, quando apresentavam os primeiros sintomas do mal.

Hoje, o hospital Aquiles Lisboa, que funciona no lugar da colônia, é especializado no tratamento da doença e quem ainda reside na área, recebe atenção redobrada, com o atendimento ambulatorial e consultas variadas.

Além de sua especialidade, o hospital disponibiliza atendimentos à população em clínica médica, endocrinologia, ginecologia, neurologia, nutricionista, obstetrícia, ortopedia, pediatria, reumatologia e urologia, o que atrai a população da região ao local, o qual antes ninguém queria se aproximar, por causa dos boatos e mentiras que a hanseníase podia ser transmitida pelo vento.

Apesar de ter conseguido controlar os casos da doença ao longo dos anos, o estado ainda é um dos lugares do Brasil com mais registros do mal de Hansen, com média anual de 3 mil novos casos. Em 2018, foram 3.079 registros encaminhados ao Ministério da Saúde.

O estado faz parte do projeto “Abordagens inovadoras para intensificar esforços para um Brasil livre da Hanseníase”, do Ministério da Saúde e da Fundação Nippon, organização sem fins lucrativos de origem japonesa, cuja meta do projeto é eliminar a hanseníase até 2020.

As ações inovadoras consistem no exame dos contatos, que são as pessoas que convivem com os diagnosticados com hanseníase. A partir do momento que são examinados os contatos, consegue-se também controlar a doença, quebrando assim a cadeia de transmissão. Não adianta apenas diagnosticar e tratar, é necessário acompanhar e monitorar a função neural do paciente para que quaisquer alterações sejam neutralizadas, consequentemente impedindo o avanço da doença e chegando assim à cura.

A intenção é exterminar o mal de Hansen do estado, mas o preconceito ainda é um entrave. É difícil tratar quando não se quer que ninguém saiba que se tem a doença. O trabalho educativo é primordial nesses casos.

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