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Ciclos econômicos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23

Antigamente esses ciclos aconteciam em prazos mais ou menos longos: ciclos de prosperidade e depressão se alternavam entre cinco a dez anos. Em tempos modernos de globalização instabilidades em economias fortes atingem, em tempo real, principalmente economias emergentes, reflexas.

Os economistas Joseph Schumpeter, austríaco (1883-1950), Michal Kalecki, polonês (1899-1970) e John Maynard Keynes, britânico (1883-1946) “trabalharam com a teoria dos ciclos, tentando proporcionar uma resposta coerente às crises que o mundo capitalista atravessava, e atravessa de tempo em tempo”.

As crises decorrem da própria evolução do capital na medida em que pontificam concentrações de renda, principalmente e cada vez mais no setor financeiro, e sua consequente injusta distribuição, favorecendo o poder discricionário e uma estrutura de mercado imperfeito caracterizada pelos monopólios e oligopólios.

Os marxistas continuam argumentando com a apropriação da ‘mais-valia’, enquanto os keynesianos alegam à insuficiência dos investimentos em face à demanda global, “gerando o desequilíbrio que desemboca na crise que obriga o capitalismo a tomar novas decisões”.

O que está acontecendo atualmente nos Estados Unidos (um país desenvolvido), repercutindo em países de outros continentes, inclusive - mais cedo ou mais tarde - no Brasil (um país emergente), causa profundas preocupações.

De uma economia recuperada após a crise da ‘bolha’ e em expansão nos últimos dez anos, a partir de 2009, atualmente aquecida e com baixos índices de desemprego, com o dólar valorizado, avizinha-se prenúncios de uma recessão, uma diminuição do crescimento mundial, entre 3,7/3,5%, recessão essa que foi antecedida de expansão, caracterizando a ocorrência de ciclos econômicos.

O retorno dos títulos soberanos de longo prazo vem desabando depois que os bancos centrais promoveram o afrouxamento monetário e tentaram a operação inversa, o enxugamento, sem sucesso, e a guerra comercial entre EUA e China (embora crescendo menos, 6.6/6,2%) agrava o problema ameaçando a travar a economia mundial.

O Federal Reserve - FED, assim como outros bancos centrais, que há pouco havia acenado com o aumento da taxa de juros, para conter um eventual efeito na inflação, teve que voltar atrás fixando essa taxa em patamares baixos, que mesmo assim não foram suficientes à estimular a economia, caracterizando a chamada “armadilha da liquidez” anteriormente identificada por Keynes.

No Brasil, a taxa SELIC vem baixando (projeção de cortes de até 0,75% até o final deste ano), mas de forma ainda insuficiente segundo André Lara Resende, que sugere que deveria ser fixada abaixo da taxa de crescimento do PIB; este reflete-se na maior relação Dívida/PIB, que vem crescendo, e no PIB per capita, que vem diminuindo.

Bolsas em queda, como nos EUA, elevam a cotação do dólar; pelo lado das bolsas seus pregões em negativos inibem novos investimentos e induzem a realização imediata dos ganhos até então obtidos; pelo lado do dólar - para o Brasil, por exemplo - as importações ficam mais caras e as exportações, embora favorecidas, mas na ausência de termos de competição, produtividade, sofrem com a possível diminuição de volume, pela queda do preço das “commodities” nos grandes mercados consumidores.

No Brasil, embora as Bolsas estejam refletindo melhores expectativas, diversos ativos sofreram perdas significativas; alguns analistas dizem que o país “está claramente mais exposto à economia global e aos mercados financeiros globais do que antes”. Não há dúvida que tendo uma economia cada vez mais aberta ao comércio internacional, isso pode ser uma possibilidade. As Agências que avaliam o risco permanecem revendo suas posições a respeito deste assunto.

Se a crise vai atingir a economia real - o que é uma possibilidade - saberemos dentro de breves semanas. O Brasil de hoje tem melhores condições de enfrentá-la: alto nível de reservas, baixo endividamento externo, execução fiscal mais ou menos perseguida e inflação sob controle; todavia com baixo nível de crescimento e sem ter feito as reformas de base, pode sofrer abalos.

A revista britânica The Economist publicou, na edição desta semana, que “o Brasil tem uma nova classe média, surgida quase da noite para o dia”, e que “essa fatia da população teria se beneficiado da estabilidade e do crescimento econômico no país e também em boa parte da América Latina”.

O fato é que a “insuficiência da eficiência marginal do capital, e por conseqüência, a alta propensão marginal a consumir de todas as classes sociais”, conforme dizia Keynes, acaba desembocando na crise, ponto de inversão de cada ciclo de prosperidade. Tomara que o mercado automobilístico, no Brasil, não leve aos mesmos efeitos do mercado imobiliário, nos Estados Unidos.

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro da Academia Caxiense de Letras

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