Argentina

Macri anuncia pacote para tentar reverter derrota eleitoral

Medidas incluem aumento do salário mínimo, bônus para funcionários públicos e congelamento da gasolina por 90 dias; presidente pede desculpas por ter criticado eleitores e diz que ''respeita'' seu voto

Atualizada em 11/10/2022 às 12h23
Maurício Macri dá coletiva de imprensa na Casa Rosada após derrota nas eleições prévias de domingo
Maurício Macri dá coletiva de imprensa na Casa Rosada após derrota nas eleições prévias de domingo (Reuters)

BUENOS AIRES — Em resposta à contundente vitória da oposição nas eleições primárias do último domingo, o presidente Maurício Macri anunciou nesta quarta-feira uma série de medidas econômicaspara tentar aliviar o bolso dos argentinos que o castigaram nas urnas. Entre as ações anunciadas pelo presidente estão o aumento do salário mínimo, bônus salariais para funcionários públicos, o alívio da carga tributária para a classe média e o congelamento por 90 dias do preço da gasolina e dos combustíveis em geral.

Em um breve pronunciamento, Macri prometeu "trazer alívio para 17 milhões de pessoas" e pediu desculpas pelas declarações que deu na segunda-feira, quando se eximiu de responsabilidade e culpou a oposição pela má reação dos mercados ao resultado das primárias, que foram uma prévia da eleição presidencial de 27 de outubro. Na ocasião, o presidente foi muito criticado por passar a impressão de que não respeitava o pronunciamento dos argentinos nas urnas. Agora, disse que fez "autocrítica".

"Respeito profundamente a decisão dos argentinos", disse Macri ontem. "Quero pedir desculpas pelo que disse na entrevista coletiva da segunda-feira. Hesitei em dar a entrevista porque ainda estava muito afetado pelo resultado das eleições, estava sem dormir e triste", justificou-se.

"Quero que saibam que os entendi e que respeito profundamente os argentinos que votaram em outras alternativas ou votaram em nós em 2015 e agora escolheram não nos acompanhar".

Entre as medidas anunciadas pelo mandatário estão um bônus de 5 mil pesos (R$ 345) para funcionários públicos; redução do imposto de renda pago pelos aposentados; aumento das bolsas para estudantes do ensino técnico e superior; abatimento dos impostos para famílias com dois filhos que ganhem até 80 mil pesos (R$ 5.400) por mês; aumento da faixa de isenção do imposto de renda; redução de 50% dos impostos dos trabalhadores autônomos; e dois bônus extras mensais de 1.000 pesos (R$ 68) por filho para famílias de trabalhadores informais e desempregados, que serão pagos em setembro e outubro.

Incentivo econômico

Além disso, Macri prometeu mais medidas de incentivo econômico às pequenas e médias empresas, incluindo a renegociação em 10 anos das dívidas tributárias. Segundo ele, as medidas terão um custo total de 40 bilhões de pesos, ou R$ 2,7 bilhões. "Tomo estas medidas porque os escutei", disse Macri aos eleitores.

Os anúncios não conseguiram acalmar o mercado de câmbio em um dia de perdas para as bolsas internacionais. O peso argentino continua sua desvalorização e no início da tarde estava cotado a 59,25 por dólar, acumulando uma queda de mais de 23% desde segunda-feira. O risco país, que mede o risco de não pagamento da dívida, subiu 194 unidades, para 1.935 pontos, e o mercado acionário de Buenos Aires cresceu apenas 0,5%, uma leve recuperação após a histórica queda de 37% na segunda-feira.

Razões do voto de castigo

Nas primárias de domingo, a chapa de Macri teve 32%, contra 47% da chapa formada por Alberto Fernández e a ex-presidente e senadoraCristina Kirchner (2007-2015), uma diferença de 15 pontos percentuais. Sua derrota em outubro passou a ser dada como certa por analistas políticos. Para vencer no primeiro turno na Argentina, um candidato precisa ter 45% dos votos ou 40% e uma diferença de ao menos dez pontos sobre o segundo colocado.

A derrota de Macri nas primárias foi um interpretada como um voto de castigo de eleitores de classe média e classe média baixa, que em 2015 o preferiram ao peronismo representado agora por Fernández e Cristina.

Macri foi eleito com a promessa de liberalizar a economia argentina, acabando com as intervenções do Estado promovidas por Cristina, em especial no seu segundo mandato. Ele liberou o câmbio e retirou os subsídios que mantinham baixos os preços de serviços como gás e eletricidade. Mas, ao contrário do resultado que esperava inicialmente, a inflação continuou a subir e os investimentos estrangeiros não compareceram em volume suficiente.

Há cerca de um ano, sem dinheiro para pagar a dívida pública, Macri fechou um acordo com o Fundo Monetário Internacional ( FMI ) de US$ 57 bilhões, o maior empréstimo já concedido na História do organismo, e ainda assim não conseguiu acalmar a economia.

Hoje, o presidente argentino dirige uma economia com inflação de 40% ao ano e em recessão, com a queda do PIB neste ano estimada em 1,5% a 2%. Só nos primeiros quatro meses de 2019, foram fechadas 5 mil fábricas. Entre maio deste ano e o mesmo mês de 2018, foram perdidos 217 mil empregos.

Nos últimos três anos e meio, Macri repetiu que era necessário fazer um esforço e que sem esse esforço o país não sairia do atoleiro. Os argentinos suportaram aumentos tarifários de até 800% e um aumento da pobreza, que passou de 29% em 2015 para 32% neste ano.

Diálogo com oposição

No pronunciamento, Macri ainda pediu um diálogo com a oposição, dizendo que telefonará para Alberto Fernández. Horas depois, Fernández rejeitou o encontro .

"Falei com alguns candidatos e insistirei com aqueles com os quais não conseguimos falar. Devemos conversar, manter linhas abertas e não entender isso como uma disputa entre inimigos, mas sim como uma discussão entre rivais no marco de nossa democracia", disse, acrescentando que sua tarefa como presidente é "garantir a governabilidade".

"Sempre sustentei que o diálogo é o único caminho. Nas últimas 48 horas ficou claro que a incerteza política causou muito dano", afirmou Macri.

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