Artigo

Uma (ainda jovem) longeva Academia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

Participei, nesta última semana, de um dos eventos mais importantes para todos aqueles que comungam do discipulado hipocrático: os 190 anos da Academia Nacional de Medicina, comemorados na terça-feira, 2 de julho. Trata-se da mais antiga e conceituada instituição médico-científico-cultural do país, sodalício que congrega - e já congregou - algumas das mais brilhantes mentes do saber médico.

Nessas dezenove décadas de serviços bons prestados, a Academia Nacional de Medicina é hoje globalizada, com parcerias com as mais importantes e respeitáveis instituições médicas do mundo e presença ativa na sociedade. Composta de renomados estudiosos, ela permanece atuante e jovem de espírito, fiel ao ideal que a impulsionou nos idos de 1829, quando o imperador dom Pedro I reinava nestas plagas.

Um número expressivo de realizações coroa todas essas décadas: reuniões, simpósios, conferências, congressos organizados para fomentar discussões relevantes e atuais. A inauguração do Centro de Memória Médica foi um dos pontos altos da comemoração desse quase bicentenário - um compromisso com o futuro, pois a memória se constrói a todo tempo. Como bem lembrou nosso presidente Jorge Alberto Costa e Silva: não existe vida sem memória.

O Centro de Memória Médica é, portanto, o cumprimento de um anseio não apenas dos membros daquela augusta grei, mas a resposta para uma sociedade que trafega na velocidade da luz, da informação volátil e do conhecimento superficial. Objetos médicos, informações históricas acerca da evolução dos procedimentos e artefatos antigos formam um imenso cabedal à disposição de tantos quantos queiram mergulhar no passado e trazer respostas para o presente.

Quem se aproxima das origens se renova, já disse o poeta Manoel de Barros. O papel da memória, tal como as antigas aias, é conduzir viajantes pelos caminhos daqueles que um dia as trilharam, iluminando-os em suas próprias jornadas. Rubem Alves afirmou que memória é onde se guardam as coisas do passado. O poeta a classifica em dois tipos: memórias sem vida própria e memórias com vida própria. As primeiras, afirma, são inertes. As segundas, são como pássaros em voo.

Irmano-me à alegria de meus confrades e confreiras por mais essa conquista de nossa Academia - permitir que esse espaço de armazenamento sirva de ensinamento, tais como os pássaros em voo a que o poeta se refere. Que os herdeiros de Asclépio acedam a tão grandiosa honra, qual seja, a de se saberem repartidores de um tesouro, posto que a Academia não é feita de perfeitos e sim de escolhidos, discursou o confrade Omar Rosa.

Tal qual Prometeu trouxe o fogo dos deuses aos homens, que seja longeva a missão da Academia em (re)partir conhecimento, sabedoria e inovação com a sociedade. Que sigamos a lição do presidente Jorge Alberto Costa e Silva de que “quem planeja a curto prazo deve cultivar cereais; a médio, árvores; e, a longo prazo, cuidar de seres humanos”. Esta última é a essência de nossa instituição.

Natalino Salgado Filho,

MD.PhD, professor titular de Medicina da UFMA, chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Universitário da UFMA, coordenador da Pesquisa Clinica em Nefrologia do HUUFMA, coordenador da Liga de Afecções Renais do HUUFMA

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