SÃO LUÍS - A defesa de Weslayne Maiane Correa está no aguardo da sentença judicial ser publicada no diário oficial do Poder Judiciário, que absolveu o seu ex-namorado, Eliezer da Cunha Reis, de 37 anos, do crime de tentativa de feminicídio, para solicitar ao Tribunal de Justiça (TJ) um novo julgamento. O réu sentou no banco dos réus do Fórum Desembargador Sarney Costa, no Calhau, no último dia 12, e foi condenado pelo Corpo de Jurados apenas por cárcere privado.
O crime ocorreu em um motel, na Areinha, no dia 5 de abril do ano passado. Weslayne foi alvejada na cabeça e passou mais de um mês internada no Hospital Socorrão I, no centro. “A defesa de fato vai recorrer da decisão judicial”, afirmou o advogado da vítima, Thiago Viana. Segundo ele, o Corpo de Jurados nesse julgamento foi composto por seis homens e uma mulher.
Eles condenaram o réu somente por cárcere privado a três anos de reclusão, o que levou à revogação da prisão do acusado.
Os jurados foram contrário as provas testemunhais e materiais do auto do processo e resolveram absolver o réu pelo crime de tentativa de feminicídio. “As provas são claras e condizentes que o autor do tiro em Weslayne foi Eliezer da Cunha. Os policiais ao entrarem no quarto do motel presenciaram o acusado com a arma apontada para a cabeça da vítima em cima de uma cama”, disse o advogado.
Apelação
Thiago Viana informou, também, que a sentença do julgamento ainda não foi publicada no diário oficial e, logo após essa etapa, tem 15 dias para recorrer dessa decisão. “Estou analisando o caso e deve ser impetrado uma apelação no TJ solicitando um novo julgamento, com participação de outros jurados”, explicou o advogado.
A coordenadora das Delegacias Estaduais da Mulher no Maranhão, delegada Kazume Tanaka, explicou que os jurados entenderam que o acusado não queria matar a ex-namorada naquela situação e o Ministério Público vai recorrer dessa decisão judicial alegando que foram contrário as provas dos autos do processo. O recurso deve ser apreciado pelo Poder Judiciário tendo a possibilidade de um novo julgamento e deve ser analisado a situação de gênero.
A delegada informou, também, que esse caso foi investigado por policiais do Departamento de Feminicídio, coordenado pela delegada Viviane Fontinelle. Segundo ele, o inquérito seguiu os ditames da Lei. “Uma investigação bem feita e uma perícia brilhante levam a condenação do réu, mas há casos em que o júri pode ser influenciado pela cultura machista”, disse ela.
O Estado, por meio de telefone, entrou em contato com o advogado Petrônio Alves, que faz a defesa do acusado, durante a manhã desta sexta-feira, 21, mas não obteve sucesso.
Ação criminosa
Segundo a polícia, na noite do dia 5 de abril de 2018, Eliezer da Cunha se deslocou até as proximidades da residência de Weslayne Maiane, na Liberdade, em um Corsa e ao encontrar a mulher a obrigou, sob a ameaça de morte, a entrar no carro. Ele, então, a levou para um motel, na Areinha.
Os familiares da vítima foram informados do que estava acontecendo e acionaram a polícia, por meio do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops). Os militares saíram em diligências e conseguiram localizar o casal no motel.
Os policiais passaram a negociar com o acusado visando a liberação da vítima. Ele ainda chegou a exigir a presença de jornalistas no local, mas acabou disparando dois tiros que atingiram Weslayne Maiane na cabeça. Só depois ele se entregou jogando a arma no chão.
Eliezer da Cunha foi então conduzido primeiramente ao plantão de Polícia Civil do Anjo da Guarda, e em seguida à Superintendência estadual de Homicídios e Proteção a Pessoas (SHPP), onde foi autuado em flagrante pelos crimes de sequestro e tentativa de feminicídio.
“Que tenha um novo julgamento e o agressor possa pagar de fato pelo crime que cometeu, principalmente, de tentativa de feminicídio. Eu fui baleada por ele e os jurados não levaram em consideração a essa atitude criminosa”Weslayne Correa, vítima de tentativa de feminicídio e cárcere privado
Abrindo o jogo
Weslayne Maiane Correa, de 33 anos
Vítima de tentativa de feminicídio e cárcere privado
O Estado: Como conheceu e quando iniciou o namoro com Eliezer Cunha?
Weslayne Maiane Correa: A gente se conheceu em 2011 e logo começamos a namorar. Ele era funcionário de uma livraria que fornecia material para a igreja onde eu trabalhava.
O Estado: Como era o relacionamento do casal?
Weslayne: Ele sempre foi muito atencioso, mas muito ciumento. Não aceitava que eu falasse com meus amigos e até mesmo com familiares. O contato que eu deveria fazer era apenas com ele e o meu filho, de 9 anos. Caso falasse com algum amigo, ele dizia que tinha tido algum tipo de relação com aquela pessoa.
O Estado: Por que houve o término do relacionamento?
Weslayne: O ciúme dele foi desde o início da relação, então, eu achava que poderia diminuir ao longo do tempo, mas somente aumentava, então, foi necessário terminar. O término do namoro foi uma decisão em comum entre a gente. A relação durou oito anos.
O Estado - Quais foram as atitudes tomadas por Eliezer Cunha após o fim do relacionamento?
Weslayne - Após 10 dias do término da relação, ele começou a monitorar os meus passos. Eu era vigiada o tempo todo, principalmente quando ia ao colégio do meu filho e a faculdade. Ele alegava que pretendia reatar o namoro.
O Estado - Qual foi o momento que você percebeu que estava correndo perigo?
Weslayne - No dia 4 de abril do ano passado, ele me abordou no Cohafuma e fomos a um motel, no Araçagi, em São José de Ribamar. Ele estava portando uma arma de fogo e após algumas horas acabei sendo liberada. Fui então ao plantão da Delegacia Especial da Mulher, no Jaracati, registrei uma ocorrência e solicitei uma medida protetiva que foi concedida pelo Poder Judiciário.
O Estado: Em que momento sentiu mais medo de ser morta pelo ex-namorado?
Weslayne: No fim da tarde do dia 5 de abril do ano passado, eu estava retornando para casa em companhia do meu filho e de uma prima quando fui abordada por ele, no bairro da Liberdade. Ele estava em um veículo que eu não conhecia, pois antes ele andava em uma motocicleta. Ele chegou a disparar um tiro e fui forçada a ir a um motel, na Areinha. Foram mais de 2 horas de terror. Pensei que seria morta naquele momento.
O Estado: Durante essas duas horas você consegue lembrar o que sentiu?
Weslayne: Senti muito medo, angustia, pensei que iria ser morta e nunca mais iria olhar o rosto do meu filho. Os funcionários do motel chamaram a polícia e falei aos militares que o agressor estava armado. Logo após, não lembro mais nada.
O Estado - Devido a esse ato bárbaro, você carrega muitos traumas?
Weslayne: Sim, são muitos os traumas. Hoje eu não consigo ver o meu reflexo no espelho. Pois, qual a mulher se sentiria bonita dessa forma. Hoje, não tenho mais a minha visão direita e nem o olfato. Os médicos disseram que esse quadro é irreversível. Apenas pode ser feita uma plástica para reposicionar o globo ocular e eu possa voltar a piscar. Além dos traumas físicos, há o psicológico, inclusive, para o meu filho, de 9 anos.
O Estado - O que você espera do Poder Judiciário?
Weslayne: Que tenha um novo julgamento e o agressor possa pagar de fato pelo crime que cometeu, principalmente o de tentativa de feminicídio. Eu fui baleada por ele e os jurados não levaram em consideração essa ação criminosa.
O Estado: Qual a mensagem que você deixa para as mulheres que são vítimas de violência?
Weslayne: Não devemos ter vergonha de procurar pelos nossos direitos e devemos de fato denunciar os agressores para polícia, pois existe a possibilidade de até mesmo perdemos a vida.
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