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Sérgio Moro: "Entregaria o cargo, se tivesse cometido irregularidade"

Ministro da Justiça do governo Bolsonaro falou por mais de 7 horas na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado; o ex-juiz se ofereceu a prestar esclarecimentos aos senadores para evitar que uma CPI fosse instalada na Casa

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
O ministro Sérgio Moro colocou em dúvida a veracidade das mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil
O ministro Sérgio Moro colocou em dúvida a veracidade das mensagens divulgadas pelo The Intercept Brasil (Sérgio moro)

BRASÍLIA

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse ontem durante audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, que não tem “nenhum apego ao cargo” e que sairia dele se houvesse alguma irregularidade na sua conduta enquanto magistrado, emendando, por outro lado, que agiu de acordo com a lei.
“Então o site apresente tudo, e aí a sociedade vai poder ver de pronto se houve alguma incorreção da minha parte. Eu não tenho nenhum apego pelo cargo em si. Apresente tudo, vamos submeter isso ao escrutínio público. E se houve ali irregularidade da minha parte, eu saio, mas não houve, porque eu sempre agi com base na lei”, disse o ministro.
A declaração foi dada em resposta aos questionamentos do senador petista Jaques Wagner, que perguntou a Moro se não seria de “bom tom” se afastar do cargo, mediante os acontecimentos.

Naturais
Mais cedo, Moro afirmou que sempre agiu conforme a lei, tratou como naturais conversas entre juízes, promotores e advogados e disse não poder garantir a veracidade dos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil.
Moro começou a prestar esclarecimentos à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado desde às 9h da manhã de ontem. Na sessão, travou embates com senadores petistas e afirmou ainda ser alvo de um ataque hacker que mira as instituições e que tem como objetivo anular condenações por corrupção.
“Estou absolutamente tranquilo em relação à conduta que realizei como juiz. Houve aplicação imparcial da lei em casos graves de corrupção e lavagem de dinheiro”, disse Moro.
O ministro se ofereceu para ir à CCJ para esfriar o trabalho de coleta de assinaturas para a criação de uma CPI para investigá-lo. Ao iniciar sua fala, disse não ter nada a esconder, que gostaria de fazer esclarecimentos "em cima do sensacionalismo que tem sido criado" e focou a defesa da Lava Jato.
"Se falou muito em conluio. Aqui um indicativo de que não houve conluio nenhum", afirmou, ao citar embates com a Procuradoria. "São normais no Brasil esses contatos entre juiz, advogado e Ministério Público ou policiais. O que tem que ser avaliado é o conteúdo dos contatos”.

Sem medo
Ao explicar as supostas mensagens trocadas com procuradores da Lava Jato, o ministro declarou não estar com medo da revelação de novos conteúdos e minimizou o caso afirmando que há um “estardalhaço” e sensacionalismo em torno da divulgação.
“Não estou com medo, não. Dizem: 'Ah, tem muito mais coisa'. Divulguem tudo de uma vez. Daí, a gente analisa, o Senado analisa, as pessoas analisam”, declarou Moro. Ele defendeu que o site The Intercept Brasil deveria submeter o conteúdo a uma autoridade independente, como o Supremo Tribunal Federal (STF).
Moro falou várias vezes que não tem dúvida da correção de seu trabalho quando era juiz da Lava Jato. Além disso, ele declarou que a troca de supostas mensagens entre magistrados e procuradores é normal e não pode ser vista como um crime. “Isso é algo em que foi feito um estardalhaço, um sensacionalismo relativo a supostas mensagens que tratam de operações. São relativos a decisões já deferidas. Onde é que está o comprometimento da imparcialidade? É zero. Zero”.

PF identificou uso da conta de Moro no Telegram

A Polícia Federal (PF) tem elementos de prova de que um hacker tentou se passar pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e mandou mensagens para terceiros em nome do ex-juiz da Operação Lava Jato.
Um dos elementos é uma mensagem enviada no dia 4 de junho a um funcionário do próprio gabinete de Moro, depois de ativar uma conta do Telegram - aplicativo de troca de mensagens via internet.
Diálogos atribuídos a Moro e ao procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, passaram a ser divulgados pelo site The Intercept Brasil des­de o dia 9.
Segundo a publicação, os diálogos indicariam suposta conduta irregular do então juiz da Lava Jato e consequente comprometimento das decisões dos processos julgados na 13ª Vara Criminal, em especial no caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que está preso e condenado por corrupção desde 8 de maio de 2018. l

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