Dia Mundial do Meio Ambiente

São Luís: uma Ilha sem praias limpas e com degradação de mangues

No Dia Mundial do Meio Ambiente, O Estado aborda os motivos para os principais ecossistemas da Ilha estarem sendo destruídos pela ação do homem

Emmanuel Menezes e Carla Melo / O Estado

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h24

[e-s001]O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado hoje (5) e, mais do que uma data para se comemorar, a reflexão sobre o tema não deve ser deixada de lado. No Maranhão, sobretudo, na Ilha de São Luís, os ecossistemas que a rodeiam vêm sofrendo com as ações rápidas da espécie humana. Um dos pontos mais observados nos últimos anos é a degradação dos manguezais maranhenses. O Departamento de Oceanografia e Limnologia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) divulgou que, em São Luís, houve uma perda de 18 mil hectares de área de mangue entre 1972 e 2015.

Isso significa mais de 50% de uma área de 35 mil hectares de man­gues. Apesar dos dados negativos a respeito do caso, o Maranhão é o estado brasileiro que possui maior área de manguezais no Brasil. “Isso nos dá esperança. É importante lembrarmos que as áreas degradadas próximas de nós, em sua maioria, não foram completamente perdidas. Elas têm chances de serem recuperadas”, explica Flávia Mochel, professora do Departamento de Oceanografia da UFMA.

A região é responsável por 36% do ecossistema no Brasil, seguido do Pará, que possui 28%, e do Ama­pá, com 16%. O solo dos manguezais caracteriza-se por ser úmido, salgado, lodoso, pobre em oxigênio e muito rico em nutrientes. Ele é de fundamental importância para o equilíbrio ambiental e para a manutenção da vida marinha, pois esse bioma abriga uma grande biodiversidade e consiste em um berçário natural para várias espécies marinhas, onde peixes, moluscos e crustáceos se reproduzem e se alimentam.

“Falar de meio ambiente é falar da nossa vida. O ser humano é apenas uma das espécies. Podemos até ser os dominantes, mas ainda so­mos pequenos. As ações humanas são muito rápidas e constantes. Nossa população aumenta, o uso dos recursos aumenta. As bacias hidrográficas da nossa Ilha estão impactadas por aterros, assoreamentos. Não temos um sistema de saneamento que dê conta da produção da população da capital, e esses dejetos são jogados diretamente em rios e mares”, analisa a especialista.

Segundo Flávia Mochel, essa é uma situação de conflito real cotidiana e que deveria ser pautada sempre, e não apenas no Dia Mundial do Meio Ambiente. O crescimento desordenado dos últimos 20 anos e a falta de sensibilização seguem sendo os maiores vilões para a destruição desses ecossistemas.

“Como dito, podemos reverter isso, mas precisamos de incentivo e as autoridades não demonstram sentir interesse nisso. Estudo das áreas degradadas, do solo, da hidrologia e do clima são etapas iniciais. Seguimos com a retirada de resíduos, desobstrução de canais e reflorestamento”, explica a professora, reforçando o desenvolvimento de planos de recuperação como de suma importância para as vidas futuras.

Mangues
Entre Belém (PA) e São Luís, a costa é extremamente recortada e instável – denominada costa de rias, ou reentrâncias maranhenses –, constituindo vales fluviais afogados pela última subida do nível do mar 6.000 anos antes do presente. Sua posterior descida expôs sedimentos finos propícios à colonização pelos mangues. Esse movimento de subida do nível do mar é também conhecido no Brasil por Transgressão Santos.

Nessas rias – acidente geomorfológico que se apresenta como um vale fluvial no entorno da foz de um rio –, os manguezais encontram ambientes e condições perfeitas para o seu estabelecimento e manutenção, uma vez que a costa, o regime de macromaré e o clima quente e úmido da Zona Equatorial colaboram para o seu desenvolvimento.

A ilha de São Luís e as baías de São Marcos e São José de Ribamar compõem o Golfão Maranhense, assim denominado pelo geógrafo Aziz Ab’Sáber em 1960. Nas proximidades da Zona Equatorial – onde apenas o verão e o inverno ocorrem –, as margens da baía de São Marcos abrigam manguezais, sobretudo em sua porção oeste, uma vez que na porção leste cresceu a cidade de São Luís.

Já a baía de São José de Ribamar, com cerca de 60 quilômetros de comprimento a partir de sua entrada em direção ao continente, abriga alguns estuários nos quais manguezais se desenvolvem. O Golfão Maranhense, juntamente com as rias do estado do Pará e do Maranhão abrigam cerca de 7.500 quilômetros quadrados de manguezais, constituindo o maior cinturão contínuo desse ecossistema no mundo. Os dados fazem parte do Atlas dos Manguezais do Brasil, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

[e-s001]Uma Ilha de praias impróprias
O período das festas juninas costuma registrar um índice elevado de turistas que chegam a São Luís em busca das ricas manifestações culturais, mas também atraídos pela quilométrica faixa de praias, verdadeiros cartões-postais. No entanto, o mergulho no mar não é aconselhável, pois todas as praias estão impróprias para banho, de acordo com dados da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema).

Em seu último relatório, a secretaria apontou que nos pontos monitorados, nenhum está liberado para o banho. O laudo mais recente refere-se ao monitoramento realizado no período de 2 a 27 de maio e integra a série de acompanhamento semanal das condições de balneabilidade das praias da Ilha do Maranhão. De acordo com o documento, foram coletadas e analisadas amostras de água de 21 pontos distribuídos nas praias da Ponta d’Areia, São Marcos, Calhau, Olho d’Água, Praia do Meio e Araçagi. O monitoramento obedece aos padrões fixados na Resolução Conama nº 274/00.

A sujeira verificada na orla de São Luís incomoda quem frequenta as praias da capital. “Sempre venho à praia, mas tem muito tempo que não tomo banho de mar. Não que não goste, eu adoro nadar, mas não entro na água pois sei que não está limpa”, diz o corretor de imóveis Edvan Diniz, que tomava sol na manhã de domingo (2), na Avenida Litorânea.

Além da sujeira da água constada por laudos, é possível observar ainda saídas de esgotos que despejam dejetos nas praias, bem como o descaso com a infraestrutura dos locais. Na Avenida Litorânea, por exemplo, o calçadão da extensão da avenida sofre um violento processo de erosão. “As pessoas frequentam a praia, gostam daqui, mas reclamam da falta de estrutura”, relata o vendedor ambulante Dimi Correa.

Perigo à saúde
A falta de saneamento acarreta um problema de saúde pública, pois a imersão em águas impróprias implica em um potencial de risco para pessoas que entrarem em contato com essa água, em especial as crianças e idosos, que apresentam maior probabilidade de contaminação por terem um organismo mais exposto e frágil.

As doenças mais comum transmitidas pelo mar poluído são as gastroenterites, que podem ser causadas por bactérias ou protozoários, como as amebas, ou por vírus, como o rotavírus e o norovírus. Esses micro-organismos entram no corpo em contato com a água contaminada e pode desencadear vômito, diarreia, cólicas, febre e até sangue nas fezes.

A estudante Milena Castro também afirma que o fato de as prais estarem poluídas impedem que ela entre na água. “Tenho receio de me contaminar com alguma doença, por isto, sempre que venho à praia, evito entrar no mar”.

Alta das marés
Paralelo ao aumento das impurezas nas águas do mar, o nível também segue aumentando em ritmo acelerado. Em 2018, o nível médio do mar em escala mundial foi aproximadamente 3,7 mm mais alto que em 2017, um patamar que representou um novo recorde. A perda acelerada de massa das camadas de gelo é a primeira causa do aumento no ritmo de elevação do nível médio do mar em escala mundial, como revelam dados obtidos por imagens de satélite do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas.

São Luís sofre com os efeitos das marés de sizígia, que diz respeito a altura das marés alta e baixa, que também varia com o ciclo lunar. Em março, um alagamento no estacionamento da Praia Grande deixou muitos maranhenses preocupados, pois o nível da maré subiu a ponto de invadir a terra através dos bueiros. Por conta das forças gravitacionais do sol estarem na mesma direção das da lua, as marés de sizígia são produzidas e, a partir do aumento do nível do mar, mais dentro da terra elas estarão.l

Pontos impróprios para o banho segundo relatório da Sema realizado entre 2 a 27 de maio
Praia da Ponta d’ Areia - Ao lado do Forte Santo Antonio
Praia da Ponta d’ Areia - Atrás do Hotel Praia Mar
Praia da Ponta d’ Areia - Atrás do Bar do Dodô
Praia da Ponta d’ Areia - Em frente à Praça de Apoio ao Banhista
Praia da Ponta d’ Areia - Em frente ao Edifício Herbene Regadas
Praia da Ponta d’ Areia - Em frente ao Hotel Brisa Mar I
Praia de São Marcos - Em frente aos Bares Do Chef e Marlene’s
Praia de São Marcos - Em frente à Barraca da Marcela
Praia de São Marcos - Em frente ao Agrupamento Batalhão do Mar
Praia de São Marcos - Em frente ao Ipem e ao Bar Kalamazoo
Praia de São Marcos - Foz do Rio Calhau I
Praia do Calhau - À direita da elevatória II da Caema
Praia do Calhau - Em frente à Pousada Tambaú
Praia do Calhau Em frente ao Bar Malibu
Praia do Olho d’Água - A direita da Elevatória Pimenta
Praia do Olho d’Água - À direita da Elevatória Iemanjá II
Praia do Meio - Em frente ao Bar do Capiau I
Praia do Meio - Em frente ao Bar da Praia
Praia do Araçagi - Em frente ao Fatima’s Bar
Praia do Araçagi - Em frente ao Bar Novo Point
Praia do Araçagi - Em frente ao Bar do Isaac

Dia Mundial do Meio Ambiente
O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado no dia 5 de junho. Criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas na resolução (XXVII) de 15 de dezembro de 1972, com a qual foi aberta a Conferência de Estocolmo, na Suécia, cujo tema central foi o Ambiente Humano. Todos os anos, nesse dia, diversas organizações da sociedade civil lançam manifestos e tomam medidas para relembrar o público geral da necessidade de preservação do meio ambiente. Em 2019, a China sediará a conferência internacional do Dia Mundial do Ambiente com o principal objetivo de combate à poluição, em uma iniciativa promovida pela Organização das Nações Unidas no quadro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.

[e-s001] Chuvas mais fortes, calor escaldante: as variações climáticas da Ilha
Segundo o Laboratório de Meteorologia do Núcleo Geoambiental (NuGeo) da Uema, as intensificações do clima estão sendo uma tendência vista em todo o planeta

Os sinais físicos e os impactos socioeconômicos deixados pela mudança climática estão cada vez maiores devido às emissões de gases de efeito estufa sem precedentes, provocando um aumento das temperaturas mundiais a níveis perigosos, e tornando ainda mais fortes os períodos chuvosos. Segundo o relatório mais recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM) sobre o estado do clima mundial, correspondente a 2018, a elevação recorde do nível do mar, assim como das temperaturas terrestres e oceânicas foram destacadas. Não distante disso, as consequências podem ser vistas de maneira clara no Maranhão.

Os meses de novembro e dezembro de 2019 foram marcantes no Maranhão, que foi atingindo por temporais iniciados a partir de efeitos da Oscilação Madden e Julian, também conhecidas como oscilações 30-60 dias, que acontecem, normalmente, em anos de El Niño. “É difícil a gente dizer que está havendo um cenário de mudança climática, porque estaríamos afirmando que daqui em diante, todos os anos, as chuvas seriam iguais a essas, o que contraria as expectativas da climatologia, que são datadas em cerca de 30 anos”, explica Marcio Eloi, meteorologista do Laboratório de Meteorologia do Núcleo Geoambiental (NuGeo) da Uema. Os profissionais do laboratório afirmam que todos os pontos do apresentado pela Declaração da OMM são pertinentes e sérios.

Em novembro, as chuvas foram sete vezes mais fortes do que o esperado com os números base. Em dezembro, as chuvas ultrapassaram em quatro vezes as estatísticas. Em todos os quatro primeiros meses de 2019 as chuvas também foram maiores do que o esperado, chegando a bater recorde em março, com 752 milímetros de média em São Luís, representando 75% acima do esperado. Os números do mês de junho ainda não foram calculados.

“O planeta, como um todo, está passando por mudanças climáticas, que já se tornaram tendências. Mas os casos das fortes chuvas, como as vistas nesse ano no nosso estado, ainda não se enquadram como tendência, e sim variabilidade. Tendência seria afirmar que no ano que vem isso vá se repetir, e ainda não sabemos”, explica Gunter Reschke, também do NuGeo. Para afirmar que o período chuvoso no Maranhão será, todos os anos, tão forte como os mais recentes, isso deveria se repetir por mais 30 anos, até que se provasse a sua tendência.

SAIBA MAIS

Principais impactos climáticos registrados pela 25ª Declaração da OMM
Em 2018, a maioria dos perigos naturais que afetaram quase 62 milhões de pessoas esteve associada com fenômenos meteorológicos e climáticos extremos. As inundações seguem como fenômeno com maior número de afetados — mais de 35 milhões de pessoas em todo mundo —, segundo análises de 281 fenômenos registrados pelo Centro de Investigação da Epidemiologia de Desastres e pela Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres.

Na Europa, no Japão e nos Estados Unidos, mais de 1.600 mortes foram atribuídas às intensas ondas de calor e a incêndios florestais, que também causaram danos materiais sem precedentes de quase 24 bilhões de dólares nos EUA. Em Kerala, na Índia, foram registradas as piores inundações em quase um século.

Calor, qualidade do ar e saúde: Existem diversas interconexões entre clima e qualidade do ar que estão sendo exacerbadas pela mudança climática. Estima-se que, entre 2000 e 2016, o número de pessoas expostas a ondas de calor tenha aumentado aproximadamente 125 milhões, dado que as ondas de calor eram, em média, 0,37 dias mais longas que no período de 1986 a 2008, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Recuo das geleiras: O Serviço Mundial de Vigilância das Geleiras mede balanço de massa de geleiras usando um conjunto de geleiras de referência em todo o mundo, com mais de 30 anos de observações entre 1950 e 2018. Elas cobrem 19 regiões montanhosas. Resultados preliminares para 2018, baseados em uma série de geleiras, indicam que o ano hidrológico 2017/18 foi o 31º ano consecutivo de balanço de massa negativo.

Segurança alimentar: A exposição do setor agrícola aos fenômenos climáticos extremos ameaça reverter ganhos da luta contra a desnutrição. Novos indícios apontam para um aumento contínuo da fome após um período prolongado de diminuição, segundo dados complicados por órgãos das Nações Unidas, entre eles a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Estima-se que o número de pessoas subalimentadas tenha chegado a 821 milhões em 2017, devido em parte às graves secas associadas ao intenso episódio do El Niño de 2015/2016.

Deslocamentos populacionais: Dos 11,7 milhões de deslocados internos registrados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) em setembro de 2018, havia mais de 2 milhões de pessoas em situação de deslocamento por conta de desastres relacionados a fenômenos meteorológicos e climáticos. Secas, enchentes e tempestades (incluindo furacões e ciclones) são os fenômenos que ocasionaram a maior quantidade de deslocamentos por desastres em 2018. Em todos os casos, as populações deslocadas são vulneráveis e precisam de proteção.

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