Risco à saúde

Infestação de caramujos africanos chega ao bairro São Francisco

Em várias ruas é possível encontrar os bichos, sobretudo, onde há falta de limpeza urbana; caramujos já haviam sido encontrados na Ponta d'Areia; denúncia foi feita por moradores ao jornal Estado

Emmanuel Menezes / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

[e-s001]Um perigo à saúde está cada vez iminente em ruas e calçadas do bairro São Francisco, em São Luís. O conhecido caramujo africano está proliferando de maneira rápida em calçadas e paredes das ruas dos Abacateiros e dos Manacás. Denúncia de moradores levou O Estado para o local.

Os bichos permanecem em locais como paredes úmidas ou onde não há iluminação solar muito forte. A calçada de um terreno abandonado na Rua dos Abacateiros se tornou o canto perfeito para a reprodução dos pequenos animais. Dezenas de caramujos graúdos e outras dezenas de filhotes são vistos facilmente no espaço. “Isso é um descaso com a população. Esses bichos estão nas ruas, nas calçadas, e já estão entrado nas casas de todos no bairro”, afirma Araújo Carvalho, que trabalha em uma empresa em frente ao terreno citado.

Araújo Carvalho questionou, via telefone, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema), que havia lhe dado uma resposta inviável. “Eles me afirmaram que estão fazendo um curso para ensinar a própria população a conter a reprodução desses bichos”, afirma.

No momento da entrevista, outro morador da via, que preferiu não ser identificado, retirou, da parede da garagem de sua casa, um caramujo. “Não tem mais como conter. Eles se reproduzem muito rápido. Nós, moradores, não temos suporte técnico necessário para acabar com isso”, ressalta.

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Sema) informou que foi instituído pelo Decreto Nº 34324, de 12 de julho de 2018, o Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI), reunindo Sema, Secretaria de Estado de Saúde (SES) entre outros órgãos para discutirem ações de combate ao caramujo africano (Achatina fulica).

A Sema comunica ainda que, no dia 16 de abril deste ano, foi realizada uma capacitação do GTI, envolvendo os técnicos responsáveis. Na ocasião, os representantes das instituições foram instruídos a repassarem aos demais servidores e prestadores de serviços as informações de combate e controle, dentre elas: a diferenciação dos caramujos nativos dos caramujos africanos; a coleta com as mãos bem protegidas com luvas ou sacos; a forma de eliminação, que consiste em colocar os moluscos em um balde com uma das misturas - 1litro de água sanitária para cada 3 litros de água ou 1 quilo de cal ou sal grosso para cada 6 litros de água; deixar os caramujos imersos por um período de 24h para garantir sua morte e, por fim; quebrar as conchas para evitar criadouro do mosquito da dengue Aedes aegypti e descartar no lixo comum. A Sema ressalta que foram encaminhadas amostras do caramujo africano de São Luís e alguns outros municípios à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) para análise parasitológicas, onde os resultados obtidos são negativos. Por fim, informa que, além de trabalhar com a educação ambiental, também realiza ações de combate e, acrescenta que o bairro do São
Francisco está na programação de vistorias.

O Estado questionou o Comitê Gestor de Limpeza Urbana da Prefeitura de São Luís, a respeito de trabalhos de capinagem e limpeza da área, que podem impedir a rápida proliferação dos caramujos em áreas propícias, mas não recebeu respostas.

[e-s001]No Espigão
Em janeiro deste ano, O Estado denunciou o aparecimento de caramujos africanos no bairro da Ponta d’Areia. Há suspeitas de que esses caramujos tenham chegado à capital maranhense em plantações da área do Espigão costeiro e também pode ter sido introduzido para criação e fins comerciais para substituir o escargot, de acordo com a pesquisadora Patrícia Cantanhede, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

“É possível que pequenos ovos e exemplares do caramujo africano tenham chegado em plantas, da região do espigão costeiro. Eles enterram os ovos na areia. Mas há registros mais antigos de que essa espécie pode ter sido introduzida aqui no Maranhão para criação e fins comerciais para substituir o escargot, assim como em outros estaxdos do Brasil”, disse a pesquisadora, na época.

Ainda conforme a pesquisadora, a espécie tem alta capacidade de reprodução. “Nossa preocupação é com a infestação para além do bairro da Ponta d’Areia. Essa espécie tem alta capacidade de reprodução. Não temos registros, aqui no Maranhão, de casos de meningite causada pelo caramujo africano, mas no Brasil já foram registrados casos, entre 2007 e 2008, nos estados de Pernambuco e Espírito Santo”, explicou Patrícia Cantanhede.

Contágio
Os caramujos africanos causam contaminação ao ser humano, por meio do seu muco, que pode ser expelido em frutas, hortaliças ou em qualquer outro produto. “A infecção ocorre porque o caramujo, ao se locomover, libera um muco. Essa secreção faz mal à saúde humana. Tem de ter também muito cuidado com os brinquedos dos bebês, pois as crianças os colocam na boca. A recomendação é que, em caso de contato com o animal, seja feita a higienização correta das mãos, lavar com bastante água e sabão. Frutas, legumes e hortaliças, também devem ser bem limpas. O ideal é fazer uma solução de água com água sanitária (uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água) e deixar as verduras de molho por 30 minutos. Esse molho consegue matar as larvas.

Saiba mais

Caramujo Africano
O caramujo africano (Achatina fulica) é uma espécie de molusco terrestre tropical, originário do leste e nordeste da África. Foi mundialmente disseminado pela ação humana ligada à gastronomia, pela região da Tailândia, China, Austrália, Japão e, recentemente, pelo continente americano. Essa espécie é considerada uma das cem piores espécies invasoras do mundo, causando sérios danos ambientais.

No Brasil, foi introduzida a partir de 1988 como uma forma barata de substituir o escargot. O caramujo africano, além de praga agrícola, é o responsável pela transmissão de parasitas pertencentes ao grupo dos nematoides do gênero Angiostrongylus, que causam doenças de difícil diagnóstico em humanos.

A pessoa é infectada pelo parasita acidentalmente quando ingere alimentos ou água contaminados com larvas de terceiro estágio, presentes no muco secretado pelo caramujo, seus hospedeiros intermediários. Os principais parasitas que podem ser transmitidos pelo caramujo africano são o Angiostrongylus cant onensis e o Angiostrongylus costaricensis.
Fonte: Infoescola.com

Meningite eosinofílica
De acordo com um estudo publicado em junho de 2014 na revista científica “Memórias”, do Instituto Oswaldo Cruz, o primeiro relato brasileiro desse tipo de meningite decorrente do Angiostrongylus foi feito em 2007. Desde então, houve 34 casos confirmados em pacientes de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Um deles resultou em morte. Os cientistas acreditam que essa distribuição se deve, especialmente, à disseminação do caramujo-gigante-africano pelo território nacional.

A meningite eosinofílica se manifesta da mesma forma que as outras versões da doença. “O paciente pode apresentar dor de cabeça, febre, vômito e rigidez na nuca”, informa o infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo.
Fonte: Saúde.abril

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