Meio ambiente

Caramujos africanos também proliferam no bairro Olho d'Água

Rápido processo de reprodução dos animais faz com que infestação seja encontrada em diversos bairros da capital, sobretudo na região da orla

Atualizada em 11/10/2022 às 12h24
Caramujos ocupam vegetação e outros na área da praia do Olho d’Água
Caramujos ocupam vegetação e outros na área da praia do Olho d’Água (caramujo africano no olho d'água)

SÃO LUÍS - O caramujo africano segue em rápido processo de reprodução por São Luís. Desta vez, a denúncia foi feita por moradores do bairro Olho d’Água, nas proximidades da Avenida São Carlos, principal via de acesso para a praia. Moradores e comerciantes da localidade demonstraram preocupação com a rápida infestação do molusco no local.

“Tem um ano quando identificamos os bichos pela primeira vez, e agora eles estão espalhados por toda parte. Nas paredes dos bares, muros das casas e até na areia”, diz José Raimundo Soares, jornalista e morador do bairro.

Nas dunas, próximo a vegetações rasteiras, dezenas de bichos são encontrados. Nas paredes das casas ou até mesmo nos bares de madeira é possível encontrar os caramujos subindo e tomando conta do espaço. Vale lembrar que, quan­to mais úmido estiver o local, mais confortável o molusco fica.

“É perigoso, pois nunca vamos saber se o bicho está infectado ou não. Eu já matei uns 10 caramujos hoje, na minha casa, só usando sal”, explica o jornalista. Até mes­mo nos troncos e galhos das palmeiras é possível encontrar bichos.

Nos finais de semana, o local po­de representar perigo, principalmente para as crianças, que gostam de brincar na areia da praia. O contato direto das mãos com o muco do caramujo que estiver infectado pode causar doenças como a meningite eosinofílica.

No São Francisco
Em maio deste ano, O Estado denunciou a situação das ruas dos Abacateiros e dos Manacás, ambas no bairro São Francisco. Os bichos permanecem em locais como paredes úmidas ou onde não há iluminação solar muito forte. A calçada de um terreno abandonado na Rua dos Abacateiros se tornou o canto perfeito para a reprodução dos pequenos animais.

Dezenas de caramujos graúdos e outras dezenas de filhotes foram registrados com facilidade no espaço. “Isso é um descaso com a população. Esses bichos estão nas ruas, nas calçadas, e já estão entrado nas casas de todos no bairro”, afirma Araújo Carvalho, que trabalha em uma empresa em frente ao terreno citado.

No momento da entrevista, ou­tro morador da via, que preferiu não ser identificado, retirou, da parede da garagem de sua casa, um caramujo. “Não tem mais como conter. Eles se reproduzem muito rápido. Nós, moradores, não temos suporte técnico necessário para acabar com isso”, ressaltou.


Eliminação
O Estado questionou as secretarias responsáveis a respeito do caso. Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) esclareceu que a responsabilidade pelo recolhimento dos caramujos para fins de eliminação física é do município de São Luís, por meio das Secretarias de Meio Ambiente e Obras e Serviços Públicos. O Estado também questionou a Prefeitura de São Luís a respeito do caso, mas até o fechamento dessa reportagem não hou­ve nenhuma resposta.

A SES e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), por meio do Decreto nº 34324, de 12 de julho de 2018, instituíram um Grupo de Trabalho Interinstitucional (GTI) para discutir ações de combate ao caramujo africano. Segundo a nota, no dia 16 de abril deste ano o GTI passou por uma capacitação, na qual representantes das instituições foram instruídos a repassarem aos demais servidores e prestadores de serviços as informações referentes ao combate e controle do molusco.

Estão entre elas: a forma de diferenciar os caramujos nativos dos caramujos africanos; forma correta para realizar a coleta, sendo necessário o uso de luvas ou sacolas plásticas para a proteção das mãos; eliminação, que consiste em colocar os moluscos em um balde com uma das misturas – um litro de água sanitária para cada três litros de água ou um quilo de cal ou sal grosso para cada seis litros de água; deixar os caramujos imersos por um período de 24 horas para garantir sua morte e, por fim, quebrar as conchas para evitar criadouro do Aedes aegypti e descartar o material de forma correta.

Foram produzidos materiais educativos e a Sema já está trabalhando na produção de novos materiais. Informou, ainda, que fo­ram encaminhadas amostras do caramujo africano de São Luís e de alguns outros municípios à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz-RJ) para análise parasitológicas, cujos resultados obtidos foram negativos.

A secretaria afirma que o bairro do São Francisco foi incluído na programação de vistorias, que deve se iniciar ainda no mês de junho. Por fim, orienta que áreas baldias e onde há concentração resíduos sólidos e matagal, espaços que favorecem a proliferação do caramujo, são dever dos proprietários o cuidado e limpeza de suas propriedades.

SAIBA MAIS

No Espigão
Em janeiro deste ano, O Estado denunciou o aparecimento de caramujos africanos no bairro da Ponta d’Areia. Há suspeitas de que esses caramujos tenham chegado à capital maranhense em plantações da área do Espigão costeiro e também pode ter sido introduzido para criação e fins comerciais para substituir o escargot, de acordo com a pesquisadora Patrícia Cantanhede, da Universidade Estadual do Maranhão (Uema).

“É possível que pequenos ovos e exemplares do caramujo africano tenham chegado em plantas, da região do espigão costeiro. Eles enterram os ovos na areia. Mas há registros mais antigos de que essa espécie pode ter sido introduzida aqui no Maranhão para criação e fins comerciais para substituir o escargot, assim como em outros estados do Brasil”, disse a pesquisadora, na época.

Ainda conforme a pesquisadora, a espécie tem alta capacidade de reprodução. “Nossa preocupação é com a infestação para além do bairro da Ponta d’Areia. Essa espécie tem alta capacidade de reprodução. Não temos registros, aqui no Maranhão, de casos de meningite causada pelo caramujo africano, mas no Brasil já foram registrados casos, entre 2007 e 2008, nos estados de Pernambuco e Espírito Santo”, explicou Patrícia Cantanhede.

Contágio
Os caramujos africanos causam contaminação ao ser humano, por meio do seu muco, que pode ser expelido em frutas, hortaliças ou em qualquer outro produto. “A infecção ocorre porque o caramujo, ao se locomover, libera um muco. Essa secreção faz mal à saúde humana. Tem de ter também muito cuidado com os brinquedos dos bebês, pois as crianças os colocam na boca. A recomendação é que, em caso de contato com o animal, seja feita a higienização correta das mãos, lavar com bastante água e sabão. Frutas, legumes e hortaliças, também devem ser bem limpas. O ideal é fazer uma solução de água com água sanitária (uma colher de sopa de água sanitária para um litro de água) e deixar as verduras de molho por 30 minutos. Esse molho consegue matar as larvas.

Caramujo Africano
O caramujo africano (Achatina fulica) é uma espécie de molusco terrestre tropical, originário do leste e nordeste da África. Foi mundialmente disseminado pela ação humana ligada à gastronomia, pela região da Tailândia, China, Austrália, Japão e, recentemente, pelo continente americano. Essa espécie é considerada uma das cem piores espécies invasoras do mundo, causando sérios danos ambientais.

No Brasil, foi introduzida a partir de 1988 como uma forma barata de substituir o escargot. O caramujo africano, além de praga agrícola, é o responsável pela transmissão de parasitas pertencentes ao grupo dos nematoides do gênero Angiostrongylus, que causam doenças de difícil diagnóstico em humanos.

A pessoa é infectada pelo parasita acidentalmente quando ingere alimentos ou água contaminados com larvas de terceiro estágio, presentes no muco secretado pelo caramujo, seus hospedeiros intermediários. Os principais parasitas que podem ser transmitidos pelo caramujo africano são o Angiostrongylus cant onensis e o Angiostrongylus costaricensis.

Meningite eosinofílica
De acordo com um estudo publicado em junho de 2014 na revista científica “Memórias”, do Instituto Oswaldo Cruz, o primeiro relato brasileiro desse tipo de meningite decorrente do Angiostrongylus foi feito em 2007. Desde então, houve 34 casos confirmados em pacientes de Pernambuco, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

Um deles resultou em morte. Os cientistas acreditam que essa distribuição se deve, especialmente, à disseminação do caramujo-gigante-africano pelo território nacional.

A meningite eosinofílica se manifesta da mesma forma que as outras versões da doença. “O paciente pode apresentar dor de cabeça, febre, vômito e rigidez na nuca”, informa o infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo.

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