Editorial

A violência continua

Atualizada em 11/10/2022 às 12h25

Nos primeiros meses deste ano, o Brasil tem acompanhado diversos casos de atentado a integridade e a vida da mulher, sempre causados por maridos/namorados ou ex-companheiros que não aceitam a separação. Uma certeza: o feminicídio avança. Uma mulher morre a cada duas horas no Brasil. Traduzindo essa realidade para dados da Organização das Nações Unidas, o Brasil já é o quinto país do planeta onde morrem mais mulheres assassinadas.

Não são raros os dias em que os veículos de comunicação denunciam casos de vítimas de feminicídio em todo o país. E a imprensa, no seu papel, está denunciando e contribuindo para aprofundar um debate sobre essa violência de gênero, que, ao que parece, está se propagando de Norte a Sul em todos os níveis sociais. A principal forma de amparo a mulheres vítimas de violência são as medidas protetivas expedidas pela Justiça. Elas fazem parte de uma estatística que só aumenta no Brasil.

Segundo a Organização das Nações Unidas, os outros países são de El Salvador, Colômbia, Guatemala, Rússia. Não por acaso, países onde o machismo, o poder hierárquico e a relação desigual entre homens e mulheres dominam na sociedade.

E os números da violência contra a mulher seguem num crescendo. De um lado, porque as vítimas agora denunciam mais; de outro, porque os "machos" não toleram a separação. E, como agravante, nós temos a proteção do Planalto com o discurso armamentista.

Embora os números exatos de feminicídio - crime que configura o assassinato de mulheres pela condição do sexo feminino, transformado em lei desde 2015 - ainda sejam de difícil definição no país, pesquisadores e advogados garantem que essa quantidade de casos em um tempo curto, conduzidos por armas brancas e executados por pessoas que se relacionavam com as vítimas não é um cenário difícil de encontrar. Eles afirmam que a maior visibilidade desses crimes, no entanto, tem contribuído para uma cultura crescente contra o feminicídio e os relacionamentos abusivos.

Com a liberação das armas pelo governo de Jair Bolsonaro, entidades como o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Instituto Maria da Penha e a Agência Patrícia Galvão, que investigam a violência contra a mulher, são unânimes em projetar que a situação só vai se agravar. A arma dentro de casa será a ferramenta ideal para cometer o feminicídio "num surto", "sob violenta emoção".

A situação ainda pode piorar. Em abril, a ministra Damares Alves disse na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados que "manter a Casa da Mulher pelo ministério é impossível". Ninguém sabe a quem recorrer no sufoco, como pedir socorro ou deixar a residência com vida.

Em muitos estados, as vítimas dizem que ligam para o 180 e não recebem a resposta para o que precisam. Outras, narram até que o número não funciona. A ausência do poder público é generalizada. Exceto algumas iniciativas do Ministério Público, em alguns estados, e das Guardas Municipais, em poucas cidades, o que existe é um vazio.

"Quem ama não bate, quem ama cuida. Quem ama zela, quem ama ajuda, apoia, né? Fortalece. Então, quem ama não bate, de verdade", diz uma vítima de violência doméstica.

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