Entrevista

Medidas para prevenir acidentes e ter uma viagem tranquila no Carnaval

Especialistas dão dicas que visam ajudar a prevenir acidentes e esclarecer motoristas que vão pegar a estrada neste período de folia carnavalesca

Atualizada em 11/10/2022 às 12h26
Francisco Soares, João Pedro Aragão e Eulálio Figueiredo dão dicas para que o período seja só de folia e alegria
Francisco Soares, João Pedro Aragão e Eulálio Figueiredo dão dicas para que o período seja só de folia e alegria (Eulálio Figueiredo, João Pedro Aragão e Francisco Soares)

SÃO LUÍS - Como ocorre todos os anos, O Estado ouve especialistas em trânsito que dão dicas visando prevenir acidentes e esclarecer motoristas que vão pegar estrada neste Carnaval. A palavra, desta vez, é do juiz Eulálio Figueiredo e dos advogados João Pedro Aragão e Francisco Soares, especialistas em mobilidade urbana e que há tempos atuam na área de trânsito e preparam o lançamento de mais uma obra, “Trânsito: por que tanta violência?”. O livro é uma parceria com o médico Ruy Palhano e as especialistas Claudia Oliveira, Suzana Oliveira e Rose Farias, da Educação para o trânsito do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-MA). Confira abaixo:

O que dizem as estatísticas em relação ao número de acidentes de trânsito no ano passado?

João Pedro Aragão - A situação é preocupante. Isso porque houve um aumento de mais de 50% em relação ao número de acidentes de 2017 para 2018. Só no período das festas de fim de ano, segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), duplicou a quantidade de condutores flagrados dirigindo sob efeito do álcool, como também quadruplicou a quantidade de condutores que não utilizaram o cinto de segurança, o que faz imaginarmos que, se não tomadas as medidas necessárias e urgentes para conter esse avanço da violência no trânsito, teremos uma estatística totalmente desfavorável à vida no final deste Carnaval.

Em que condições acontecem mais acidentes nas estradas?

João Pedro Aragão - Segundo as estatísticas, em relação ao tempo, traçado da estrada e turno, os acidentes, por incrível que pareça, acontecem com tempo bom, trechos de rodovias retas e durante o dia e só a presença dos radares móveis tem conseguido diminuir esses índices.

Quais são as principais causas de acidentes?

João Pedro Aragão - O poder público peca por não manter uma efetiva fiscalização e manutenção das condições das estradas, sem contar com a deterioração causada pelo tempo e desgaste das placas, que, aliado ao excesso ou velocidade incompatível, faz, por exemplo, um condutor a 110 km/h só enxergar apenas 10% das placas de sinalização e a 80km/h, 60% dessas placas. A desatenção devido ao uso de aparelhos celulares, piora ainda mais a situação onde o condutor, chega a trafegar em torno de 60 m às cegas.

No decorrer do período carnavalesco, ocorre o aumento do número de acidentes principalmente pelo uso do álcool ao volante. Além do bafômetro, houve algum método de aprimoramento para redução de acidentes?

João Pedro Aragão - Os acidentes não acontecem. Eles são causados, uma vez que em 60% deles os condutores estão sob efeito de drogas, e nem sempre é álcool. Recentemente, foi inventado o drogômetro, que detecta qualquer tipo de droga, como maconha, cocaína e anfetaminas. Ainda em fase experimental, já foi testado no Rio Grande do Sul, dependendo de edição da resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), que virá contribuir para redução dos acidentes, em prol da vida.

Quais seriam, então, as medidas preventivas ou cuidados que deve ter o folião para garantir uma viagem mais tranquila?

João Pedro Aragão - Para não transformar uma grande viagem em um grande aborrecimento ou pior em uma grande tragédia, o folião deve fazer a revisão do motor, suspensão e pneus do veículo, além de todos os itens de segurança. Em caso de viagem longa, fazer a troca dos fluidos e correias, como também verificar os itens básicos, como faróis, setas, limpadores de para-brisas, espelhos, retrovisores e é claro sem esquecer de portar os documentos obrigatório do condutor (a carteira na­cional de habilitação CNH) e do veículo o licenciamento.

Recentemente, foi inventado o drogômetro”João Pedro Aragão

Quais os riscos de dirigir na chuva?

Eulálio Figueiredo - Os pneus não foram fabricados para trafegarem nas chuvas. Mesmos os novos podem sofrer derrapagens ou aquaplanagem, isso porque no início da chuva os primeiros pingos d’água se misturam com a fuligem, poeira, resíduos de pneus e óleo, que tornam as pistas escorregadias. As estatísticas comprovam que a maioria dos acidentes, as vezes inexplicáveis, ocorrem logo no início das chuvas, causando principalmente os tombamentos e capotagens. O condutor folião deve estar atento aos animais na estrada, curvas perigosas, depressões e lombadas, que são os maiores inimigos, principalmente dos motociclistas.

No Carnaval, como garantir uma viagem tranquila para o folião que vai pegar a estrada?

Eulálio Figueiredo - Primeiramente viagem 100% tranquila nesta época é um pouco difícil, uma vez que as estatísticas de acidentes a cada ano não são nada animadoras, totalmente desfavoráveis à vida, mas é possível sim ter uma viagem tranquila e evitar uma tragédia, bastando para isso ter uma boa noite de sono, ou caso a viagem seja à noite, ter um dia de descanso, nada de bebidas e, claro, jamais deixar de usar o cinto, tanto o motorista quanto passageiros, além da revisão de todos os itens de segurança do veículo.

O que deve anteceder uma viagem segura, neste Carnaval?

Francisco Soares - O condutor quando se propõe a fazer uma viagem sobre rodas coloca sua vida e sua integridade física sob duas, três ou quatro rodas. Isso por si só já seria uma completa aventura sobre o asfalto. Nesse momento, o menos importante é o motor, a potência do carro, a suspensão. Se os pneus não estiverem bons, nada mais faz sentido. Assim, eu digo que o primeiro item de inspeção sempre deve ser o pneu. Às vezes, ele aparentemente está perfeito mas repleto de micro rachaduras em sua lateral provocado pela lenta e gradual desidratação da borracha. Outro pronto mais fácil de ser percebido é o desgaste natural da banda de rodagem que pode estar próxima da chamada lona ou malha de aço que confere resistência mecânica ao mesmo. O pneu sem os “biscoitos” é sinal de que ele que não vai ter aderência ao solo e muito me­nos capacidade de evitar a aquaplanagem. Resolvida a questão dos pneus é a hora de inspecionar a suspensão, pois é ela que junta, que liga o carro aos pneus. Uma suspensão comprometida impede uma boa aderência do veículo ao solo, principalmente quando os amortecedores estão com problema, vazando óleo ou empenados. O último item é o motor. Sempre verificar nível e a integridade do óleo do motor, do fluido de freio e do hidráulico da direção. Estando o carro em perfeitas condições o condutor deve fazer uma checagem final nos itens de segurança, tais como extintor de incêndio, luzes de advertência, triângulo, pneu estepe, seguro, pagamento do IPVA, etc.

Com os congestionamentos que provocam estresse nos condutores, pode-se afirmar que a impaciência é motivo da imprudência no trânsito?

Francisco Soares - O estresse não pode ser considerado um motivo da imprudência, mas de certa forma pode contribuir para que o condutor despreze algumas ações adequadas durante o período em que esteja dirigindo o veículo. É fato que há uma relação entre a impaciência e a perda do foco do condutor. O Sistema Nacional de Trânsito não apresenta grande preocupação em relação as condições psicológicas do condutor. Durante a fase de habilitação é feito um exame psicológico mas diante de uma situação onde há um total controle da pessoa a ser examinada. No trânsito, é diferente: as buzinas, os conflitos interpessoais, insultos, etc. Tudo isso contribui para tornar o trânsito um ambiente de extrema passionalidade. Aí, fica muito difícil conter os nocivos efeitos do estres­se junto ao aumento da imprudência e dos acidentes no transito.

Não temos um programa voltado para pedestres”Francisco soares

Quais as novidades para a melhoria da mobilidade urbana?

Francisco Soares - Para melhorar a mobilidade urbana, teria que ser incluído o pedestre e o ciclista nessa equação gerencial! É uma falácia falar de mobilidade na qual pedestres e ciclistas, diria até os motociclistas, não estejam incluídos. O Maranhão tem uma frota de 1.600.000 veículos, dos quais quase 1 milhão são motocicletas. Não temos um programa voltado para pedestres, bicicletas motocicletas no trânsito. São Luís por exemplo não possui uma passarela, ou seja, uma passagem elevada para pedestre. Não temos ciclovias. Falar de mobilidade em São Luís é uma utopia! Nossa cidade é hostil, é agressiva com pedestres, ciclistas e motociclistas. Precisamos passar uma borracha no que está escrito e reescrever um verdadeiro plano de mobilidade para a nossa cidade.

Quais seriam as medidas necessárias a serem adotadas pelo poder público para minimizar os acidentes e congestionamentos?

Francisco Soares - Existe uma solução perfeita para esse problema. Está descrita no Código de Trânsito Brasileiro (CTB), em seu parágrafo terceiro do art. 1º. Essa medida trata da responsabilidade objetiva das autoridades de trânsito sobre qualquer ação ou omissão que leve a um prejuízo ou a uma morte! Pelo Código Penal, só há uma forma da autoridade afastar a responsabilidade objetiva que é demonstrar pericialmente que não se teve culpa ou concorreu para o prejuízo. Assim, ao tratar um acidente de transito a autoridade vai precisar fazer um diagnóstico e um plano de ação para que ele não se repita. Só assim a autoridade de trânsito vai deixar de responder civil e criminalmente pelo acidente! Sem dúvida, essa medida seria o primeiro grande passo para conter as dezenas de milhares de acidentes no Brasil, problema considerado hoje pela ONU como uma epidemia de saúde pública. Ao lado disso, não podemos esquecer quatro itens importantes dos pontos que eu chamo de os quatro “E”: Educação, Esforço Legal, Espiritualidade e Engenharia.

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