Fato inédito

Sonda chinesa pousa no lado oculto da Lua pela primeira vez na história

Com a missão, país se coloca em destaque na corrida espacial. Objetivo é estudar a composição dessa parte do satélite, que não pode ser vista da Terra

Atualizada em 11/10/2022 às 12h27
Simulação do pouso da Chang''e 4, visto pelo monitor do Centro de Controle do Espaço em Pequim
Simulação do pouso da Chang''e 4, visto pelo monitor do Centro de Controle do Espaço em Pequim (AP)

PEQUIM - A sonda espacial chinesa Chang'e 4 pousou, ontem (3), no lado oculto da Lua — a parte do satélite que não é visível da Terra. Segundo a Administração Nacional Espacial da China, é a primeira vez na história que este pouso é realizado. As informações são das agências de notícias EFE, Associated Press, e da Rede Global de Televisão da China (CGTN, em inglês).

A nave, que tem um módulo e um 'rover' — veículo de exploração espacial — deve estudar a composição mineral, o terreno, relevo e a manta da superfície lunar, a camada abaixo da superfície. Também deve realizar observações astronômicas por meio de baixas frequências de rádio, a chamada radioastronomia.

"O lado oculto da Lua é um raro lugar calmo, que está livre da interferência de sinais de rádio vindos da Terra", afirmou o porta-voz da missão, Yu Gobin, segundo a agência de notícias estatal Xinhua News. "Essa sonda pode preencher o vazio de observação de baixa frequência na radioastronomia, e irá fornecer informações importantes para estudar a origem das estrelas e da evolução da nébula [solar]".

A alunagem [aterrissagem na superfície lunar], realizada às 0h26 (horário de Brasília), "abriu um novo capítulo na exploração humana da Lua", afirmou a agência espacial chinesa. O local exato do pouso foi a cratera Von Karman, no polo sul lunar, que tem 186 quilômetros de diâmetro e 13 quilômetros de profundidade. Segundo a AP, cientistas chineses acreditam que pousar nessa cratera possibilitaria coletar novas informações sobre a manta da Lua.

O lado oculto da Lua é relativamente pouco explorado e tem uma composição diferente daquela do lado "próximo", que pode ser visto da Terra, e onde outras naves já pousaram. Países como a antiga União Soviética, os Estados Unidos e até mesmo a própria China já haviam realizado missões desse tipo.

De acordo com a Nasa, a agência espacial americana, essa parte do satélite foi observada pela primeira vez em 1959, quando a nave soviética Luna 3 enviou as primeiras imagens. Em 1962, os Estados Unidos tentaram enviar uma missão não tripulada ao lado oculto da Lua, que não deu certo, segundo a EFE.

China no espaço

A Chang'e 4 foi lançada no dia 8 de dezembro do ano passado pelo foguete Long March 3B, do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang, na província de Sichuan. Quatro dias mais tarde, a sonda entrou na órbita lunar. As comunicações entre a sonda e a Terra são possíveis graças a um satélite, Queqiao, posto em órbita em maio de 2017 e que funciona como um transmissor "espelho" de informações entre os centros de controle na Terra e Chang'e 4.

O objetivo do programa Chang'e, que começou com o lançamento de uma primeira sonda orbital em 2007, é uma missão tripulada à Lua a longo prazo, ainda sem data definida. A primeira missão espacial tripulada da China foi em 2003 — o terceiro país a realizar uma depois de Rússia e Estados Unidos. O país também colocou duas estações espaciais em órbita e planeja lançar um 'rover' em Marte no meio da década de 2020.

Em 2013, a Chang'e 3, a nave predecessora da missão atual, fez o primeiro pouso na Lua desde a Luna 24, lançada pela União Soviética em 1976. Os Estados Unidos são o único país que conseguiu mandar uma pessoa à Lua.

O programa espacial chinês sofreu um revés no ano passado, quando o lançamento do foguete Long March 5 falhou. Por enquanto, a China planeja enviar a sonda Chang'e 5 à Lua no ano que vem e trazê-la de volta à Terra com amostras — algo que não foi feito desde a missão soviética de 1976.

A chegada da Chang'e 4 marca as ambições chinesas de rivalizar com os EUA, a Rússia e a Europa no espaço — e, mais amplamente, de solidifcar a posição da China como um poder regional e global.

"O sonho do espaço é parte do sonho de tornar a China mais forte", afirmou o presidente Xi Jinping já em 2013, pouco depois de chegar ao poder.

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