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Theresa May adverte que há risco de não haver Brexit

Primeira-ministra britânica defende acordo com a União Europeia no Parlamento e líder da oposição diz que governo está em ''caos'' e pede que May retire negociação ''não qualificada''; o ministro do Brexit, renunciou por discordar dos termos do acordo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28
A primeira-ministra britânica Theresa May defende acordo do Brexit no Parlamento
A primeira-ministra britânica Theresa May defende acordo do Brexit no Parlamento (AFP)

LONDRES - Questionada pela negociações com a União Europeia e enfraquecida por quatro renúncias no governo , a primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, defendeu diante do Parlamento, nesta quinta-feira, que o acordo firmado com o bloco europeu para o Brexit "é o melhor que o país poderia ter negociado". Na visão da líder do processo, a escolha é seguir adiante ou não com uma negociação que devolve aos britânicos o controle de suas fronteiras e leis e "entrega" o desejo ratificado pelo povo em referendo há dois anos e meio. O líder da oposição britânica, o trabalhista Jeremy Corby, discursou na sequência, classificou o governo como um "caos" e pediu a retirada do "não qualificado" acordo, considerado "já morto" por outros parlamentares.

May destacou aos parlamentares que "não finge ser este um processo confortável". A primeira-ministra frisou que o acordo fechado com a União Europeia na terça-feira não é o acordo final do Brexit e prometeu "negociar intensamente" mais adiante com o Conselho Europeu. Ao dizer que pretende honrar com a responsabilidade de honrar a vontade do povo britânico, ela advertiu a Casa legislativa que o voto contrário ao acordo pode significar a não existência do Brexit.

"Ou continuamos com nenhum acordo, nenhum Brexit, ou escolhemos nos unir e apoiar o melhor acordo que poderíamos ter negociado", ressaltou May. "Isso significa fazer o que penso serem as escolhas certas, não as escolhas fáceis".

Confrontada por um legislador, que interpretou suas palavras como um sinal de que é opção ficar na União Europeia, May retificou que, a seu ver, "há risco de no-Brexit (de a saída britânica do bloco europeu não ocorrer"). A líder também rebateu um congressista que criticou o acordo por não citar a Escócia - para ela, não há citação textualmente porque os escoceses fazem parte de um só Reino Unido.

Ontem, o ministro do Brexit, responsável pela saída do Reino Unido da União Europeia, Dominic Raab, renunciou ao cargo por discordar dos termos do acordo. Pelo mesmo motivo, anunciaram a saída a secretária de Trabalho e Pensões, Erther McVey, e a secretária de Estado do Brexit, Suella Braverman. Antes dos três, o secretário de Estado para a Irlanda do Norte, Shailesh Vara, apresentou sua carta de demissão.

Os principais pontos de discórdia estão na extensão da união aduaneira com o bloco e a previsão para a fronteira entre a Irlanda do Norte e a Irlanda do Sul. Reino Unido e UE decidiram que, até que outros acordos comerciais sejam negociados, todo o país permanecerá em união aduaneira temporária com o bloco, na expectativa de que ambas as partes cheguem a um acerto conclusivo antes do final de 2020. O foco é impedir controles de fronteira na Irlanda do Sul - única passagem terrestre entre a Europa e o país caso o Brexit seja finalizado - sem que haja um acordo comercial em vigor. A Irlanda do Norte ficaria então sujeita a um arranjo especial, que manteria a província sob as regras regulatórias da UE para produtos por um período estendido. O temor é que tal arranjo mantivesse o Reino Unido atado à União Europeia por anos.

Brexit

A primeira-ministra destacou aos parlamentares, nesta quinta-feira, que não pretende estender a implementação do Brexit e não acredita que precisará fazê-lo. Segundo ela, nem o governo nem a União Europeia ficaram "totalmente felizes" com o arranjo irlandês. Ela concordou que o regime negociado para a Irlanda do Norte "levanta difíceis questões". Confrontada por parlamentares, frisou que o acordo garante empregos e segurança e defendeu uma política "independente" para o Reino Unido. Ela afirmou ainda que o acordo poderá contemplar o interesse nacional em meio a um processo de reconfiguração de relações que se organizavam de outra forma há 40 anos.

"Eu disse que estabelecer uma inteiramente nova relação seria complexo e requereria trabalho duro. Mas um Brexit no interesse nacional é possível", destacou May, que reconheceu cogitar uma saída "sem acordo" em meio às críticas e renúncias de gabinete." Nós viemos nos preparando para no-deal (nenhum acordo) e continuamos nos preparando, porque eu reconheço que temos um estágio adiante de negociação com o Conselho Europeu e que o acordo, quando finalizado, precisa voltar para esta Casa".

Negociação

O líder da oposição no Parlamento, o trabalhista Jeremy Corbyn, apontou que o governo não está preparado para a negociação. Para ele, o governo está em "caos" e ratificou termos que não dão verdadeira voz aos britânicos na União Europeia. Ele ressaltou a renúncia de Raab e de seu antecessor, David Davis — os dois por se oporem às estratégias de May para o Brexit. Para ele, o acordo arrisca deixar o país "no meio do caminho".

"O governo não pode submeter ao Parlamento este acordo não qualificado", frisou Corbyn, para quem "nenhum acordo não é uma opção real" e o governo não tem plano claro de acesso a mercados nem de período de implementação conclusiva do Brexit.

Depois do discurso no Parlamento, um porta-voz de May destacou a jornalistas que ela lutará pelo cargo de liderança no governo caso o Partido Conservador entre com uma moção de desconfiança. A primeira-ministra, segundo o porta-voz, ainda espera comandar o país "quando o Reino Unido deixar a União Europeia em março" de 2019.

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