Artigo

O lobo do homem

Atualizada em 11/10/2022 às 12h28

A última campanha eleitoral foi, dentre as de que participei, como advogado, promotor de Justiça, juiz de Direito, ou eleitor, à minha percepção, completamente diferente das outras no que se refere ao envolvimento dos eleitores e dos meios de comunicação usados. Outro diferencial foi a intensidade do radicalismo de posições pessoais que resultaram em conflitos entre amigos e familiares, na defesa de seus candidatos e, mais que isso, no combate aos candidatos adversários.

A identidade dessa com as outras campanhas eleitorais ficou por conta das promessas absurdas, das denúncias de fraudes, do cinismo de corruptos proclamando sua honestidade e da compra de votos.

No meio da inusitada polêmica coletiva e do incessante tráfego de mensagens, repletas de informações contraditórias, desencontradas e suspeitas, procurei conversar e ouvir amigos de todas as vertentes. Três deles, um cientista político carioca, um filósofo italiano e um magistrado maranhense, levaram-me à reflexão, que, no entanto, me reduziram à insignificância a que Sócrates já havia chegado, há mais de quatrocentos anos antes de Cristo. Ou seja, confirmei a minha ignorância. Ignorância essa que cresce na mesma proporção em que mais ouvimos, vemos e estudamos. Provavelmente porque, à medida que assim abrimos as janelas do Universo, descobrimos que ele é maior do que imaginamos e, assim, vamos tomando conhecimento da grandeza crescente do que não conhecemos. Outras conclusões também se ratificam. Uma delas sobre o homem, sua natureza. Se for ou não uma conclusão correta, só a ignorância pode explicar eventual equívoco. Para isso volto ao passado, mais recente, para dar razão a Thomas Hobbes, que, em sua obra Leviatã, de 1651, defendeu a tese de que o homem é o lobo de seu semelhante. É o que se tem visto ao longo dos tempos, conforme registros históricos lavrados em livros sagrados e profanos, como recentemente na obra do israelense Yuval Noah Harari, Sapiens – Uma breve história da humanidade, que traça um resumo do percurso do Homo sapiens para, nos últimos duzentos mil anos, dominar o planeta, como ressalta a revista Veja de 29 de agosto de 2018, em notícia sobre o livro 21 ideias para o Século 21, último de Harari, “discreto profeta de pesadelos tecnológicos”.

Não é preciso, porém, ler Sócrates, Hobbes, Harari ou qualquer outro escritor para se constatar que o homem tem, além dos cachorros, alguns amigos. Contudo, o que se vê no noticiário do mundo todo é a violência proliferando, do homem contra o homem, para dominá-lo, subjugá-lo, explorá-lo, em grupos lícitos ou ilícitos, todos na busca do poder a qualquer custo, ainda que tentando legitimar seu exercício através do Estado, que, como afirmei em minha dissertação de mestrado, convertida em livro editado pelo Conselho Federal da OAB, A Ordem dos Advogados do Brasil e o Estado brasileiro, tem sido o maior algoz do cidadão.

Aliás, na banca, um dos membros reclamou que sua obra não teria sido citada, como fonte primária. Os lobos e Narcisos estão, também, nas bancas. Os defensores de monografias, dissertações e teses não devem, jamais, esquecer-se de Hobbes, ou da história do sapo e do escorpião. Para estar preparados para a ferroada.

Carlos Nina

Advogado e jornalista

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