Artigo

SEPSE, uma assassina desconhecida por muitos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

Estima-se que a cada 3 a 4 segundos morra uma pessoa com sepse no mundo. No Brasil, um recente levantamento estima que ocorram mais de 400 mil casos de sepse por ano e que 55% desses pacientes morrem em consequência da doença. Para que se tenha uma ideia, sepse mata mais do que os casos de câncer de mama, câncer de pulmão e Acidente Vascular Cerebral SOMADOS. Pior, a maioria dos pacientes deixam de ser salvos por absoluto desconhecimento dos sinais de alerta da doença. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, em março de 2017, que ouviu 2.100 pessoas em 130 municípios de todo o Brasil, apresentou a seguinte pergunta: Já ouviu falar em sepse? Apenas 14% dos entrevistados responderam que sim.

A Medicina define sepse como uma reação exagerada do organismo a uma infecção. Essa reação faz com que os elementos de defesa do nosso organismo passem a produzir lesões em nossos próprios órgãos.

A sepse sempre começa com uma infecção muitas vezes banalizada e tratada em casa com um anti-inflamatório. Se você tem uma infecção, seja ela qual for, e apresentar sonolência, febre e calafrios, sentir que o coração está acelerado, certa dificuldade para respirar e perceber que está urinando pouco, não perca tempo, procure assistência médica. Sobreviver à sepse tem relação direta com a rapidez da identificação e do início do tratamento.

Temos dois marcadores importantes no combate a essa grave doença. O primeiro foi a criação, em 2002, de uma campanha mundial destinada a reduzir a mortalidade. A campanha Sobrevivendo à Sepse, que envolve profissionais de saúde de todo o mundo, desenvolve e atualiza protocolos de tratamento além de monitorar por estudos, periodicamente, os resultados desses esforços. Os resultados, hoje, são evidentes em países do primeiro mundo com redução da mortalidade, mas, infelizmente, o impacto não foi o mesmo em países pobres ou em desenvolvimento, inclusive no Brasil. O segundo marcador importante é representado por resolução, de maio de 2017, da Assembleia Mundial de Saúde da ONU, que estabeleceu que a sepse é prioridade mundial e elencou uma série de iniciativas a serem adotadas nos vários países.

As expectativas que se criaram, de que agora tínhamos um forte parceiro nessa luta, que os nossos governantes iriam se mobilizar e que teríamos mais investimentos para pesquisa e campanhas, podem ter acontecido no primeiro mundo, mas no Brasil o impacto não foi percebido.

A nossa realidade atual: Um estudo publicado em 2009, que incluiu milhares de pacientes de nove países, inclusive do Brasil, mostrou que a taxa de mortalidade por sepse no nosso país foi de 56,1%, menor só que a da Malásia, com 56,8%.

Essa realidade mudou desde então? A resposta é não. Em um estudo publicado em 2017 e que envolveu 317 UTIs brasileiras, a maioria delas nas regiões Sul e Sudeste, a mortalidade foi de 55,7%.

É possível mudar essa realidade? Claro que sim. Desde 2007, coordeno um grupo de combate à sepse no Hospital São Domingos. São médicos, enfermeiros e outros profissionais de apoio que formam o Time da Sepse. Conduzimos o tratamento da sepse seguindo rigorosamente as recomendações do Surviving Sepsis Campaign e da Assembleia Mundial de Saúde da ONU. Um levantamento que realizamos no ano de 2017 e incluiu 188 pacientes mostrou que a mortalidade foi de 17,6%, ou seja, menos de um terço da mortalidade brasileira por sepse.


José Raimundo Azevedo

Médico coordenador da UTI do Hospital São Domingos


Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.