Reação

China diz que Estados Unidos mentem sobre Coreia do Norte

Pequim responde duramente ao presidente Trump por afirmar que país atrapalha relações com Pyongyang

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29

PEQUIM - A China criticou ontem a lógica "irresponsável e absurda" dos Estados Unidos em relação à Coreia do Norte, um dia depois de o presidente americano Donald Trump afirmar que o país "dificulta muito" a relação com Pyongyang.

Trump acusou na quarta-feira a China de complicar a relação de Washington com a Coreia do Norte, num momento em que as negociações sobre a desnuclearização norte-coreana estão estagnadas e depois de suspender uma visita a Pyongyang de seu secretário de Estado, Mike Pompeo, prevista para esta semana. A visita foi cancelada depois que Pompeo mostrou a Trump uma carta do governo de Kim Jong-un afirmando que as negociações sobre o desmantelamento nuclear da Coreia do Norte corriam risco de fracassar.

"Em [se tratando de] alterar a verdade, e na lógica irresponsável e absurda, os Estados Unidos são os campeões do mundo", afirmou a porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying, ao ser perguntada sobre as palavras de Trump. "Washington deveria se olhar no espelho antes de criticar os outros".

Trump disse na quarta-feira,29, na Casa Branca que "a China dificulta muito a nossa relação com a Coreia do Norte", embora tenha ressaltado que sua relação com o presidente chinês, Xi Jinping, é ótima.

O presidente americano afirmou que "a Coreia do Norte está sob tremenda pressão chinesa por causa das disputas comerciais (dos Estados Unidos) com a China".

Também ressaltou sua "relação fantástica" com o líder norte-coreano, Kim Jong-un, com quem se reuniu em Cingapura em junho. Trump disse que não considera retomar os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul, que Pyongyang considera "uma provocação".

Aliado de peso

A China é o único aliado de peso de Pyongyang e a principal rota para os bens que entram na Coreia do Norte. Trump sugere que Pequim aliviou a pressão sobre o regime de Kim em resposta às sanções impostas por Washington. "Sabemos que China dá à Coreia do Norte uma ajuda considerável, que inclui dinheiro, combustível, fertilizantes e outros produtos básicos. Isso não ajuda!", tuitou o presidente.

Sobre o tema dos exercícios militares, que os Estados Unidos suspenderam como uma medida de "boa fé" depois da cúpula de Trump com Kim, o presidente disse que "não existe razão nesse momento para gastar grandes quantidades de dinheiro em jogos de guerra conjuntos entre Estados Unidos e Coreia do Sul", antes de acrescentar que as manobras poderiam ser retomadas em caso de necessidade.

As declarações do presidente americano sobre a questão dos jogos de guerra ocorreram um dia depois que o secretário da Defesa, James Mattis, disse que o Pentágono não planejava suspender mais exercícios militares - antes de voltar atrás na quarta-feira e afirmar que "não haviam sido tomadas decisões" a respeito.

Em junho, Trump e Kim expressaram o compromisso de alcançar a "completa desnuclearização da península coreana". Mas os esforços permaneceram estagnados nos últimos dias e, na semana passada, Trump ordenou o cancelamento de uma visita de Mike Pompeo a Pyongyang.

Pompeo declarou na terça-feira que Washington segue disposto a continuar com os contatos "quando ficar claro que o presidente Kim está pronto para cumprir os compromissos que assumiu na cúpula de Cingapura com o presidente Trump para desnuclearizar por completo a Coreia do Norte".

Fim da guerra

De acordo com o site de notícias americano Vox, Trump se comprometeu na cúpula de junho a assinar uma declaração para acabar com a Guerra da Coreia, mas agora a situação entre os dois países se encontra em um impasse sobre quem cumprirá primeiro seus compromissos. A Guerra da Coreia (1950-1953) terminou num armistício, e ainda é necessário um tratado de paz para terminá-la oficialmente.

Na quarta-feira, a porta-voz do Departamento de Estado Heather Nauert disse aos jornalistas que Washington acredita que "a desnuclearização deve ocorrer antes de chegarmos aos demais compromissos".

Visita

O Ministério da Defesa chinês disse ontem, 30, que o comandante da Marinha do país, Shen Jinlong, planeja visitar os Estados Unidos em setembro, em meio a um relacionamento cada vez mais tenso entre os dois países, seja no front econômico ou no diplomático.

Shen comparecerá a um fórum naval nos Estados Unidos e também fará uma visita de trabalho ao país, disse o porta-voz do ministério, Wu Qian, sem dar mais detalhes.

O anúncio de Pequim ocorre dois meses depois que o secretário de Defesa americano, James Mattis, visitou Pequim. Segundo a China, a visita de Mattis teve resultados positivos, e assim o ministro da Defesa chinês, Wei Fenghe, aceitou um convite para visitar os EUA antes do fim do ano.

Em maio, o Pentágono cancelou um convite à China para um exercício naval conjunto, citando manobras militares chinesas no Mar do Sul da China. A decisão de Washington irritou Pequim e foi abordada durante a visita de Mattis.

As Forças Armadas chinesas já alcançaram paridade com as americanas, e a Marinha asiática, se tornou, nos últimos anos, a maior do planeta.

Pequim e Washington também estão às turras em meio a uma guerra comercial, e a recente decisão de El Salvador de romper laços com Taiwan (que Pequim ainda considera parte de seu território) e estabelecer relações diplomáticas com a China se tornou mais um ponto de atrito.

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