Perda

Líderes repercutem a morte do senador John McCain

Aos 81 anos, o político sofria de um tumor no cérebro e havia decidido não prosseguir com o tratamento da doença

Atualizada em 11/10/2022 às 12h29
O senador norte-americano John McCain e vinha ultimamente sendo um crítico de Donald Trump
O senador norte-americano John McCain e vinha ultimamente sendo um crítico de Donald Trump (John McCain)

ESTADOS UNIDOS - Políticos e celebridades comentaram a morte do senador norte-americano John McCain, sábado, 25. Aos 81 anos, o republicano sofria de um tumor no cérebro e havia decidido não prosseguir com o tratamento da doença.

McCain teve um papel proeminente na política americana. Concorreu à presidência em 2008, quando perdeu para Barack Obama, e vinha ultimamente sendo um crítico de Donald Trump, mesmo fazendo parte do mesmo partido.

A doença foi tornada pública no ano passado, e em 24 de agosto deste ano sua família anunciou que o veterano político havia decidido não prosseguir com o tratamento.

John Sidney McCain III nasceu na Zona do Canal do Panamá em 29 de agosto de 1936. Filho e neto de almirantes da Marinha norte-americana, recebeu educação militar e se formou na Academia Naval dos Estados Unidos em 1958.

No primeiro semestre de 1967, foi para a Guerra do Vietnã. Estava casado com a ex-modelo da Filadélfia Carol Shepp e já era pai.

Em outubro daquele ano, aos 31 anos, McCain estava em sua 23ª missão de bombardeios quando um míssil arrancou a asa direita de sua aeronave, derrubando seu jato A-4 Skyhawk em espiral. McCain foi ejetado e desmaiou, retomando a consciência a 5 metros de profundidade em um lago em Hanói.

Estava com os braços e um joelho quebrados. Com os dentes, puxou os pinos para inflar o colete salva-vidas. Quando conseguiu chegar à margem, foi encurralado e levado para a prisão que os prisioneiros de guerra apelidaram de Hanoi Hilton. "Nenhum americano chegou a Hoa Lo em condição física pior do que a de McCain", disse John Hubbell, historiador especializado em prisioneiros de guerra no Vietnã.

Depois que os vietnamitas do norte perceberam que estavam com um filho de almirante nas mãos, enxergaram-no como uma ferramenta de propaganda que valia a pena explorar e lhe ofereceram o tratamento médico que antes haviam recusado. Mas McCain não colaborou com o plano deles.

Certa vez, quando os guardas lhe levavam a refeição, ele os recebeu com insultos. Seus gritos com xingamentos e afrontas chegaram a ser ouvidos por outros presos.

Solitária e espancamentos

Durante mais de cinco anos preso, sendo três deles na solitária, McCain tentou se suicidar duas vezes. Resistiu a uma série de espancamentos.

Nas celas compartilhadas, fazia encenações cômicas com os companheiros presos. Quando encarcerado sozinho, fazia com que histórias de filmes e livros passassem pela sua mente. "Casablanca" era um deles. "Tinha que me proteger com muito cuidado das minhas fantasias que se tornavam tão profundas que me levavam a um lugar permanente em minha mente do qual eu poderia nunca mais retornar", relatou ele.

Seus prontuários médicos registram que ele xingava os guardas quando eles interrompiam seus devaneios. "Ele apreciava tanto as suas fantasias", dizem os registros, "que ficava muito contrariado quando os guardas se aproximavam e o levavam de volta à realidade."

Como disse McCain, não há nada de heróico em ter o azar de ser atingido por um míssil. O que fez dele um herói aos olhos dos companheiros de prisão foi a sua recusa em aceitar a libertação antecipada enquanto os que estavam em Hoa Lo por mais tempo não fossem soltos.

Os responsáveis por sua prisão finalmente acabaram com a sua determinação, fazendo-o assinar uma confissão em que concordava em fazer a seguinte declaração caricata: "Sou um criminoso violento e realizei façanhas típicas de um pirata aéreo."

"Não conseguia controlar meu desespero", escreveu ele mais tarde. "Tremia, como se minha desgraça fosse uma febre. Todo meu orgulho estava perdido e eu tinha dúvidas se um dia conseguiria me defender novamente. Nada poderia me salvar."

Enfim, livre

Libertado pelos Acordos de Paz de Paris em 1973, voltou para casa de muletas, encontrando a esposa e o filho de muletas também: Carol havia sofrido um terrível acidente de carro, do qual ele só tomou conhecimento ao pisar em solo americano, e o filho havia se machucado jogando futebol.

McCain então aprendeu o funcionamento do sistema político em Washington trabalhando como contato da Marinha no Senado, na década de 70, ocupação que manteve até 1981. Seu casamento com Carol acabou como conseqüência de sua postura de mulherengo. Ele atribui a culpa ao "egoísmo e imaturidade." Ela, por sua vez, disse que o marido, prestes a completar 40 anos, aparentemente queria ter 25 anos de novo.

Um mês depois de se divorciar de Carol, McCain se casou com Cindy Hensley, filha de um magnata da indústria cervejeira de Phoenix, mudou-se para o Arizona e em pouco tempo mergulhou na política, conquistando uma cadeira na Câmara em 1982.

Chegou a ser foi acusado de ser um candidato “paraquedista” por concorrer a um cargo no Arizona, quando não era natural daquele estado. "Escuta aqui, meu amigo", rebateu McCain, "Passei 22 anos na Marinha... O lugar onde fiquei mais tempo em minha vida foi Hanói [no Vietnã]".

Quatro anos depois, foi eleito para o Senado dos Estados Unidos pela primeira vez. Desde então vinha sendo reeleito. Em 2004 teve quase 77% dos votos do seu estado.

No mesmo ano, contudo, ele foi derrotado por George W Bush nas primárias presidenciais do Partido Republicano. Na eleição seguinte, consegue ser escolhido o candidato republicano para a sucessão de George W Bush na Casa Branca, e acaba derrotado por Barack Obama.

A repercussão:

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

Apesar de não manter boas relações com McCain, que chegou a pedir para Trump não ir ao seu funeral, o presidente americano prestou suas condolências em mensagem no Twitter. "Meus mais profundos sentimentos e respeito vão para a família do senador John McCain. Nossos corações e orações estão com você", disse Trump.

Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos

Após a morte de McCain, Barack Obama e sua esposa Michelle Obama divulgaram um comunicado com apoio à família do senador.

"Poucos de nós foram testados do jeito que John foi, ou precisaram mostrar o tipo de coragem que ele teve. Mas todos nós podemos aspirar a coragem de colocar o bem maior acima do nós. No melhor de John, ele nos mostrou o que isso significa. E, para isso, estamos todos em dívida com ele. Michelle e eu enviamos nossos sinceros pêsames a Cindy e à família deles", comentou Obama.

McCain e Obama foram rivais à presidência norte-americana, em 2008, quando o democrata terminou eleito. O ex-presidente norte-americano não deixou de comentar os anos que compartilhou na política com o republicano.

"John McCain e eu fomos membros de diferentes gerações, de origens completamente diferentes e competíamos no mais alto nível político. Mas compartilhamos, para além de todas as nossas diferenças, uma fidelidade a algo superior - os ideais para quais gerações de americanos e imigrantes lutaram, marcharam e se sacrificaram", afirmou Obama.

"Vimos nossas batalhas políticas, até mesmo, como um privilégio, algo nobre, uma oportunidade de servir como administradores desses altos ideais em casa e promovê-los ao redor do mundo. Nós vimos esse país como um lugar onde tudo é possível - e cidadania como nossa obrigação patriótica de garantir que permaneça para sempre assim", completou.

George W. Bush, ex-presidente dos EUA

"Algumas vidas são tão intensas, que é difícil imaginar que elas terminaram. Algumas vozes são tão vibrantes que é difícil pensar que foram silenciadas. John McCain era um homem de profunda convicção e um patriota da mais alta ordem".

Bill Clinton, ex-presidente dos EUA

O ex-presidente Bill Clinton divulgou um comunicado em sua página no Twitter.

"O senador John McCain acreditava que todo cidadão tem a responsabilidade de fazer alguma coisa com as liberdades dadas por nossa Constituição, desde seu heróico serviço na Marinha até seus 35 anos no Congresso, ele viveu aquilo que acreditava todos os dias".

Jimmy Carter, ex-presidente dos EUA

"John McCain era um homem de honra, um verdadeiro patriota no melhor sentido da palavra. Os americanos serão eternamente gratos por seu serviço militar heróico e por sua inabalável integridade como membro do Senado dos Estados Unidos. Rosalynn e eu estendemos nossas sinceras condolências à família do senador McCain e ao povo do Arizona, que ele representou tão francamente por tantos anos".

Cindy McCain, esposa de John McCain

McCain se casou com Cindy Hensley, filha de um magnata da indústria cervejeira de Phoenix, em 1980, pouco antes de o senador mergulhar de vez na política. "Meu coração está partido. Eu tenho muita sorte de ter vivido a aventura de amar esse homem incrível por 38 anos", disse Cindy.

Arnold Schwarzenegger, ator e ex-governador da Califórnia

"Vou sentir muita falta do senador McCain, e meus sentimentos estão com toda a família de Cindy e do senador McCain. O que eu disse ontem importa ainda mais hoje. Cada um de nós deve lutar por sua dignidade, seu serviço, seu compromisso com o país. Ele nos mostrou o caminho", afirmou Schwarzenegger.

Sarah Palin, ex-governadora do Alaska

Palin concorreu como vice de McCain à presidência dos EUA, em 2008, e relembrou a parceria política com o senador.

"John McCain era meu amigo. Eu vou lembrar dos bons tempos. Minha família e eu enviamos orações por Cindy e pela família McCain", disse Palin, que

Mike Pence, vice-presidente dos EUA

Quando pediu para Trump não ir ao seu funeral, McCain disse que em seu lugar deveria ir o vice-presidente, Mike Pence, que também prestou condolências à família do senador.

"Karen e eu enviamos nossas mais profundas condolências a Cindy e a toda a família McCain pelo falecimento do senador John McCain. Honramos sua vida de serviço a essa nação em nossas forças armadas e na vida pública. Sua família e amigos estarão em nossas orações. Deus abençoe John McCain", comunicou Mike Pence.

Iván Duque, presidente da Colômbia

O presidente da Colômbia, Iván Duque, lamentou a morte do senador republicano em uma postagem em sua conta no Twitter.

"Lamentamos o falecimento do senador americano John McCain. Grande amigo do progresso e da defesa das liberdades. Sempre nos ajudou a fortalecer as relações entre os dois países. As nossas condolências a sua família e amigos"

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