Editorial

Trabalhar por conta própria vale à pena?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

A crise econômica vivenciada pelo Brasil nos últimos anos mostrou realidades de dificuldades por parte de quem produz (empresas) e de quem trabalha. Uma situação adversa como jamais se viu no país, pois somou-se a isso a instabilidade política, como uma bomba-relógio, prestes a explodir.

E nesse turbilhão de incertezas, de queda nas vendas, de redução de investimentos, o mercado de trabalho foi o mais afetado, chegando a quase 15 milhões de desempregados no país. Sem opção, por falta de oportunidade, muitos buscaram a alternativa de se ‘virar’ por conta própria.

Em 2017, pelo menos 23 milhões de pessoas desempregadas estavam nessa situação de buscar alternativa de trabalho, sendo que 5 milhões (23%) tinham se tornado conta própria há menos de dois anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua ) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Mas um aspecto que chama atenção é que o trabalho por conta própria cresceu na crise, mas em piores condições, conforme constatação do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ou seja, quem virou conta própria depois da crise encarou trabalhos menos protegidos, em postos menos qualificados e com remunerações 33% abaixo do que recebiam os que estavam há mais tempo nessa posição na ocupação.

Então, quem buscou empreender visando melhorar de vida ou mesmo atenuar uma situação financeira adversa, encontrou bem mais dificuldades nesse contexto de grave crise econômica, iniciada no fim de 2014 e que teve seu ápice em 2016 e 2017.

E mais: a maioria (52%) de quem se lançou para se tornar “chefe de si mesmo”, o fez em ocupações básicas, como faxineiros, pedreiros, preparadores de comidas rápidas, com baixos rendimentos, tendo trilhado esse caminho há menos de dois anos.

Na verdade, a pessoa que mergulhou na atividade de conta própria, nesse universo acentuado de crise, encarou trabalhos com menor proteção social, menos qualificados e com remunerações mais baixas.

Basta comparar os indicadores de por cor/raça e sexo entre os trabalhadores que se tornaram conta própria mais recentemente e os demais, para ver o abismo que os separa. Uma mulher não negra que era conta própria há menos de 2 anos recebia, em média, apenas 59% daquela com as mesmas características que estava há mais tempo nesse tipo de ocupação.

Outros indicadores que devem ser observados à luz do contexto pré e pós-crise, mostram que entre os que trabalhavam por conta própria há menos de dois anos, 77% não tinham CNPJ nem contribuíam para a Previdência Social, percentual maior do que o daqueles que estavam há mais tempo nessa posição.

E que menos de 9% possuíam CNPJ e contribuíam para a Previdência (situação em que se enquadra o microempreendedor individual, por exemplo). Como também cerca de 10% contribuíam com a Previdência, ainda que sem CNPJ, o que garante pelo menos alguma proteção social (como auxílio-acidente, licença maternidade/paternidade etc.), percentual também inferior ao daqueles que estavam há mais tempo (19%) atuando por conta própria.

Fica então o alerta para quem pretende empreender, que as condições de sobrevivência no mercado de trabalho são bastante diferenciadas em relação a quem está há mais tempo em atividade. Mas, por não terem nenhuma perspectiva, muitos enveredam pelo caminho de se tornar conta própria sem a menor noção do que o período pós-crise oferece de alternativa.

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