Artigo

Precificação de Carbono - a oportunidade que bate à porta

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30

Considerada como um tema etéreo demais por quem não está envolvido nos debates a seu respeito, a precificação de carbono está no centro de uma série de mudanças em curso no meio empresarial que devem se intensificar nos próximos anos. Apesar de ainda não existir um mecanismo global de precificação de carbono, formas de valoração vêm sendo testada no mundo todo, diante da certeza de que estamos caminhando inexoravelmente para uma economia de baixo carbono. O movimento que começou em 2005 com poucos países envolvidos no tema, ganhou consistência após o Acordo de Paris em 2015, e já é realidade em 45 jurisdições nacionais e 25 subnacionais, cobrindo 25% da emissão mundial, se espalhando pelas redes sociais com a hashtag #putapriceoncarbon.


De 1500 empresas que fazem precificação interna, 50 estão no Brasil. Mesmo em pequeno número, o País vem tendo o melhor desempenho entre os integrantes dos BRICs e é o que lidera hoje as expectativas globais para esse mercado.

Há um caminho a ser percorrido até que essa realidade se torne viável: é preciso regulamentar esse mercado no Brasil.

Novos investimentos na chamada economia verde, com destaque para energias renováveis, têm potencial de impulsionar 24 milhões de novos postos de trabalho até 2030, segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), “Perspectivas Sociais e de Emprego no Mundo 2018”. O estudo mapeou o potencial de geração de empregos no âmbito do Acordo de Paris e é taxativo: “a ação para limitar o aquecimento global a dois graus Celsius resultará numa criação de empregos muito maior do que o necessário para compensar as perdas de seis milhões de postos de trabalho em outros setores”.

Já estamos vendo essa revolução prática acontecer entre as empresas petroleiras. Vislumbrando o consenso de que a emissão do carbono vai ter um custo cada vez maior nas próximas décadas, essas companhias estão se transformando, diversificando portfolio e até mudando de nome para abarcar um espectro mais amplo da cadeia de energia, incluindo renováveis em seu negócio. Plantas de energia solar e eólica já estão entre as aquisições das petroleiras na Europa. Entre nossas associadas, temos o exemplo da Shell, que detém 50% da Raízen, maior investimento da empresa no mundo em energia renovável.

Não é porque é simpático ao público, ou apenas porque estão preocupadas com o meio ambiente que essas empresas estão se movimentando, mas porque a precificação é um poderoso instrumento para dar agilidade e flexibilidade para que as metas do Acordo de Paris sejam cumpridas. Há duas formas de valorar o carbono: tributos ou a criação do mercado, ou uma combinação dos dois. A primeira pode ser mais simples, mas a segunda garante a transparência necessária para fazer com que os recursos arrecadados com a precificação do carbono migrem diretamente para a energia renovável, de forma que a velha economia financie a nova, numa espécie de transição entre o ontem e o amanhã. E saber com que velocidade queremos chegar neste amanhã depende de decisões a serem tomadas agora.


Marina Grossi

Presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e integrante do Comitê de Direção do Carbon Price Leadership Coalition (CPLC)

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