Crítica

Trump sugere que Brexit não cumpre vontade popular

Americano diz que proposta do Reino Unido pode ter tomado um rumo diferente; Theresa May rebate comentário; eles se reúnem nesta sexta, 13

Atualizada em 11/10/2022 às 12h30
A premier britânica, Theresa May, e o presidente americano, Donald Trump, se reúnem hoje
A premier britânica, Theresa May, e o presidente americano, Donald Trump, se reúnem hoje (Theresa May e Trump)

LONDRES - Após uma cúpula intensa dos aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), o presidente americano, Donald Trump, chegou ao Reino Unido, ontem, onde vai se reunir hoje, 13, com a premier britânica Theresa May. Antes mesmo de chegar a Londres, Trump fez comentários incômodos sobre a condução do Brexit, processo de saída do Reino Unido da União Europeia. Trump sugeriu que o plano do governo britânico para deixar o bloco, apresentado formalmente ontem, não é exatamente o que o povo quer:

"Tenho lido muito sobre o Brexit nos últimos dois dias e parece estar se tornando um pouco diferente", disse o americano. "Eu diria que Brexit é Brexit. As pessoas votaram para se separar, então imagino que é o que eles fariam, mas talvez estejam tomando um caminho um pouco diferente. Não sei se é nisso que votaram".

Na época do referendo em que os britânicos votaram pela saída da União Europeia, em junho de 2016, o Brexit foi apoiado por personalidades que, nos Estados Unidos, participavam da campanha de Trump, entre eles Steven Bannon, criador do site de extrema-direita Breitbart News.

A premier britânica respondeu ao republicano antes de apresentar as propostas do seu governo para o Brexit ao Parlamento, dizendo que elas cumprem exatamente o desejo do povo britânico no processo de separação.

"O que estamos fazendo é entregar (resultados) segundo a votação do povo britânico. Este é nosso propósito", disse May à imprensa.

Imigração

A visita de Trump ao Reino Unido está prevista desde o ano passado. A viagem chegou a ser agendada em 2017, mas foi adiada devido a protestos contra a presença do presidente americano no país. Em Bruxelas, no entanto, Trump disse na entrevista coletiva que "acho que gostam muito de mim no Reino Unido", sobretudo por sua visão sobre imigração. Segundo ele, o tema foi crucial na campanha do referendo que aprovou por pequena margem a saída britânica da União Europeia.

" Acho que eles concordam comigo sobre imigração. Sou muito forte em imigração. Hoje eu defendi uma coisa. Disse: 'Vocês precisam parar. Vocês terão vários problemas. Veja o que está acontecendo pelo mundo com imigração. Eu provavelmente, pelo menos parcialmente, venci uma eleição por causa da imigração'. Acho que é por isso que o Brexit aconteceu".

Ele disse para os europeus tomarem cuidado com a imigração: "A imigração é uma coisa muito importante e hoje eu disse a eles, à UE, que é melhor a União Europeia ter muito cuidado porque a imigração está se apoderando da Europa (...) Disse em alto e bom som", afirmou Trump em entrevista coletiva.

Protestos à vista

Embora vá se hospedar na Winfield House, a residência do embaixador dos Estados Unidos perto de Regent Park, no centro de Londres, Trump evitará circular pela capital britânica, onde os protestos se concentrarão. Assim, os encontros com a primeira-ministra Theresa May e a rainha Elizabeth II serão na mansão de Chequers e no castelo de Windsor, respectivamente, ambos fora da capital.

O presidente e sua mulher, Melania, participaram ontem de um jantar de gala com empresários no Palácio de Blenheim, uma casa de campo perto de Oxford. Nela, em 1874, nasceu Winston Churchill, primeiro-ministro durante a Segunda Guerra Mundial.

Trump e May darão uma entrevista coletiva hoje, 13, e, no domingo, 15, o presidente americano viaja para Helsinque, na Finlândia, onde se reúne com o presidente russo, Vladimir Putin, na segunda-feira,16.

Segundo uma pesquisa do Instituto YouGov publicada ontem, 77% dos britânicos têm uma opinião desfavorável de Trump, 74% o consideram um sexista, e 63%, um racista. Quase metade das 1.648 pessoas entrevistadas acredita que a rainha não deveria recebê-lo.

Um balão gigante representando Donald Trump como um bebê flutuará nos céus de Londres durante a visita do presidente americano, depois da autorização do prefeito londrino, Sadiq Khan. Ele teve vários embates com Trump nas redes sociais. O balão de seis metros de comprimento do bebê Trump ficará a 30 metros de altura perto do Parlamento, entre as 9h30 e 11h30 de sexta-feira (5h30-7h30 no horário de Brasília).

No mesmo dia, haverá uma grande manifestação em Londres sob o lema "Unidos contra Trump", além de vários atos em outros pontos.

Relação pós-Brexit

Os dois países já têm interesse em aprofundar as relações após a saída do Reino Unido da UE. O embaixador americano em Londres, Woody Johnson, disse que o acordo comercial será "uma prioridade maior" para Trump, quando o Brexit se materializar, em março de 2019.

" Não há aliança mais forte do que nossa relação especial com os Estados Unidos e não haverá aliança mais importante nos próximos anos", disse a premier May, sobre a viagem de Trump. "Quando deixarmos a União Europeia, começaremos a traçar uma nova direção para o Reino Unido no mundo, e nossas alianças mundiais serão mais fortes do que nunca".

Em um artigo publicado no "Evening Standard", o prefeito de Londres escreveu que a relação especial "também significa se expressar quando pensamos que uma parte não está à altura dos valores que tanto apreciamos".

Pouco afeito aos protocolos diplomáticos, Trump já protagonizou, porém, várias divergências com May. Assim, o embaixador Woody Johnson teve de correr para explicar, na quarta-feira, a afirmação do presidente de que o Reino Unido vive "em plena tempestade", após a renúncia de dois pesos-pesados do Executivo por discordância sobre o Brexit.

"Há sempre tempestades em todos os países, mas não, não, acho que o Reino Unido age da mesma maneira que sempre fez", declarou o diplomata, interrogado pela BBC. "É um país muito seguro de si mesmo, um país muito capaz. Confiamos plenamente na capacidade do Reino Unido de resolver o problema do Brexit e passar para outra coisa", acrescentou, saudando a "extraordinária relação" que une Londres e Washington.

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